Doutor Drauzio Varella, aquele médico que estamos familiarizados com sua atuação no Fantástico, seguidamente trazendo explicações sobre doenças e tratamentos. Ele prevê “tragédia nacional” por coronavírus. O Brasil vai pagar o preço da desigualdade. O médico diz que se arrepende de ter sido otimista em relação ao novo coronavírus. Na época em que começaram a surgir as primeiras informações sobre o vírus na China, em dezembro do ano passado, ele diz que, como muitos considerou que se tratava de uma doença de baixa letalidade.
Para ele, vencer o avanço da pandemia no Brasil exigirá estratégias e obstáculos diferentes do que foi em países da Europa e Ásia. A principal peculiaridade brasileira é a imensa desigualdade social, que impõe condições de vida muito distintas para ricos e pobres, limitando o acesso de grande parte da população às práticas que previnem o contágio, como lavar as mãos, comprar álcool gel e praticar o isolamento social.
Há no país 35 milhões de brasileiros sem acesso à rede de água potável, segundo os dados do Instituto Trata Brasil de 2017. Em 2018, antes da crise do vírus, chegou a 13,5 milhões o número de brasileiros vivendo abaixo da linha de extrema pobreza, com menos de R$ 145,00 por mês. É esse o contexto que, na previsão de Varella, levará o país sem dúvidas a uma “tragédia nacional” durante a pandemia. No seu julgamento Varella considera que ‘nós brasileiros vamos ter, um impacto enorme na economia, uma duração prolongada, destaca também que a naturalização histórica das mazelas sociais será o principal determinante de tal tragédia.
“Agora é que nós vamos pagar o preço por essa desigualdade social com a qual nós convivemos por décadas e décadas, aceitando como uma coisa praticamente natural. Agora vem a conta a pagar. Porque é a primeira vez que nós vamos ter a epidemia se disseminando em larga escala em um país de dimensões continentais e com tantas desigualdades. Na pandemia fica mais evidente a ameaça da desigualdade a todos os segmentos da sociedade. Enquanto tivermos essa disseminação em lugares impróprios para a vida humana, você não se livra do vírus.
Acho que o sofrimento é uma pressão para o aprendizado. Todos nós vamos perder amigos, conhecidos, e muitos vão perder familiares. E isso vai nos ensinar que não é possível viver como vivíamos até aqui. E esse vírus vai levar muito tempo para desaparecer do contato com a humanidade.
Texto de Ligia Guimarães BBC News Brasil em São Paulo – 20 de abril de 2020
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