24/07/2020 às 08h27min - Atualizada em 24/07/2020 às 08h27min
Pacientes curados do Covid-19 sofrem preconceito
Confira entrevista com o coordenador de Cultura e Eventos, Nelson Tressoldi, e com a secretária de Educação, Ledi Ehrenbrink. Dois dos 43 contaminados em Campo Erê
Já são mais de 200 países, territórios e áreas independentes afetados pela pandemia. Do Brasil ao Japão, do Canadá à Austrália, da Europa à África, diversas pessoas sofrem com a disseminação de um vírus que já atingiu mais de 14 milhões de seres humanos e matou mais de 600 mil. Desde que se espalhou pelo mundo e chegou de forma intensa à mídia, os chineses e todos os infectados vêm recebendo críticas e sendo atacados.
São registrados constantemente casos de preconceito, xenofobia, racismo e de Fake News. Nos 5 municípios de circulação do jornal impresso Sentinela do Oeste há mais de 80 casos confirmados, destes, cerca de 60 curados. Ou seja, há mais de 50 pessoas que sofreram ou sofrem com as “doenças” que vieram junto do Covid-19. Dos curados, por enquanto, os entrevistados são de Campo Erê, município com mais casos contabilizados na região.
Nelson Tressoldi
O coordenador de Cultura e Eventos da Secretaria de Educação, Nelson Tressoldi, de 69 anos, foi contaminado com o Covid-19. Por mais que tratado como “diferente”, continuou o mesmo. “Assim que terminou o tempo de isolamento eu voltei à prefeitura, no dia 13, fui tratado de forma diferente. Muitos dos funcionários passavam longe. Eu disse que não precisava se preocupar, mas por um tempo, continuaram me tratando como se fosse uma peste”, conta.
“Os sintomas que senti foram os comuns. No dia 29 de junho fiz a coleta do material para o teste, este de secreção nasal e oral. Vinha me cuidando, faço parte do grupo de risco e não sai do município. Fui infectado aqui mesmo. Fiquei 15 dias em casa, junto da minha esposa que também apresentou os sintomas, só que ela não fez o teste, os protocolos da Saúde a isolaram automaticamente”, acrescenta ressaltando que durante o período de recuperação foi tratado com azitromicina, ivermectina, corticoide e aspirina.
Nelson está em Campo Erê há mais de 40 anos e destaca que todos os pacientes com essa ou outra doença devem ser tratados como são: humanos. “Se estivesse no grupo dos que ainda não foram infectados, com certeza, não trataria os que estão da forma como me trataram. Devemos tratar as pessoas como seres humanos e não como alguém que deve ser excluído porque adquiriu uma doença”, esclarece complementando que esse é o momento de aceitar as individualidades e aprender a conviver.
Ledi Ehrenbrink
A secretária de Educação do município, Ledi Farias Ehrenbrink, também foi uma das contaminadas pelo vírus. Junto dela, sua filha mais nova, Sofia Gabriela. “Não sai do município e me cuidei bastante. Fiz o teste por causa da minha filha que apresentou os sintomas, onde também fui contaminada. Na minha família e as pessoas com quem eu trabalho deram negativo”, enfatiza complementando que positivou na primeira semana de julho e voltou a trabalhar na semana passada. Os sintomas foram os comuns da doença.
O esposo Adir também fez parte do isolamento. “Sentimos o preconceito principalmente quando ficaram sabendo. As pessoas ligavam para pedir quais os sintomas que tivemos. Quando voltei as pessoas continuaram com receio. Levei bastante na esportiva, por isso não fiquei incomodada”, ressalta enfatizando que após ter sido contaminada, perdeu o peso sobre os ombros. “Tinha muito medo de pegar, mas depois que peguei e me curei, me senti aliviada. Minha filha melhorou mais rápido, eu sofri um pouquinho. Mas agora está tudo bem”, finaliza.