A primeira mulher a assumir a administração pública de Campo Erê, Rozane Bortoncello Moreira, de 44 anos, completou nesta segunda-feira, 1, o primeiro mês de seu governo. Durante entrevista ao Sentinela, a ex-vereadora frisou vários temas ligados à gestão, confirmando o corte de gastos e as pendências deixadas pela antiga administração. Além da organização das primeiras equipes designadas, das contas bancárias e da situação gravíssima do parque de máquinas, que estava totalmente comprometido. Acompanhe a entrevista:
Como avalia seu primeiro mês de governo?
Os primeiros dias são muito intensos para uma administração. Precisamos organizar as equipes, as documentações, as contas bancárias e, aos poucos, pautar a situação real do município. Começamos organizando os setores, de modo que se torne real tudo aquilo que prometemos e se comprometemos na campanha. Afirmo que quando assumi o Executivo, encontrei diversas dificuldades que não previa. Estava ciente de algumas, porque quando vereadora, da gestão de 2016 a 2020, consegui acompanhar a administração, mas não imaginei que fosse tão sério.
Há muitas dívidas e pendências, coisas que o município perdeu por falta de organização administrativa, como um decreto de calamidade sobre a estiagem, que foi feito no município mas não foi informado ao Estado, fazendo com que perdêssemos os recursos. Há muitas perdas que possivelmente nunca poderão ser reparadas.
Compartilhou em suas redes sociais que o parque de máquinas estava em situações gravíssimas. Como se encontra agora?
O que mais impactou o início da gestão foi avaliar esse cenário. Quando fizemos o levantamento da condição real, constatamos que nada funcionava. A única coisa que estava rodando era o caminhão que transporta água, mas porque retirou os pneus de um ônibus da Educação. Estivemos buscando emendas parlamentares para melhorar essa situação. Temos três retroescavadeiras, três patrolas, três tratores, uma escavadeira hidráulica, dois rolos compactadores, três caminhões e todos os implementos, sem condições de uso.
Mandamos todos para a avalição e agora estamos aguardando os orçamentos. Há maquinários que a reforma pode somar R$ 100 mil. O agricultor está com estradas ruins, problemas de longa data, precisando de serviços que o município não consegue prestar. Foi recuperado apenas um trator para fazer a silagem, mas não tem a retro para fazer o buraco para colocá-la. Não dá mais para pedir paciência para o agricultor, porque ele cansou de ter paciência. A situação é de calamidade e temos um orçamento bem pequeno na Secretaria de Agricultura, mas estamos correndo atrás de melhorar, porque temos um compromisso com o agricultor e vamos atender.
Quais as mudanças na Secretaria de Saúde?
Começamos nomeando a nova secretária, Rosalva Boligon, seguindo para a renovação de contratos e convênios com o hospital local e os da região, que atendem as especialidades que ainda não existem em nosso município. Garantimos também que, muito em breve, novos atendimentos sejam trazidos para cá. A demanda está alta, então neste primeiro mês está complicado, mas projetamos a melhora nos investimentos, principalmente no atendimento. Também conveniamos o transporte aéreo, com helicóptero, para pacientes que podem necessitar de agilidade na consulta e precisam ir para outras cidades.
E na Educação?
Nomeamos a secretária Rosangela Moccelini. Fizemos todo o levantamento da situação dos ônibus e estamos mandando para o conserto. Vimos também a estrutura física de todas as escolas, onde estamos executando todas as reformas necessárias antes do retorno das aulas. Projetamos um investimento bem amplo para a Secretaria, temos diversos projetos, como incrementar gradativamente o tempo integral nas creches, e aumentar o número de vagas. Ainda não nomeamos ninguém para a Secretaria de Assistência Social.
Entramos com o compromisso de reduzir os investimentos em folha de pagamento. Historicamente, o nosso município sempre ultrapassou o limite legal da lei de responsabilidade fiscal, gastando muito com salário do servidor. Queremos valorizar o servidor efetivo, por esse motivo, escolhi secretários e diretores que já eram do quadro, no intuito de reduzir custos, de enxugar a folha e nomear menos comissionados.
Como ficou a Secretaria da Cidade e Desenvolvimento?
Para essa, com muita alegria, designamos nosso vice-prefeito Roque Mello, que estará à frente dos trabalhos, contribuindo para o desenvolvimento do município. Sabemos que assumimos o compromisso de que o vice seria tão atuante quanto a prefeita, e por isso estamos repassando essa função a ele, que é muito importante e necessária. Essa pasta é responsável por toda limpeza da cidade, iluminação, pavimentação, indústria e comércio.
Na área social, há uma situação bem séria que é a habitação municipal. Vamos nos esforçar para atender da melhor forma possível. A nossa cidade, assim como tem um potencial econômico grande, com grandes produtores rurais, tem muitos problemas e tem uma parcela da população que ainda é muito pobre, demandando muito da Assistência Social. Estamos com cinco Secretarias e designamos apenas três secretários.
Aliás, está sendo revisado toda a questão tributária, para melhorar os serviços no setor. Já garantimos a disponibilidade de mais serviços on-line, para facilitar a vida do contribuinte e migrar para a internet, diminuindo o fluxo de pessoas na prefeitura. Já começamos trabalhando forte na busca de recursos para executar obras de pavimentação asfáltica e melhor as estradas do interior. A arrecadação local ainda é muito baixa e por isso estamos buscando recursos externos, que serão convertidos na construção de barracões, prezando a possibilidade de novas indústrias no município.
Uma das questões que também precisam ser resolvidas é a falta de emprego no município. Muitos munícipes se deslocam para trabalhar em outras cidades, tendo que gastar com o deslocamento; se tiver oportunidades de emprego aqui, você fixa as pessoas no município, se não, aos poucos, irá perdendo todas. Possuímos um grande compromisso em melhorar o aspecto urbano da cidade, como a iluminação pública de led, que pretendemos trazer para cá. Neste momento, focamos na geração de emprego e renda, que é onde o movimento econômico começará a melhorar e, consequentemente, os serviços também.
Ainda não temos a coleta de lixo seletivo e diversos outros serviços necessários. Tem muita coisa para se fazer no município, em todos os âmbitos. O desafio é bem grande e estamos buscando uma equipe empenhada com o trabalho, proativa, que visualize além da causa e ajude a fazer mais pelo município. Campo Erê está localizada num local alto, bonito, que tem terras planas e produtivas, tem tudo para desenvolver muito mais. A cidade está centralizada, e poderia ser chamada como polo, pela quantidade de cidades memores a sua volta. Isso precisa ser explorado e melhorado.
O que podemos esperar da sua gestão?
Transparência, honestidade e cuidado com o recurso público. Estou otimista pela relação que possuo com a Câmara de Vereadores, uma vez que já fui vereadora e que meu vice também. Entendemos o funcionamento e pretendemos estreitar a relação, porque são dois poderes distintos, mas que normalmente atuam com o mesmo objetivo e que as vezes caminham em direções contrárias. Estou disposta a essa união.
Desejo que a população abrace a causa comigo, independente de questões partidárias. A eleição já passou, agora é hora de trabalhar, ninguém faz nada sozinho, muito menos eu. Estou agarrando as causas reais do nosso município e pretendo melhorar a situação. Além disso, sou a primeira mulher prefeita por aqui. Foram cerca de 60 anos de gestões masculinas. Mas nesta houve uma certa mudança; pessoas jovens e mulheres se candidataram. Recordo que uma das atitudes do dia da posse foi substituir a cadeira preta do gabinete por uma branca com detalhe rosa.
Realmente, a mulher também está garantindo seu espaço. Ela tem capacidade administrativa, mas sofre um preconceito muito grande, por sempre vir o comentário de que não dará conta. A mulher vem provando que é capaz, que faz política do seu jeito, do seu modo de fazer as coisas, de ajudar, de olhar para todos com outros olhos. Maior parte da nossa população é feminina, e poucas se candidataram e foram eleitas. Desejo que minha gestão possa ser incentivo para outras mulheres, que um dia sonharam chegar onde cheguei.
De professora a prefeita
Rozane é formada em pedagogia, atuando na área por 25 anos, com três pós-graduações, mestrado em educação financeira e cursos sobre gestão financeira, escolar e empreendedora. Já atuou como diretora de escola e secretária de Educação. Entrou na vida política a pedido da população. Se candidatou a vereadora em 2016, sendo a mulher mais votada na história de Campo Erê. Atuando de forma firme, dedicada e comprometida, porque sentia que possuía uma responsabilidade imensa diante da votação expressiva que conquistou, sendo professora.
Segundo ela, sua gestão trouxe visibilidade e os pedidos para que assumisse o compromisso de disputar um cargo Executivo. A princípio, se candidataria, novamente, a vereadora, mas os diálogos partidários a incentivaram a algo maior. “A eleição foi um comparativo de Davi contra Golias. Não tinha grupo financeiro por trás ou estrutura administrativa, contra um grupo historicamente constituído. Minha campanha foi de diálogo, visitas, de ‘chinelo e saliva’, fazendo a diferença”, comenta ressaltando que o resultado foi de 1.433 votos.
“O número somou o resultado dos outros quatro candidatos. Isso, com toda certeza, aumenta a minha responsabilidade no sentido de corresponder bem toda essa confiança depositada pela população. É dessa forma que desejo agir, levando em consideração todo esse desejo que as pessoas têm do município trilhar um rumo de desenvolvimento”, finaliza.
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Esta entrevista foi realizada na primeira quinzena deste mês, e a contabilidade municipal ainda não havia concluído os processos de 2020, sem ter divulgado os recursos deixados em caixa, pela antiga administração. Rozane esclarece que há muitas obras iniciadas e ainda não concluídas, indiferente do valor, segundo ela, será convertido há esses trabalhos, como o pagamento de contas pendentes. Houve o depósito de emendas parlamentares indicadas pela prefeita e seu vice, que também serão convertidas a liquidar pendências, que devem ser quitadas até os próximos dias. Os valores ainda não foram divulgados.