Com 36 anos de serviço, Veiga continua na ativa, escrevendo sua história no Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Santa Catarina. (Foto: Sofia Bertolin) Com 36 anos de serviço como Bombeiro Militar, subtenente Jair José Rodrigues da Veiga, mais conhecido como Veiga, possui uma carreira moldada pela dedicação e pela resiliência. Atualmente, aos 60 anos de idade, ele atua no município de Anchieta e continua comprometido com sua profissão. Nesta edição, o Sentinela traz um trecho da história de Veiga.
Veiga, nasceu em 10 de julho de 1964, no município de Campo Erê e cresceu em Dionísio Cerqueira. Sua carreira como bombeiro militar iniciou em 1987. Com 23 anos ele ingressou no Curso de Formação de Praças do Corpo de Bombeiros, em Florianópolis. No ano em que concluiu o curso foi encaminhado para Chapecó, onde trabalhou por três anos até ser transferido para Dionísio Cerqueira.
Na época havia poucas unidades do Corpo de Bombeiros na região do Extremo Oeste e, com objetivo de expandir a atuação do Corpo de Bombeiros, Veiga foi designado pelo comandante da 2ª Companhia de Dionísio Cerqueira, juntamente com o então 3º Sargento Bombeiro Militar Claudir e o Cabo Bombeiro Militar Osni Pereira, para iniciar as conversações e tratativas para instalação de um quartel em São José do Cedro. Após um ano de negociações a implantação da unidade foi efetivada.
Veiga retornou para Dionísio Cerqueira como Soldado Bombeiro Militar e Diretor de Esporte do Bairro 1º de Maio. Nessa época fez parte da comissão – composta por bombeiros e população – para construção da nova sede do Corpo de Bombeiros de Dionísio Cerqueira, em um local estratégico no Centro da Cidade, onde atualmente se encontra a 2ª Companhia.
Tão logo a concretização de mais essa conquista, em 2002, Veiga foi para a cidade de Palmitos, tendo como comandante o 1º Sargento da Polícia Militar, Airton Costa. Em Palmitos, ele teve como objetivo concretizar a instalação de um Grupamento de Bombeiros.
Em 2005 Veiga retorna à Dionísio e permanece até 2008, quando ingressou no Curso de Formação de Cabos na cidade de Chapecó. Em 2013 ele assumiu o comando do Grupamento de Bombeiros de Palma Sola e ajudou nas tratativas para instalação da Organização Bombeiro Militar (OBM).
Em 2016, após 33 anos de serviço, aos 52 anos, Veiga ingressa no Curso de Formação de Sargentos. Com a conclusão do curso ele assumiu o comando da OBM de Anchieta e ali permanece.
Nestes 36 anos de profissão, Veiga se formou em Gestão Pública, com pós-graduação em Gestão do Trabalho, e como Auxiliar em Enfermagem. Em grande parte de sua carreira atuou na atividade operacional, mas possui vasta experiência com projetos sociais, ajudando e formando diversas turmas de Bombeiros Comunitários, Bombeiros da Terceira Idade, Bombeiros Mirins, do Curso Básico de Atendimento a Emergências (CBAE) e do Curso Avançado de Atendimento de Emergências (CAAE).
Veiga é pai de três filhos, Alisson, Alex e Anderson. Dentre eles um bombeiro militar, formado no Curso de Formação de Sargentos do Corpo de Bombeiros, turma de 2017.
Hoje com 36 anos de tempo total de serviço, ainda na ativa, continua a escrever sua história no Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Santa Catarina.
Porque escolheu ser bombeiro? Nós que somos filhos de pessoas humildes não temos muita escolha, a gente tem que buscar sempre o melhor. Trabalhava em Foz do Iguaçu, em uma vidraria, era bem puxado, achei que podia buscar algo melhor.
Em 87 fiz o concurso e passei, então fui para o Curso de Formação de Praças do Corpo de Bombeiros. Quando entrei no curso, entrei para ser condutor de veículo de emergência. Nessa época o meu irmão mais velho já era bombeiro e passou no curso de sargento, então aproveitamos e fomos morar juntos em Florianópolis. Além do meu irmão, tenho mais dois primos bombeiros militares.
Então não digo que foi uma escolha, mas sim uma oportunidade que apareceu. Dei sorte de passar no concurso, que era bastante disputado, na época eram oito vagas para nossa região e eu passei como sexto colocado.
Então na época não fiz muita escolha, mas depois que entrei na instituição, eu amei, amo o que faço, tanto que estou aqui até hoje. Quando me perguntam sobre a aposentadoria sempre falo não sei. Estou apegado, essa é a minha vida. Estou me preparando para desapegar e deixar para os mais jovens.
Você se imagina em outra profissão? Acho que não teria problemas em seguir outra profissão, tanto é que antes de ser bombeiro, trabalhei com outras coisas. Comecei a trabalhar bem jovem e com tudo, puxava maçã da Argentina para vender, trabalhei em empresas, fui pintor, encanador, cortador de pedra, dirigi caminhão.
Qual a rotina de trabalho do bombeiro? Dividimos em duas partes: rotina de expediente e rotina de guarnição. O expediente é a parte burocrática da instituição. A guarnição é o atendimento ao público, na área de primeiros socorros, combate a incêndio, o que chamamos de operacional.
Quem trabalha no operacional trabalha em uma escala de 24h - 72h. Trabalha 25h e folga 72h. O pessoal do expediente trabalha todo dia, exceto feriados e final de semana.
Temos grupamentos, batalhões, companhias e pelotões. Em Anchieta, Palma Sola, Guaraciaba e Campo Erê temos grupamentos, então nosso efetivo é pequeno. Então o comandante e a guarnição fazem tudo, a parte burocrática e os atendimentos às ocorrências.
O que mais o bombeiro faz? O trabalho do bombeiro é bem abrangente, temos o trabalho das vistorias, por exemplo. Dos sistemas preventivos, que chamamos de SCI – Segurança Contra Incêndio, onde fazemos as vistorias para liberar o funcionamento de um estabelecimento. Hoje nenhuma obra sai sem que antes passe o projeto pelos bombeiros.
O que mudou da época em que se formou para hoje? O bombeiro vem sofrendo as transformações e melhorias da tecnologia, um dos exemplos é que as chamadas para o Corpo de Bombeiro foram centralizadas. Temos uma central em Chapecó, as ligações caem lá e de lá é distribuído o trabalho.
Agora estamos partindo para uma centralização nesse lado das vistorias. O morador não precisa mais se deslocar ao quartel hoje, para pegar um atestado de vistoria ou liberação de funcionamento. Hoje tem a possibilidade de fazer tudo on-line dando um pouco mais de comodidade para as pessoas, já que você consegue tirar de casa. A vistoria ocorre, mas posterior a isso, dessa forma, o proprietário do estabelecimento assume uma responsabilidade junto ao bombeiro.
O que eu vejo hoje e que na minha época não tinha muito, é a introdução da mulher dentro da instituição que é o bombeiro. Hoje temos comandantes de batalhão que são mulheres. Hoje tem mais material de trabalho, mais equipamentos e viaturas, o pessoal vem melhor preparado, com nível superior. As coisas mudaram e para melhor.
Uma das exigências para ser bombeiro hoje é ter nível superior, ficou mais concorrido? Funcionário público hoje, em várias esferas, polícia, polícia federal, magistério, receita federal, o que é para o lado público é concorrido, e é uma escolha.
Na minha época só exigiam o segundo grau, agora já pede um ensino superior, a pessoa precisa ter uma faculdade, então a concorrência é maior. As vagas são menores. Na minha época saia até dois cursos por ano, hoje é mais difícil, nós temos em andamento um curso de soldado.
É dividido em duas partes: o curso, para praças e para oficialato. De praça você se forma como Soldado e atinge até o cargo de subtenente, que é o cargo máximo para um praça. Na linha de oficialato você vai de Aspirante até Coronel. Para os dois você tem que fazer concurso. Mesmo eu já sendo soldado, para chegar à oficial eu vou ter que fazer concurso. Quem tem essa ambição de chegar ao oficialato tem que se esforçar.
Você acha que a profissão do bombeiro valorizou? Eu não posso me queixar. Claro que a primeira coisa que a gente aconselha, em qualquer profissão, é: gaste menos do que ganha. O funcionário tem o valor X no final do mês, diferente do empresário que hoje pode estar um pouco apertado, mas amanhã dá um salto e essa situação muda. Se gastar menos do que ganhar, você estará tranquilo financeiramente.
Qual a situação mais difícil que enfrentou nesses anos de profissão? Foram muitas situações difíceis, acidentes com crianças, jovem preso às ferragens. Quando temos jovens, menores de idade, aí o pai leva surpresa porque o filho saiu à noite, pegou o carro escondido e de repente está em óbito ou preso às ferragens. Em alguns casos nós somos impotentes e infelizmente não há muito que possamos fazer.
Em toda minha carreira peguei vários acidentes graves. O que acontece é que o bombeiro cria uma barreira, somos obrigados a fazer isso, caso contrário ficamos doentes, entramos em depressão. Nesses meus anos de carreira criei uma barreira, até porque a gente também é pai, tem família e se preocupa com eles.
Tem algum conselho pra quem quer seguir carreira como bombeiro? Persiga seus sonhos e não desista do que sonha, porque é mais fácil olhar para trás e se arrepender de ter feito do que de não ter feito. Eu sempre fui insistente no que quero fazer até o fim. Vai ter empecilhos e vai ter pedras, mas o importante é rolar essas pedras para o lado e seguir em frente, sem desistir.
Você falou que está se preparando para aposentadoria, quando pensa em se aposentar? Estou com 60 anos, já estou idoso, tenho vaga preferencial garantida [brinca]. Estou quase deixando o posto para os mais novos. Pretendo sim me aposentar, mas ainda não planejei a minha aposentadoria. Vou começar a planejar.
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