25/05/2024 às 11h00min - Atualizada em 25/05/2024 às 11h00min

Uma vida dedicada ao trabalho

Fátima começou a trabalhar na farmácia Cassol aos 17 anos. Aos 58 anos ela se aposentou e recorda com carinho dos mais de 40 anos de trabalho dedicado à empresa

Depois de 40 anos Fátima se aposenta e se despede da Farmácia Cassol. Agora a avó Fátima se dedica a neta e aguarda ansiosa a chegada de mais dois netinhos. (Foto: ASO/Igor Vissotto)
Com 41 anos dedicados ao trabalho na Farmácia Cassol, Ivonete de Fátima Ahmann da Silva, carinhosamente chamada apenas de Fátima, é uma figura conhecida e respeitada pelos moradores de Palma Sola e região. Nascida em 6 de novembro de 1965, Fátima, aos 58 anos, possui uma bagagem de experiências que reflete não apenas uma trajetória profissional, mas também uma vida marcada por desafios, superações, tristezas, alegrias e principalmente, gratidão.
Fátima começou a trabalhar aos 17 anos, no antigo Cabral, na Av. Crstani. Após alguns meses o destino a levou para a Farmácia Cassol, de propriedade do falecido Alvino Antônio Cassol. A farmácia ficava onde era o antigo Salão da Ana, hoje seria em frente à loja Hagara modas
A contratação, ainda de maneira informal, ocorreu em 1980, através da dona Líria, esposa de Alvino. Inicialmente Fátima cuidava do depósito, ajudando a organizar e armazenar mercadorias. “Vinham muitas e muitas caixas de mercadoria, como era uma das únicas farmácias do município, vendia muito”, recorda Fátima.
Em 83 a farmácia foi para outro endereço, onde continua até hoje. A partir daí, Fátima passou a trabalhar com carteira assinada. Esta foi e é, a única assinatura em sua carteira de trabalho. 
Na época, o proprietário, Alvino Cassol, conseguiu o provisionamento, o documento atestava que ele era farmacêutico prático, lembrando que seu Alvino não possuía diploma de farmacêutico. Como provisionado, ele poderia responder pela farmácia, mas não podia vender medicamentos controlados. Fátima conta que a relação com Cassol era marcada por momentos desafiadores, mas também por ensinamentos valiosos. Ela recorda com gratidão a oportunidade de aprendizado que teve ao lado de Cassol e de outros colegas de trabalho. “As colegas de trabalho sempre foram muito importantes do dia a dia. Nos divertimos muito, já sinto falta das meninas que estavam trabalhando comigo” finaliza.
Há época, Fátima passou a trabalhar com atendimento ao público e com carisma e dedicação, conquistou a confiança dos clientes ao longo dos anos.
Dois anos após ter a carteira assinada, Fátima engravidou do namorado Floriano, popular Nego, que trabalhava como segurança no Banco do Brasil. O casal se conheceu em 84, há época, Nego tinha outras paqueras. “Dei um jeito de ficar com ele só pra mim”, brinca Fátima.
Após um ano juntos, o casal engravidou do primeiro filho, infelizmente, Fátima sofreu um aborto espontâneo aos 5 meses de gestação e perdeu o bebê. Eles superaram o trauma e continuaram juntos, se casando em 13 de abril de 85. Um ano depois, Fátima engravidou novamente.
“Lembro que chorei muito, com medo de perder o bebê novamente. Graças a Deus tudo ocorreu bem, lembro de ter trabalhado no sábado, no domingo à noite a bolsa estourou e o Bruno nasceu. 40 dias depois já estava de volta ao trabalho”, relata Fátima.
Tempos depois, Fátima engravidou novamente e teve a filha Camila. Ela conta que tinha uma sobrinha moreninha e sonhava em ter uma menininha igual. “A Camila veio assim, moreninha. Ela e o Bruno foram crianças sadias e felizes”.
De volta ao trabalho, com sua capacidade de lidar com as pessoas e de oferecer um atendimento personalizado, Fátima tornou-se uma figura querida e respeitada na comunidade. Fátima também se destacava pela sua lealdade e comprometimento com o trabalho. Mesmo diante de propostas para trabalhar em outros lugares, ela optou por permanecer no Cassol, por consideração à família Cassol e pela estabilidade que encontrava ali.
“No começo pensava que havia me acomodado, mas eu me sinto realizada, mais do que se tivesse feito uma faculdade. Me considero uma pessoa feliz pelo carisma que eu tenho. Gosto de conversar com as pessoas, escutar o que as pessoas têm para dizer. Gosto de ligar com gente”.
Ela descreve que é importante dar atenção para o cliente, mostrar os produtos e conversar. “Você pode ter mil problemas em casa, mas quando o cliente chega você tem que estar sorrindo e ter simpatia”, afirma. 
Com o passar dos anos, Fátima passou a conhecer os clientes, seus problemas e os medicamentos que cada um tomava. Ela recorda que, quando faltavam moedas, o troco era dado em comprimidos. “Uma vez a dona Alice foi comprar remédio, faltou troco e eu dei em lactopurga, mas dei muito troco e ela acabou saindo da farmácia com lactopurga para um mês”. 
Aos 59 anos seu Alvino faleceu e assumiu a farmácia o seu filho, Luiz Antônio Cassol. Fátima relata ter visto Luiz Antônio crescer dentro da farmácia. “Conheço ele desde os três dias de vida. Ele e o Bruno brincavam juntos quando eram crianças”, recorda ela, que é madrinha de Luiz.
Com mais de 40 anos na empresa, ela acompanhou os altos e baixos, bem como, as mudanças e evolução do ramo farmacêutico. Ela cita como exemplo o programa farmácia popular, que possibilita a entrega de medicamentos de maneira gratuita, algo que não existia antigamente. Outro fato citado por ela, é que hoje as farmácias não vendem apenas medicamentos, o setor agregou as áreas de perfumaria, cosméticos, beleza e higiene.
“Também tem mais farmácias que antigamente. Independente disso, compramos cada vez mais remédios, então a farmácia sempre foi bem”, acrescenta Fátima.
A aposentadoria, em 2016, marcou o fim de um encargo profissional, mas não o fim do seu vínculo com a farmácia. Mesmo após se aposentar, Fátima continuou trabalhando até 2019. Depois passou a trabalhar meio período.
Fátima explica que passou a trabalhar em meio período para poder ir desacostumado à rotina. “Passei uma vida ali na farmácia, não é fácil me desligar”, enfatiza.
Outra motivação foi a sua mãe, que nos últimos anos de vida demandava maiores cuidados. “Ficava com ela de manhã e minha irmã, Ivete, que já cuidava dela antes, ficava de tarde. A relação com minha mãe era muito boa, ela era uma pessoa boa, que não sabia dizer ‘não’, nem falar mal dos outros. Acredito que deveria ter ido cuidar e desfrutar dela antes, esse é um dos meus arrependimentos”, relata Fátima.
Já sobre suas alegrias, ela conta que primeiro foram os filhos e agora é a netinha Isis. Fátima fica com ela durante as manhãs: “Eu não quero ficar com ela só para cuidar, eu quero brincar e curtir a Isis, vou passear e bagunçar. Quero bagunçar ela, são os pais que vão criar, eu vou bagunçar”. Na última semana a avó Fátima comemora a vinda de mais dois netinhos, são gêmeos do filho Bruno e da nora Dodi.
Nos últimos dias, Fátima de fato se aposentou. Sobre essa nova fase da vida, para qual se prepara já há oito anos, Fátima informa que há muita incerteza. Ela pratica pilates e quer fazer mais atividades físicas, para não ficar parada, um dos planos é ajudar o marido Floriano, que se aposentou como segurança e abriu uma empresa de entrega de gás e água.
Questionada sobre a palavra que define sua trajetória de vida e sobre o que é preciso para ter uma vida feliz, Fátima afirma: “Gratidão, ser grata é ser feliz. Sou muito grata, grata ao trabalho, aos aprendizados, aos meus colegas de trabalho, à minha família, aos meus filhos e netos e ao Nego”, finaliza Fátima.
 
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