03/06/2024 às 09h00min - Atualizada em 03/06/2024 às 09h00min

De office boy a empreendedor de sucesso

Marciano Perondi começou sua empresa importando e vendendo meias, hoje ele importa e revende mais de 300 itens de decoração e mobiliário, o destaque são as cadeiras. Atualmente ele está criando uma nova marca, através dela, pretende importar produtos diversos, inclusive eletrodomésticos

Sofia Bertolin
São José do Cedro
A empresa, localizada em São José do Cedro, fornece produtos para todo o Brasil. (ASO/ Sofia Bertolin)
Marciano Perondi, 42, natural de São José do Cedro, iniciou sua vida profissional aos 9 anos como office boy em um despachante. Dos 15 aos 18 anos, foi estagiário no BESC (Banco do Estado de Santa Catarina), seu próximo emprego foi em uma fábrica de lingerie, onde trabalhou por seis meses ao lado da mãe. Depois, trabalhou seis anos na cooperativa Sicoob e outros seis no Bradesco. Em todos esses anos trabalhando como empregado, Marciano sempre sonhou em empreender, em ter a própria empresa e vender para milhares de pessoas.
Buscando realizar esse sonho, em 2012, ele fez sua primeira viagem à China, ainda trabalhando no Bradesco, com objetivo de encontrar um produto para importar. Inicialmente ele decidiu importar meias. Marciano não contava com a concorrência dos produtos que vinham do Paraguai e da 25 de Março [de São Paulo], o que fez seus produtos chegarem ao Brasil com um custo elevado e assim ele não conseguir ser competitivo o suficiente. Diante das dificuldades de venda, ele diversificou seu portfólio; passou a importar cintas, carteiras, necessaires e guarda-chuvas, mas não alcançou o sucesso esperado.
Persistente, Marciano investiu seu capital restante em cadeiras. Para financiar essa nova tentativa, ele obteve um empréstimo de R$ 100 mil no Bradesco. Quando o primeiro container de cadeiras chegou, a alegria se transformou em frustração: as cadeiras cromadas haviam sido mal embaladas, resultando em danos pela maresia durante o transporte. Cerca de 95% do lote ficou inutilizado, Marciano enfrentou um grande desafio financeiro, agravado pela chegada iminente de um segundo container nas mesmas condições.
Determinado a não fracassar, ele encontrou uma solução temporária: comprou spray cromado, caixas de papelão, e reformou as cadeiras danificadas para vendê-las pelo preço de custo e recuperar parte do investimento. Sozinho, poliu, pintou e vendeu mais de 1.500 cadeiras.
A reviravolta ocorreu em meados de 2014, quando Marciano descobriu o mundo das vendas on-line. Inspirado pelas palavras de um palestrante motivacional, sobre ganhar dinheiro dormindo, ele viu a internet como uma ferramenta para de fato, ganhar dinheiro enquanto dormia e, levar seus produtos para milhares de pessoas. Inicialmente ele colocou dois modelos de cadeiras, em bom estado, no Mercado Livre, vendendo a preço de custo. As primeiras vendas, ainda pequenas, não trouxeram muita esperança, mas em um sábado de manhã, ele acordou com uma venda de R$1.200, feita enquanto dormia.
Marciano reinvestiu os lucros iniciais, buscou novos fornecedores de cadeiras e focou em crescer no mercado de vendas online. Marciano estruturou a empresa Magazine Decor com as cadeiras e hoje importa mais de 300 itens [mesa, banqueta, cadeira de escritório]. Além disso, criou a marca IMPEBRAZ, através dela, ele vai importar produtos diversos, inclusive a linha de eletrodomésticos.
 
Primeiramente, porque importar cadeiras?
Eu não tinha mais dinheiro para comprar um contêiner de coisinhas pequenas. Você precisa de milhares e milhares de coisinhas pequenas para encher um contêiner. Olhando catálogos de produtos chineses, vi uma fábrica de cadeiras.
E pensei assim: “A cadeira é grande, então eu vou precisar de menos unidades para encher um contêiner”. Com o dinheiro que tinha na época, eu conseguia comprar um contêiner fechado de cadeiras. O negócio foi afunilando, por isso comprei as cadeiras.
 
Depois de comprar as cadeiras, qual foi o próximo passo?
Comprei o contêiner de cadeiras, fiz um catálogo, era uma folha frente e verso, e fui na maior feira de móveis do Brasil, em Bento Gonçalves, para tentar interagir com representantes comerciais para eles venderem o meu produto em loja física. Até então, jamais imaginei que um dia iria vender pela internet.
Fui um dos primeiros no Brasil a importar cadeira colorida. Na feira, comecei a falar com o pessoal e eles me falaram: “Acho que tu vai se dar bem com esse negócio, mas o problema é que tu é muito pequeno. Você vai importar 50 cadeiras brancas, 50 pretas, 50 amarelas, 50 vermelhas e quando o cliente quiser reposição, você vai demorar de quatro a cinco meses para entregar”.
Quando ele falou isso, senti uma coisa tão boa e pensei: “Vou comprar mais um container disso aí”. Tinha um container chegando, eu logo ia vender ele e para não ficar quatro meses sem o produto, mandei vir outro container para ter estoque. Nesse momento fui até o Bradesco e financiei R$ 100 mil para comprar o segundo container.
Quando o segundo container saiu da China, o primeiro container chegou e eu tinha um espacinho de 80m², era o porão de uma casa, próximo a Escola CEBEM-São Cristóvão.
Foi no momento onde abri o container, que a alegria e a expectativa que eu tinha, viraram tristeza e frustração. Pois as cadeiras cromadas foram mal embaladas e oxidaram com a maresia.
Assim começou a Magazine Decor.
 
Nesse momento, você pensou em desistir?
Só pensava em recuperar o meu dinheiro, para daí tentar arrumar um novo fornecedor lá do outro lado do mundo, para comprar cadeiras de qualidade.
Eu estava lascado. Com as economias de anos comprei aquele primeiro container de cadeiras que estava 95% estragado, com o dinheiro do empréstimo estava vindo outro container da mesma forma. Fui pensando em formas de consertar aquilo para vender a preço de custo e recuperar meu capital, não pra ganhar dinheiro. Naquele momento eu só pensava em não ter prejuízo.
Foram dois anos e pouco arrumando cadeiras e vendendo pelo custo. Até que fui para a China pela terceira vez, seria a minha última cartada. Meu dinheiro já estava acabando, nessa última viagem consegui arrumar um bom fornecedor. Comprei bastante desse cara, ele foi honesto comigo, me ajudou e cresceu muito com nossa empresa também. Isso tudo foi em 2014, nesse mesmo ano a internet apareceu na minha vida.
 
Você viu que poderia ganhar dinheiro na internet e o que fez a partir disso?
Bom, eu comecei pequenininho, comecei montando um site, nós pagávamos R$ 30 por mês de mensalidade. Através daquele site, um dia a Casas Bahia me mandou um e-mail, convidando a Magazine Decor para vender no marketplace deles. Eu nem sabia o que era marketplace, que é quando os terceiros vendem dentro das plataformas digitais de outras lojas grandes. 
Eu achei até que fosse vírus. Pense, estava quase falido e a Casas Bahia me mandou um e-mail, pedindo para eu vender lá? Enfim, foi ali que começou, com o Mercado Livre e com a Casas Bahia. Depois veio o Walmart, o Madeiramadeira, fomos o terceiro a entrar no Madeiramadeira, aí Magazine Luiza, Americanas, Shoptime, Submarino...
Várias gigantes, quando foram virando marketplace, eles queriam ao lado deles quem já sabia trabalhar, quem sabia atender o cliente, quem já tinha um pouco de conhecimento. E aí o telefone começou a tocar na nossa empresa, me convidando e convidando a Magazine Decor para vender.
Tinha um fornecedor bom, começamos a ter produtos de qualidade e aí os clientes começaram a falar bem de nós na internet. A ideia que eu tinha de vender em lojas físicas foi ficando para trás à medida que o mercado on-line cresceu.
 
Você começou trabalhando sozinho, em um espaço de 80m², qual a situação da Magazine Decor hoje?
Quando saí da salinha de 80 m² fui para uma de 180 m². Depois para um de 800 m² e depois para a Costa Sul, era o maior lugar na cidade, mas chegou a um ponto onde, ou eu tinha que construir ou ir embora de Cedro, mas ir embora daqui eu não queria.
Então construí o Centro de Distribuição (CD), ele foi inaugurado em 2022. A área total do terreno é de 20.000 m², dois hectares. Temos 4.000m² de área construída, por causa dos escritórios. O galpão é bem alto, tem 12 metros de altura, então ganhamos na altura. 
 
Por que você não quis sair de São José do Cedro?
Eu sou de Cedro. Penso assim, se alguém que está dando certo aqui e vai embora, então o município também perde e assim não cresce. Não tem chance de evoluir.
Por exemplo, eu tenho um custo para estar aqui. Trabalho com produtos importados, eles chegam no porto de Navegantes e Itapoá, tenho que pagar uma carreta, um transporte terrestre, para o produto chegar até aqui. Para mandar o produto para o meu cliente, o cliente que vai pagar o frete, então eu posso perder venda por estar competindo com o cara lá de Curitiba que tem o frete mais barato.
Às vezes acabamos perdendo um pouco de venda, mas hoje, com o volume que nós estamos tendo e com outros vendedores, também da internet aqui na região, aumenta o movimento na região e as transportadoras ficam de olho, ou seja, quanto mais competitividade tiver, mais transportadoras vão vir pro Cedro e a logística fica mais barata.
 
Se a empresa continuar andando neste ritmo, você terá que fazer ampliações?
Acredito que dentro do CD tenho bastante espaço para crescer. Porém, tem que ter bastante rotatividade no estoque. Então, quanto mais rápido sai a mercadoria, mais eu posso trazer.
 
Você tem operações em outras cidades?
Eu já tenho uma filial em São Paulo. Também tenho estoque em Governador Celso Ramos/SC, no full do Mercado Livre. São filiais que estão ainda engatinhando, porque estão dentro desses canais de marketplace. Talvez no futuro, o nosso CD seja o polo da região Sul.
 
Hoje você trabalha apenas com importação?
Não, nasci na importação, o nosso forte ainda é a importação, mas compramos de várias empresas nacionais, isso a acaba agregando no nosso negócio. Hoje geramos diretamente 40 empregos, mas acabamos gerando vários empregos indiretamente também aqui na nossa região.
Compro de fábricas de imóveis no Cedro, em Guaraciaba, São Miguel do Oeste, Mondaí, Chapecó, Guarujá do Sul, entre outros.
 
Hoje você envia produtos para todo o Brasil, tem previsão de fazer vendas internacionalmente?
Por enquanto só nacional. Eu acho que não estamos tão distantes de vender na América Latina, mas o foco é crescer no Brasil, é um país gigante, um mercado gigante.
 
Hoje, qual o diferencial da Magazine Decor?
Em 2021, nós ganhamos um troféu da Magazine Luiza. De 100 mil vendedores, nós ficamos entre os 10 melhores no atendimento. A nossa empresa nunca foi destaque por vender bastante. Vendemos bem, mas sempre fomos destaque pelo bom atendimento. É algo que está dentro da cultura da empresa.
 
Hoje você está buscando trazer mais produtos através da IMPEBRAZ, por que?
Porque eu acredito que chegamos num patamar, dentro desse nicho de móveis e decoração, que volta e meia um produto cai, então você está sempre buscando novidades. Quando você encontra a novidade, outro produto cai novamente e recomeça o ciclo. Então acabamos crescendo pouco perto daquilo que desejamos crescer.
Por isso buscamos novas linhas, para tentar ir agregando mais vendas.
 
E o quanto você quer crescer? 
Eu quero honrar aquilo que o universo me manda. Tem muita, muita gente melhor do que eu, que talvez não conseguiu chegar aonde cheguei. Eu vejo que isso pode ser algo além do nosso próprio esforço, pode ser uma coisa meio divina.
Quanto mais eu crescer, mais vamos gerar emprego e emprego de qualidade. Quanto maior o movimento, mais riqueza nós vamos gerar para todos os estados do Brasil, porque pagamos o imposto, o ICMS, entre outros, para todos os estados. Então assim, quanto mais nós vendemos para todos os estados do Brasil, mais nós vamos estar espalhando riqueza, é uma corrente do bem.
Se puder triplicar o tamanho que tenho hoje, eu vou e vou me dedicar para isso. Então continuo sonhando cada vez mais e não é ganância, é um propósito.
 
Você se considera um sonhador?
Sim, eu sempre fui um sonhador. Sempre sonhei grande e sempre acreditei nos meus sonhos.  Por mais que as pessoas muitas vezes, te chamam de louco quando você toma certas atitudes.
Quando eu saí do banco, de um emprego estável que muitas pessoas querem, o julgamento veio de várias pessoas, mas não adianta você julgar o sonho que cada um tem. Sempre almejei e sonhei em ter uma empresa, um negócio que vendesse para milhares de pessoas. Vejo assim, não importa o que tu vai fazer, o que importa é tu tentar ser o mais feliz que puder, tanto profissionalmente como dentro de uma casa.
 
Falando em dentro de casa, você é casado e é pai, você sempre teve o incentivo da sua família para seguir em frente?
Sim, sou casado com a Maqueli, deste casamento tivemos a Martina de 7 anos e eu ainda ganhei a minha filha de coração, Duda, que está com 14 anos. Elas sempre me incentivaram, tanto que, quando eu acordei e vi a mensagem no celular, que ganhei dinheiro dormindo, quem estava do meu lado era minha esposa.
Ela nunca teve medo, pelo contrário, sempre me levou para cima e eu a levo para cima. A soma das nossas energias faz com que a gente conquiste os nossos objetivos. um apoia o outro sempre e um puxando o outro para cima, nunca para baixo. Se eu falar que amanhã eu tenho que ir pra São Paulo num evento, eu vou ter apoio.
Mas têm pessoas que deixam de avançar profissionalmente para querer agradar uma outra pessoa, mas não vai ser aquilo que vai fazer você ficar com aquela pessoa. Então quanto mais um puder apoiar o outro no relacionamento, mais os dois crescem.
 
Você falou que, não importa o que faça, precisa fazer o que te faz feliz, você se considera uma pessoa feliz?
Sim, claro. Com certeza. Sou um cara otimista, muito otimista. Se acontece qualquer coisa de errado, eu tento ver alguma coisa boa em cima daquilo. Olhar sempre o lado bom. Se eu não fosse otimista não teria chegado aqui. Teria desistido lá na hora de pintar as cadeiras.
O negócio é não desistir, mas sempre mudar. Quanto mais rápido você mudar, mais rápido você vai acertar. Quanto mais contato você tiver com pessoas que estão na tua frente, mais tempo você vai ganhar.
 
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