04/10/2024 às 09h00min - Atualizada em 04/10/2024 às 09h00min

Desafios da agricultura familiar

Em meio ao aumento dos custos, agricultores como Augustinho estão migrando da produção de leite para o gado de corte, enquanto as novas gerações buscam outro rumo

Jéssica Rebelatto
Anchieta
Augustinho produtor rural de Anchieta, mantém tradição familiar com sua esposa e filhos, mas prevê mudanças no futuro da propriedade. ASO/Ruthe Kezia
Augustinho Jorge Wildener, 55 anos, é um exemplo de resistência e dedicação do homem do campo em Anchieta. Criado na Linha São Pedro, ele sempre esteve envolvido com a agricultura e a pecuária, atividades que herdou da família e que, desde a infância, moldaram sua trajetória. “Perdemos o pai cedo, eu tinha nove anos. A partir daí, com minha mãe, seguimos tocando a propriedade”, relembra ele. Hoje, Augustinho mantém a tradição, trabalhando com a produção de leite e a criação de gado de corte em duas propriedades, uma chácara próxima a cidade e outra na área rural.
Apesar da longa jornada e do apego à atividade, o produtor reconhece as dificuldades crescentes no setor. “Nós criamos um pouco de leite para ter uma renda mensal, mas está cada vez mais difícil manter”, explica. A rotina da família, composta por ele, sua esposa e dois filhos pequenos, é exaustiva. “Como somos poucos, a gente faz de tudo. Nosso dia só acaba por volta das 8 ou 8h30 da noite”.
Com o passar dos anos, a produção de leite foi perdendo espaço na propriedade e o foco vem se voltando cada vez mais para o gado de corte. Augustinho também aposta que, apesar de menos exigentes em termos de cuidados diários, o gado de corte não traz o retorno financeiro imediato do leite. “O leite dá retorno rápido, todo mês, enquanto o gado de corte é uma vez por ano. Então, para propriedades pequenas como a nossa, o leite seria o ideal, mas os custos estão tornando a atividade inviável”.
A situação se agrava com os desafios climáticos e os altos custos de produção. “O clima irregular afeta a pastagem, e os insumos estão cada vez mais caros. Hoje, o que ganhamos com o leite mal cobre os gastos", explica. A diferença de preços pagos aos pequenos produtores também é um problema. “Produtores maiores chegam a receber R$ 2,80 por litro, enquanto nós pequenos ganhamos R$ 2,35”.
Sobre o futuro, Augustinho é realista, a tendência é que ele e outros pequenos produtores deixem a produção de leite. "Já temos em mente que daqui a pouco vamos parar. A chácara, que fica perto da cidade, pode virar terreno urbano, e a criação de gado de corte será nossa principal atividade", admite. Essa mudança de foco reflete uma tendência comum entre os produtores locais. "Muitos estão parando com o leite, principalmente as famílias em que as pessoas mais velhas se aposentam. Os jovens não querem continuar."
Com dois filhos pequenos, Samuel, de seis anos, e Alice, de cinco, Augustinho também já antevê que as novas gerações não devem seguir seus passos. "Provavelmente, nossos filhos não vão tocar a propriedade. Nós já não somos mais jovens e, daqui a um tempo, talvez nem o gado de corte a gente consiga continuar. Propriedade pequena com empregado não dá."
Apesar das dificuldades, Augustinho mantém o otimismo de quem já superou muitos desafios ao longo da vida. Ele reflete sobre as mudanças nas atividades no campo e o impacto disso sobre as famílias que, como a dele, sempre dependeram da agricultura e da pecuária. "Antigamente, os filhos cresciam trabalhando com os pais na roça. Hoje, com mais oportunidades de estudo, eles seguem outros caminhos. E assim, aos poucos, as pequenas propriedades vão parando”, finaliza.
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