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08/05/2020 às 11h41min - Atualizada em 08/05/2020 às 11h41min

Uso do fogão a lenha pode contribuir para surgimento de doenças respiratórias

Jornal Brasileiro de Pneumologia
Quando se fala em fogão a lenha, principalmente aqui na nossa região, logo vem à mente lembranças da boa comida, o calor que fornece nos dias de frio, aquele pinhão, polenta na chapa e família reunida em volta.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de três bilhões de pessoas no mundo dependem de combustíveis sólidos, incluindo lenha, carvão mineral, carvão vegetal e resíduos orgânicos para realizar tarefas que atendam necessidades básicas como cozinhar, ferver a água e aquecer o ambiente. No Brasil, o alto custo, inacessibilidade ao botijão de gás ou até mesmo a tradição, obriga as parcelas mais carentes da população a utilizarem fogões a lenha, com baixo aproveitamento energético e que geram fumaça no ambiente.
"Na nossa região, as vezes a incidência de doenças respiratórias é mais frequente, devido ao uso de fogão a lenha que é muito tradicional na nossa região e muitas vezes, as pessoas não sabem, mas o fogão a lenha é mais prejudicial, às vezes, do que o cigarro. Ele acaba acometendo pessoas que usam muito tempo o fogão a lenha, desenvolve uma doença que se chama DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), então essas pessoas que fazem uso do tabaco, cigarro e uso do fogão a lenha pode desenvolver essa doença crônica, e nessa época do ano ela favorece mais a exacerbação, pois nesse período, se a pessoa não se cuida e usa por mais tempo o fogão a lenha, pode cair em um quadro grave de pneumonia e infecção pulmonar e é isso que a gente verifica aqui na região," diz o médico do Hospital Municipal de Dionísio Cerqueira que é gerido pelo Instituto Sante Marco Aurélio Marcon.
A queima ineficiente dos combustíveis sólidos em fogo aberto ou em fogões a lenha tradicionais, dentro dos domicílios, libera uma mistura tida como perigosa de milhares de substâncias. Muitas delas causam danos à saúde humana, e os componentes mais importantes são material particulado, monóxido de carbono, óxido nitroso, óxidos sulfúricos, formaldeído, hidrocarbonetos e material orgânico policíclico, que inclui carcinogênicos como o benzopireno. Em geral, há associação entre a alta emissão de poluentes, devido à combustão incompleta, e a ventilação inadequada do ambiente e, em consequência, os níveis de poluição intradomiciliar são muito elevados. As ¬consequências desta exposição para a saúde dependem não apenas do nível da poluição, mas ¬principalmente do tempo que os ¬indivíduos passam respirando o ar poluído. Nos países em desenvolvimento, os indivíduos são expostos aos altos níveis de poluição por longos períodos, de 3 a 7 horas/dia, durante muitos anos. Os mais expostos são aqueles que permanecem mais tempo nos ambientes poluídos, ou seja, principalmente as mulheres, as crianças, os idosos e os doentes. Como a tarefa de cozinhar ocorre todos os dias do ano e consome várias horas do dia, a exposição é persistente e duradoura.
Dados da OMS mostram a poluição intradomiciliar, secundária à queima de combustíveis sólidos, como um dos dez mais importantes riscos para a saúde no mundo. Em 2002, 1,5 milhão de pessoas morreram devido a doenças causadas pela poluição intradomiciliar. A maioria dos estudos sobre a associação entre poluição intradomicilar e danos à saúde é observacional e não avaliou de forma detalhada a intensidade de exposição; entretanto, há evidências que indicam uma relação de causa e efeito entre a ¬exposição e infecções agudas do trato respiratório em crianças menores que 5 anos, bronquite crônica, assim como DPOC. Por outro lado, as evidências desta associação com otite média, câncer de pulmão, câncer de laringe, exacerbação da asma, tuberculose pulmonar, baixo peso ao nascer, mortalidade infantil e catarata são mais fracas.
Diretrizes para tratamento reconhecem a poluição intradomiciliar como um fator de risco para o desenvolvimento de DPOC.(6,7) Entretanto, o número de estudos nacionais que avaliou a influência deste fator de risco para a doença é reduzido, e os resultados são inconclusivos.(8,9) Neste número do Jornal Brasileiro de Pneumologia, Moreira et al.(10) apresentam um estudo que avaliou os sintomas respiratórios e alterações da função pulmonar de 170 pacientes com DPOC: 34 expostos somente à fumaça de combustão de lenha, 59 expostos somente ao tabaco e 77 com exposição aos dois agentes. Os resultados não mostraram diferenças nos sintomas entre os grupos. Entretanto, os expostos à fumaça de lenha apresentaram menor comprometimento da função pulmonar quando comparados aos expostos aos dois agentes ou exclusivamente ao tabaco. Além disso, o percentual de pacientes com doença grave ou muito grave foi menor no grupo com exposição exclusiva à biomassa quando comparados aos expostos exclusivamente ao tabaco (11,8 vs. 44,1%). As limitações do presente estudo são similares às observadas durante a análise da literatura sobre o assunto, incluindo a avaliação não sistemática da exposição, o caráter observacional e, em particular neste estudo, o caráter retrospectivo. Entretanto, o estudo mostrou que a maioria absoluta (80%) da amostra estudada apresentava história de exposição à poluição intradomiciliar causada pela combustão de lenha > 80 horas-ano. Este dado revela a importância da avaliação sistemática da exposição ao agente, mesmo em tabagistas, para que durante o manejo dos pacientes com DPOC, a orientação para afastamento dos fatores de risco seja completa. Dados nacionais que reforcem a associação de danos à saúde com a exposição aos produtos de combustão da lenha podem contribuir para a implantação dos fogões ecológicos e, assim, para a prevenção de DPOC. Nada impede, entretanto, que os apaixonados pelo ato de cozinhar em fogões a lenha modernos continuem desenvolvendo este agradável passatempo porque, pelo menos por enquanto, não há associação da exposição eventual com danos à saúde.
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