27/11/2020 às 09h24min - Atualizada em 27/11/2020 às 09h24min

Milheiro do tijolo a R$ 1.090

Há menos de 6 meses, o milheiro era comercializado a R$ 480. Segundo o proprietário da Construmais, Rafael Batisti, os preços dispararam em todo o setor de construção civil

Carla Sampaio
Da redação
Não é só o preço do arroz que está nas alturas. Alguns materiais de construção tiveram aumentos expressivos desde o início da pandemia – e devido à demanda, chegam a faltar nas lojas, ainda que momentaneamente. Esse cenário afeta tanto os que resolveram fazer pequenas reformas em sua residência, quanto as grandes empresas de construção civil, que atuam nos segmentos de obras públicas e moradias populares.
A retração econômica registrada nos últimos dias gerou instabilidade para diversos setores, contudo, a alta nos preços acarretou na paralisação de construções e na repactuação de contratos. Aliás, as construções ficaram 20% mais caras e consequentemente o consumidor sentiu esse reflexo. À redação, o proprietário da Loja Construmais de Palma Sola, Rafael Battisti, popular Pakito, relata que todo o setor está sofrendo com esse cenário.  
“Em aproximadamente cinco anos trabalhando fortemente no ramo de materiais de construção, já passamos por algumas fases de aumento do valor dos produtos e falta de mercadorias, mas como está em que estamos, eu nunca tinha visto”, enfatiza ressaltando que alguns produtos sofrem reajustes semanalmente. “A incerteza que temos é muito grande, pois não sabemos até onde essa alta de preços pode ir”, esclarece.
 
Paralisação de obras
Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), depois de móveis e eletrodomésticos, os materiais de construção foram os que registraram maior acréscimo, fazendo com que a demanda aumentasse e a oferta diminuísse. A exemplo do cobre, que apresentou uma alta de 130%. Além disso, o aumento também foi registrado em tubos (40%) e cimento (35%), com destaque ao milheiro de tijolos, que aumentou quase 100%.
Ainda conforme o empresário, muitas obras de alta complexidade foram paralisadas e o destaque foi visto na realização de pequenos reparos, que aumentou constantemente. “Atualmente, a demora na entrega de materiais, em decorrência da falta de produtos, chega a levar 90 dias. A indústria alega que não tem material para entregar de imediato e a programação para o recebimento demora”, ressalta.
 
O que dizem os fornecedores
Segundo o proprietário da Olaria Cerâmica Dois Irmãos, de Prudentópolis-PR, Vitório Smaha, que trabalha com a distribuição de tijolos para diversas lojas de construções do Paraná e Santa Catarina, o aumento no preço do produto é significativo e ocorreu por diversos fatores. “Conseguimos recuperar o que havíamos perdido no decorrer dos últimos oito anos. Mas como a energia elétrica, o combustível e outros materiais também tiveram seus preços elevados. O preço do tijolo ficou estagnado por muitos anos. A situação é realmente complicada”, explica.
Para ele, além das dificuldades, o setor está muito disputado. “Infelizmente, com o aumento da demanda, estamos tendo dificuldade para adquirir produtos e distribuir aos nossos consumidores. Há pedidos que levam até 90 dias para serem concluídos, pois não estamos conseguindo dar conta de tudo, a demanda está muito grande”, complementa.
 
Alta no dólar
Os representantes do segmento acreditam que todos os contratempos podem impactar em retração ao crescimento da demanda ou estagnação. Para alguns, a alta da moeda norte-americana fez com que o setor produtivo priorizasse a exportação e o mercado interno ficasse sem tijolo, e com isso, o pouco que resta está com o preço nas alturas.
Nas projeções do boletim Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, a moeda americana fechará o ano cotada em R$ 4. Hoje está cotada em R$ 5,43. Segundo o ministro da economia, Paulo Guedes, não há motivos para se preocupar, pois a inflação está controlada e o câmbio desvalorizado facilita a exportação, e na balança comercial o Brasil sai ganhando. “A valorização do dólar sobre o real reflete uma mudança de políticas no Brasil, que tem baixado os juros”, disse respaldando que a taxa Selic está em 5% ao ano.
 
Planejamento financeiro
Definir metas de crescimento é uma maneira eficiente de obter dados conclusivos que auxiliam na avaliação mensal de qualquer empresa. “O planejamento para este ano superou todas as expectativas nas vendas, posso dizer que duplicou. As vendas estão sendo 70% no à vista e o à prazo diminuiu muito, sendo que a nossa lucratividade está cada vez maior”, finaliza Rafael.
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