Criada na década de 80, a Palma Peças e Acessórios, localizada em Palma Sola, festeja neste mês seu quadragésimo aniversário. Emoldurada por Angelo Roque Tibola, comemora a data de forma simples e respeitosa, já que a pandemia impede uma grande festa. Em entrevista ao Sentinela, o proprietário relata não ter sido o criador do empreendimento, mas assumir logo que inaugurado.
Cita que, na época, trabalhava na Fazenda Caldato, e teve a oportunidade de mercar o espaço, aceitando com receio de perder um emprego em que estava estabilizado. “Lembro que conversei com meu patrão, que foi muito generoso ao me incentivar e até auxiliar na compra do negócio, que poderia ser tratado como uma espécie de oficina, porque mal tinha as coisas”, relembra comentando, categoricamente, “que assumir um negócio do qual já se tem conhecimento é moleza, o difícil é assumir quando não se entende praticamente nada!”
A empresa passou por diversas dificuldades. Na época de sua criação, existiam apenas três modelos de veículos: fusca, chevette e brasilia, que eram de pessoas com muitos bens aquisitivos, o que a fez recorrer ao ramo de peças de engenho, moinho, cerrarias, pois o serviço automotivo era pouco. Angelo lembra que do caminho do Rio Verde, em Flor da Serra do Sul, até a saída para São Lourenço do Oeste, por Campo Erê, tinha pelo menos 22 cerrarias, que iam a outras localidades para adquirir as peças. Foi aí que começou seus clientes: fazendo amizades, oferecendo serviços e trazendo todos para sua loja.
Com o fechamento de boa parte dessas empresas, a Palma Peças precisou, novamente, se reinventar. “Começamos trabalhando com um mecânico, que se mudou logo depois. Não tinha muitas opções, então comecei a realizar os serviços. Só sabia onde era a buzina do carro, de restante não entendia nada. Fui aprendendo sozinho; minha sorte é que fazia amizade com os clientes, que tinham paciência para esperar um pouco mais a finalização”, ressalta o palmassolense.
Acontecimentos marcantes
Conforme Tibola, muitos detalhes transcenderam o negócio, com destaque a um, em específico, que fez com que tudo quase acabasse. “Teve uma vez em que uma caixa de um caminhão caiu sob o peito do meu mecânico, ele começou a cuspir sangue. Pensei que tudo estava acabado! Depois ele se recuperou, mas foi muito triste. Teve outro em que deu uma enchente, ali por 1983, onde precisamos retirar tudo e colocar em lugares altos. Passamos também por um vendaval, em que a oficina ‘foi para outro lugar’, destelhada com o vento”, relembra acrescentando que se tivesse a chance, começaria tudo de novo, porque essas lembranças fortaleceram sua investida.
Embora naquela época as situações financeiras fossem precárias, Angelo almejava ter seu próprio negócio. Hoje a empresa trabalha com peças automotivas (leve e pesada), agrícola, industrial e prestação de serviços mecânicos, auto elétrica, chapeação e pintura, atendendo o município e região.
“Precisamos fazer alguma coisa! Para mim, a legislação brasileira está devendo muito ao seu povo, ainda mais em querer deixar os jovens até quase 18 anos em casa para só depois trabalhar. Nesta idade eles devem já ter seus caminhos planejados, um profissão decidida, e não ainda começar a pensar. O caminho das coisas ruins é muito mais fácil, e a gurizada segue sem pensar nas consequências, no futuro. Uma coisa que dá certo, para todos que abrirem um comércio ou começarem a estudar, é ter persistência, esperar mais tempo para coisas e esperar que elas darão certo. Precisamos fazer tudo com amor, sem tirar lugar de ninguém. Devemos ter alguém para acreditar, seja ele quem for; para assim termos responsabilidade e seguir seus passos”, sobressai.
Negócio da família
Para finalizar, o empresário centraliza que o negócio é da família. Começando por seu filho mais velho, Mauro, que aos oito anos ajudava nos serviços e entregas. Saindo para estudar Medicina, o filho do meio, Fernando, hoje administrador do empreendimento, seguiu os passos do irmão. Logo depois, Gustavo, o caçula, auxiliou até sua saída para estudar. “Me vi numa furada! Todos meus filhos crescendo e saindo, não tinha quem me ajudasse. Pedi ao Fernando para que ficasse, já que os outros saíram para cursar Medicina. Ele sempre gostou do ramo e, com isso, cursou Administração, para que pudesse assumir essa parte”, explica.
Segundo Fernando, uma de suas lembranças é o primeiro dia que um computador chegou na loja. Cita que começou a trabalhar aos 12 anos, saiu para estudar aos 19, e logo retornou. “Se tem coisa que não podemos comprar é a experiência! Dou muito valor a isso, principalmente ao meu pai, que saiu de chinelo de casa, e hoje tem envolvimento em tantas coisas. Ele me ensinou muito, nos contemplamos. Na verdade, a semente foi plantada por ele, eu apenas sigo o negócio. Sou muito grato!”, frisa complementando que assume boa parte da loja, enquanto o pai, o auxilia com méritos naquilo que se sente bem realizando.
Para ele, o mercado automotivo é muito dinâmico e desafiador, mas é apaixonante trabalhar. Salienta que abrir uma empresa é fácil, desafiador é mantê-la. “Somos muito gratos pelos clientes, amigos e colaboradores, que fazem parte da Palma Peças nestes 40 anos, razão de darmos sequência no ramo”, finaliza.