27/10/2021 às 08h01min - Atualizada em 27/10/2021 às 08h01min

Projeto de pesquisa arqueológica é desenvolvida nos muros de Campo Erê

O Projeto é coordenado por Mirian Carbonera e Daniel Loponte. Os arqueólogos estão conduzindo uma pesquisa nos muros de Campo Erê, resquícios dos índios que viviam na região

Da redação
Sofia S. Bertolin: Os muros são basicamente uma montanha de terra construída por povos antigos.
A Prefeitura Municipal de Campo Erê fez uma parceria com a Unochapecó para desenvolver um projeto de valorização histórica, serão desenvolvidas várias atividades, entre elas uma intervenção no local conhecido como muro e a produção de uma exposição itinerante sobre a história do município. Essa atividade é desenvolvida por meio de convênio entre a Unochapecó, o Programa de Bolsas Universitárias de Santa Catarina e a administração municipal de Campo Erê.
O Projeto é coordenado por Mirian Carbonera, doutora em arqueologia, professora do programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais e coordenadora do Centro de Memória do Oeste de Santa Catarina (CEOM), ambos da Universidade Comunitária Unochapecó. Junto com ela está o argentino Daniel Loponte, doutor em arqueologia que trabalha no Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas - Instituto Nacional de Antropología y Pensamiento Latinoamericano. Juntos eles reuniram fotos antigas do município, para produção de uma exposição itinerante que valorize a história de Campo Erê, o objetivo é que ela fique pronta em dezembro.
Além disso, os arqueólogos estão conduzindo uma pesquisa nos muros de Campo Erê, resquícios dos índios que viveram na região. “Limpamos ao máximo o monumento, no caso o muro, retirando a vegetação menor. Tomamos todas as medidas para descrever as escavações. Também escavamos o subsolo em uma pequena área, com o objetivo de entender a idade absoluta do local, se possível queremos entender como foi construído e qual a função, se foi um local cerimonial ou funerário de grupos indígenas que viveram na região antes do contato com o homem branco, como ocorre em monumentos parecidos no planalto catarinense. Em geral, esses monumentos costumam ter entre  1.000 a 1.500 anos. Os moradores mais antigos associam a construção desse local aos bandeirantes, mas a hipótese científica é que eles foram construídos pelos índios” explica a doutora Mirian.
Segundo Mirian, sítios arqueológicos são bens da união, então para fazer o estudo dos muros foi necessário autorização do instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por isso a importância de documentar toda a pesquisa, tanto por meio de anotações quanto por imagens. “É preciso enviar projetos para obter a autorização, como eu já tenho projetos, fizemos um ofício para incluir está área na pesquisa. Depois todos os nossos registros são utilizados para prestar contas do trabalho que realizamos”, explica a arqueóloga.  
Os muros são basicamente uma montanha de terra, que de acordo com Mirian foram construídos, não é algo natural. Os pesquisadores sabem que, além de uma plataforma circular com cerca de 33 metros de diâmetro e dois metros de altura, existiu no passado um outro círculo feito de terra, que foi destruído pela atividade agrícola, por isso a montanha é chamada de muros, no plural. A explicação científica, tendo em vista que os pesquisadores já visitaram e conhecem locais semelhantes em outras partes de Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, é que esses locais foram construídos por indígenas antes do contato com os bandeirantes, e que podiam ser locais destinados para cerimonias, rituais ou locais funerários.
Os arqueólogos chegaram a Campo Erê no dia 12. Foi possível fazer a limpeza do local, mas as escavações iniciaram de fato no dia 17, por conta das chuvas. “Nossa ideia era fazer uma intervenção pequena no centro, mas acabamos fazendo isso na lateral, onde estava mais preservado. O proprietário do local nos relatou que antigamente o pessoal vinha e fazia escavações em busca de ouro, mas nunca acharam nada de valor, somente carvão, o que vai de encontro com o que nós encontramos: restos de uma fogueira”, afirma a doutora Mirian.
“Uma coisa que podemos entender no futuro, é em quanto tempo eles construíram a montanha, conforme iam depositando o material ficam marcas diferentes. Agora iremos datar somente a parte mais profunda, porque para analisar cada amostra e saber a idade custa US$ 300 dólares, ou seja aproximadamente R$ 1,7 mil, mas para o futuro podemos analisar outras amostras”, fala a arqueóloga.
Essa é uma das primeiras datações desse tipo de sítio arqueológico na região do estremo oeste, então os pesquisadores acreditam que o local tem mais de 500 anos. “Não podemos dizer que a construção foi feita pelos índios Caingangues, não tem como fazer uma ligação direta pois são povos que já desapareceram. Sabemos que pode ser dos antepassados dessas famílias indígenas, como chamamos.
Os pesquisadores ainda estão buscando áreas de banhado que nunca foram drenadas e cultivadas. “O objetivo é fazer uma pequena coleta e, por meio de pólens antigos que se preservam nesses locais, reconstituir o clima e a vegetação dos últimos milênios. Também fazemos um apelo, locais como o muro são patrimônios históricos, que contam histórias antigas de outros povos, então cabe a nós proteger esses locais para que as futuras gerações também possam conhece-las” pede a doutora Mirian.


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