13/06/2023 às 15h47min - Atualizada em 13/06/2023 às 15h47min
Empresa pivô da Mensageiro e como ela sofisticou esquema de propinas
Depoimentos dão detalhes de como a companhia cresceu e aprimorou fraudes com notas fiscais frias e ação de “mensageiro”
Região
NSC
Reprodução A empresa pivô da Operação Mensageiro ganhou espaço entre municípios de Santa Catarina após passar a gerenciar aterros sanitários e precisou sofisticar o suposto esquema de pagamento de propinas a partir de 2014. As informações constam em depoimentos de funcionários da empresa que embasam processos da investigação.
O empresário dono da Serrana Engenharia, companhia pivô do suposto esquema de propina em contratos de coleta de lixo investigado, abriu a empresa em 1991, após trabalhar por 10 anos na prefeitura de Lages e ter sido gerente regional da Casan. No começo, os negócios não envolviam transporte de resíduos, mas eram predominantemente no ramo de serviços elétricos — área de experiência do fundador.
A trajetória da empresa é narrada no depoimento do dono da Serrana à Justiça e ao Ministério Público (MP), em vídeos que a reportagem da NSC teve acesso. O nome do empresário e de outros investigados não pode ser divulgado por conta de decisão judicial.
O primeiro contrato da empresa na área de coleta de lixo ocorreu em 1999. Nos anos seguintes, a companhia assumiu o serviço também em outros municípios, nas regiões Norte e Alto Vale do Itajaí.
Em 2004, a empresa venceu uma concorrência para recuperar uma área de aterro sanitário em Mafra, no Norte de SC. Como outras cidades da região não tinham aterros que atendessem às normas sanitárias — à época, depositavam resíduos em “lixões”, prática que passou a ser combatida pelos órgãos públicos e pela Justiça —, a empresa passou a vencer contratos em prefeituras que consideravam mais barato e ambientalmente correto pagar por quilo de lixo depositado no espaço da Serrana do que manter seus espaços.
O cenário levou a um crescimento expressivo da Serrana, que nos anos seguintes passou a incorporar outros aterros e também serviços de tratamento e distribuição de água em cidades de SC. Foi nesse momento que a empresa ganhou um tamanho maior e que, segundo o proprietário, os contratos da área de resíduos começaram a ter valores de propina negociados com prefeitos e agentes públicos.
— Com essa prática se percebeu que os contratos se mantinham mais em dia, porque era necessário para que se mantivesse essa atividade ilícita. Mantendo isso [o esquema de pagamentos ilegais], você teria contratos estáveis, pagamento em dia, reajuste em dia — conta o empresário.
Contratação de “mensageiro” O passo seguinte foi contratar um ex-funcionário da empresa para trabalhar como “mensageiro”, entregando as propinas para prefeitos e secretários em cidades de SC. Para não precisar ir todo mês aos municípios, os valores mensais combinados com os políticos eram pagos de forma acumulada, em viagens feitas a cada três ou quatro meses.
Toda a manobra seria para evitar que a prática ilícita da empresa de pagamento de propina se espalhasse entre funcionários. Segundo o dono da empresa, além de aumentar o risco de o caso ser descoberto, o esquema criminoso geraria rejeição entre alguns colaboradores.
— Os mais novos já estão mais repulsivos a essas coisas, entre os engenheiros recém-formados, esse pessoal, aumentou muito a repulsa sobre isso — afirma.
O esquema mais recente perdurou de 2014 até dezembro de 2022, quando foi deflagrada a primeira fase da Operação Mensageiro. Entre os réus presos pela operação estão responsáveis por essas etapas do escândalo do lixo. Em seu site, a empresa Serrana afirma possuir mais de 900 colaboradores e atender mais 140 municípios nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país.
A empresa é comandada por um grupo que envolve cinco operações diferentes. A companhia foi fundada em 1991, em Lages, mas se mudou para Joinville em 1998. Entre os serviços prestados estão fornecimento de água, tratamento de esgoto, engenharia ambiental e engenharia elétrica. Em abril deste ano, já após a Operação Mensageiro, a empresa mudou de nome para Versa Engenharia Ambiental.
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