O turismo rural é o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, proporcionando um contato mais direto e genuíno com a natureza, a agricultura e as tradições locais. Se encaixam na modalidade de turismo rural desde o café colonial, até passeios a cavalo, a ordenha e atividades pecuaristas, produção e degustação de alimentos, visitas a hortas, pomares e vinhedos. Tendo isso em mente, oito famílias anchietenses, junto com o Sebrae, montaram a Rota Rural de Experiências na Capital das Sementes Crioulas.
Quem dá mais detalhes é a integrante da rota, Raquel Perin, do sítio Riquezas na Terra, localizado na Linha Prateleira no interior do município de Anchieta. Inicialmente a Rota Rural deveria ser uma extensão da Rota de Aventura, já consolidada no município há alguns anos, no entanto, Raquel explica que dentro do turismo de aventura não havia espaço para o turismo rural, foi quando surgiu a ideia de montar um grupo apenas para fomentar o turismo rural.
“A prefeitura, juntamente com o Sebrae, nos procurou. Foram dois anos de trabalho para organizar a rota, verificar as famílias dispostas a participar e o que seria ofertado. Começamos as reuniões com 16 famílias e ao final restaram oito famílias, a partir daí, o grupo fechou”, afirma ela.
A Rota Rural começa às 7h30, com saída do centro da cidade para um café da manhã na propriedade de Sirlei dos Santos, na Linha São Pedro.
De lá, os visitantes seguem para São José, no sítio Jardim do Éden, onde conhecem a agrofloresta na propriedade do seu Eugênio Albertão e sua filha, Diane Albertão, que trabalha com artesanatos, pintura de toalhas e faz bolachas artesanais.
Em sequência, a rota segue para a linha União da Vitória, no sítio Divina Uva. Os visitantes conhecem a produção de uvas, sucos, geleias e vinagre de Adriano Agostini. Além da uva, os visitantes conhecem um pomar de maçãs, pêssegos, nectarinas e ameixas.
Seguindo para o Recanto das Abelhas, na linha São Roque, a rota passa pela propriedade da família Wolfer, para conhecer a produção de mel e manejo das abelhas sem ferrão, além da produção de suculentas.
A próxima parada é um almoço no sítio Riquezas na Terra, após um descanso, o passeio continua na linha João Café Filho, no sítio Pedaço de Chão, da família do De Lai, é realizada a degustação de queijos, passeio a cavalo e os visitantes conhecem o artesanato com palha de trigo.
Voltando para a cidade, a rota passa pelo moinho de Pedra Ville, onde os visitantes conhecem a produção de farinha no moinho de pedra. O passeio termina próximo das 16h30, com um café da tarde no sítio da Zenaide da Silva.
“O diferencial da rota é a produção de alimentos, quem vem almoçar aqui, ou quem vai tomar o café lá na Sirlei, ou o lanche da tarde na Zenaide, vai comer alimentos que são produzidos na propriedade. Somos nós que plantamos, cuidamos, colhemos e colocamos na panela. Até o tempero que usamos foi plantado e colhido aqui. Os sucos e as sobremesas são feitos com as frutas da estação. Isso faz com que a gente agregue mais valor à nossa produção e mostra para as pessoas que é possível viver no interior, comer bem e ser saudável. A gente pode viver do que planta é só ter força de vontade, não é fácil, não vai ir lá na roça e pegar tudo pronto, tem que cuidar, se apaixonar pelas sementes e mudas”, afirma Raquel, lembrado que a Rota apenas complementa a renda da família, que vive da produção de hortaliças.
Hoje, a renda familiar vem da produção de hortaliças orgânicas e o turismo é um complemento. “Hoje nossa propriedade é certificada como produtora de alimentos orgânicos. Quando decidimos trilhar esse caminho a primeira coisa foi cuidar da terra, fazer a adubação verde, rotação de culturas e utilizar adubação orgânica, como a compostagem de camas de aviário e o pó de rocha, que é o que utilizamos. A gente passou a observar bastante a natureza. No ano passado tivemos infestação de percevejos, os fede-fede como são popularmente conhecidos. Por coincidência nós não tínhamos a maria-mole, uma planta que é hospedeira do percevejo. Este ano temos a maria-mole, então ele não atacou as hortaliças, ficou hospedada na maria-mole e não foi comer as hortaliças”, relata Raquel.
Outros recursos naturais para o controle e identificação de pragas nos canteiros de hortaliças, são os plantios em consórcio. “Hoje temos no meio da horta, roseiras. Elas são as primeiras a serem atacadas pelas formigas cortadeiras, então conseguimos identificar quando estão na horta. Além disso, temos plantas que naturalmente servem como repelente de insetos”, explica.
Uma das atrações do sítio Riquezas da Terra é dona Fátima, mãe de Raquel, ela é guardiã das sementes crioulas, conhecedora e produtora de plantas medicinais e cozinheira. O almoço servido durante a rota é feito por ela.
“Servimos feijão, arroz, mandioca, o prato chefe é macarrão com pato. Nós criamos pato aqui na propriedade e o macarrão eu mesmo faço. As saladas são o que tem na horta. Colocamos um pouco de tudo na mesa, carne de porco, batatinha, abóbora, cabotiá, milho verde, varia com o que está na época”, relata Fátima. Segundo ela, o feijão nunca é feijão preto: “Como guardiã das sementes, nosso foco é a produção de sementes dos feijões, a gente tem mais de 40 espécies de feijão, então sempre temos um feijão colorido para servir nos almoços”, afirma.
Outro dom de dona Fátima, é o cultivo se chás e plantas medicinais, enquanto mostra a propriedade, ela fala o nome de árvores, flores e ervas, destacando suas funções medicinais. “Quando o pessoal vem aqui a gente dá uma caminhada, vai na nossa Farmácia Viva onde temos os chás, visitamos as hortas, e o pessoal pode comprar mudinhas e sementes”, conta.
Entre as atrações do Sítio, ainda estão os patos, mini coelhos, galinhas, ovelhas e abelhas. “Futuramente a gente pretende ter mais animais, principalmente para quando vierem as crianças, elas ficam fascinadas”, afirma Raquel.
Segundo ela, hoje o grupo de famílias que integra a Rota Rural está fechado, então nos próximos dois anos nenhuma nova família deve integrar a rota. Se nesse meio tempo as coisas funcionarem bem, mais famílias podem fazer parte do grupo e quem sabe podemos criar um novo roteiro turístico. Hoje realizamos no mínimo um passeio por mês. A nossa rota é recente, começou neste ano, então estamos sempre em busca se sugestões de melhorias”, finaliza Raquel.
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