ASO/Sofia Bertolin Francieli Zamboni Holz tem 44 anos, natural de Pranchita, no Paraná, ela reside em Palma Sola desde 1999 e se considera palmassolense de coração. Foi em Palma Sola que Fran, como é mais conhecida, escolheu viver, criar raízes e construir sua família.
Graduada em Biologia, Ciências e Física, pós-graduada em interdisciplinaridade no currículo da educação básica e em gestão escolar, ela está finalizando mais uma pós em educação tecnológica. A frente da gestão na Escola de Educação Básica Claudino Crestani há 10 anos, ela relata sua trajetória como diretora.
Por que escolheu cursar Biologia e Ciências? Por causa de duas professoras que tive, a Marizete Caus e a Indianara Canzi. Eu gostava da disciplina e da forma de ensinar, então me espelhei nelas.
Como começou sua trajetória na Claudino? Primeiro como professora ACT – Admissão em Caráter Temporário, entre 1999 e 2001. Em 2002 passei no concurso e me efetivei na EEB Catharina Seger, no Cerro Azul. Trabalhei lá por 10 anos. Até que em 2012 surgiu um convite para assumir como assessora de gestão na EEB Claudino Crestani. Na época os diretores ainda assumiam por indicação política.
Já estava há 10 anos na Catharina, indo e voltando de lá todos os dias, trabalhei num período em que havia aulas à noite. Isso acabava cansando, para completar veio o Luis Felipe, meu primeiro filho e eu queria poder passar mais tempo com meu bebê. O meu objetivo a princípio era tentar uma remoção, para vir trabalhar como professora na Claudino, mas não haviam vagas, nisso veio o convite para ser assessora e eu aceitei, não pensei duas vezes.
Assumi então como assessora do professor Nadir Gritti. Após um ano ele saiu de licença e passei a ser a diretora no lugar dele, aí foram cerca de dois anos trabalhando como diretora indicada.
Em 2015 saiu a primeira eleição para diretores das escolas estaduais, como eu já estava na gestão nós conversamos com o grupo de professores e como o trabalho vinha sendo desenvolvido de uma maneira bem positiva, encontrei nos colegas apoio para ser candidata. Através de um acordo interno entre os colegas optamos por uma candidatura única, eu e a Sandra Toigo já estávamos trabalhando juntas na gestão e permanecemos. Por sugestão dos colegas o professor Valdir Marques passou a fazer parte da equipe e juntos tivemos 95% de aprovação. Logo no início do mandato o professor Valdir optou por sair e convidei a professora Rosimar Zanatta pra ser minha assessora.
Nesta primeira gestão como eleita eu engravidei da minha filha mais nova, a Lorena, então saí de licença por seis meses.
Após quatro anos ocorreu nova eleição e me candidatei, desta vez eram dois candidatos, mas me elegi novamente com a Sandra e a Rosi como minhas assessoras. Logo a Sandra foi para Concórdia, então chamei a professora Caroline Machiavelli para ser assessora. Neste mandato a Rosi ficou comigo por um ano e meio e se aposentou. Foi quando chamei a Leomara Pedo, que já trabalhava com a gente, fazendo a parte pedagógica, para ser assessora. Ela está na direção há dois anos e meio. Terminamos o nosso mandato agora em 31 de dezembro.
Foram oito anos como diretora eleita e mais dois anos como diretora indicada, então são 10 anos como gestora.
Como foram as eleições de 2023? Neste ano ocorreu novamente eleição, conforme o novo decreto e o edital, lançados pelo governo do estado, eu não poderia ser candidata novamente. Então quem se candidatou e apresentou o PGE – Plano de Gestão Escolar foi a Leomara, ela foi eleita e no próximo ano eu continuo na direção, desta vez como assessora junto da Carol.
Como foi a sua gestão? Passamos por períodos bons, períodos difíceis, enfrentamos muitas situações delicadas. Nem sempre foi possível dizer sim para todas as pessoas e a partir do momento que a gente se posiciona acaba gerando desconfortos. Acredito que quando a gente está à frente de algo, fica mais visível e corremos o risco de agradar uns e desagradar outros, mas desde o momento que me dispus a fazer parte da gestão e me candidatar, sempre tive comigo um pensamento: Não estou aqui para dizer sim para todos, estou aqui para fazer a coisa certa, fazer funcionar e a escola andar, para fazer o melhor, talvez não para todos, mas para a maioria.
A gente sempre faz uma autoavaliação, tivemos falhas, mas sentamos, conversamos, buscamos mudar e melhorar o que precisava.
Uma gestão só acontece quando a gente acredita e corre atrás. Levamos muitos nãos, mas não é na primeira vez que você pede que você ganha, e se tratando do setor público é mais burocrático e moroso do que o setor privado. Às vezes algo que é fácil de resolver demora por conta da burocracia que temos que respeitar.
Uma marca da gestão é que estou saindo e graças a Deus não respondi nenhum processo administrativo, nada parecido. Justamente porque sempre seguimos as legislações.
Algo que te surpreendeu nestes anos? Certamente o apoio que temos da comunidade. Sempre tive apoio dos pais, eles foram muito parceiros, acreditaram e confiaram naquilo que a gente propôs, sempre participativos na APP – Associação de Pais e Professores, no Conselho Deliberativo e nas assembleias. Além de acolher o que a gente propõe, sempre trouxeram sugestões, a exemplo do projeto dos armários. Esse é um dos grandes pontos que fizeram a gente seguir em frente. Mesmo diante de um trabalho voluntário as pessoas que passaram pela APP e pelo Conselho se envolveram e abraçaram a gestão de uma forma que eu não imaginava.
O que mais mudou? A evolução nos investimentos na educação. Tivemos nos últimos quatro anos um olhar diferenciado e recebemos muitos investimentos, inclusive na questão da tecnologia, com lousas digitais, computadores, tablets, melhorias na internet e o laboratório maker.
Na parte administrativa passamos a ter autonomia em alguns recursos, foi criado o cartão para recursos emergenciais, o Cartão de Pagamento do Estado de Santa Catarina - CPESC Materiais e Serviços, que conseguimos utilizar quando acontece algum imprevisto na escola ou quando há necessidade de alguma coisa.
A parte administrativa ficou mais burocrática. Quando assumi não tinham tantas questões de sistema, a chamada do professor ainda era feita no papel. Hoje tanto o trabalho dos professores quanto o nosso, é todo no sistema, as faltas dos alunos, avaliações, solicitação de melhorias. Não é uma mudança negativa, mas dá um pouco mais de trabalho, a gente dedica mais tempo a essa parte burocrática e é algo que precisa ser feito.
Nesse último mandato passamos por dois anos de pandemia, tivemos que nos reinventar, principalmente os professores. Foi o momento em que a tecnologia invadiu a escola e não saiu mais.
Outra mudança foi a diminuição do número de alunos. Passamos pela municipalização, a Claudino atendia desde a primeira série até o terceiro ano do ensino médio. Quando assumi a gestão, do ensino fundamental anos iniciais, a gente atendia apenas o quinto ano. Como a professora efetiva do quinto ano era a Rosimar, a partir do momento que ela se aposentou o quinto passou a ser ofertado apenas pelo município.
Esse é um dos motivos da diminuição do número de alunos, a escola já teve mais de 1000 alunos, quando assumi eram cerca de 800. O número gradativamente diminuiu e hoje estamos com cerca de 550 alunos.
Por que ocorreu essa diminuição? No ano passado vieram do município alunos para quatro turmas de sexto ano, este ano vieram só três turmas. Então não é aqui que diminui, essa diminuição vem desde as séries iniciais. Acho que as pessoas estão tendo menos filhos, outros alunos acabam mudando de cidade, ocorre também a evasão escolar.
Quais foram as suas frustrações? É em relação a não conseguir fazer algo que a gente gostaria, mas fazendo uma avaliação do meu PGE, posso dizer que a gente o atendeu quase que 100% dele. Conseguimos fazer inclusive coisas que não estavam no plano, como a reforma de parte do telhado. Algo que não conseguimos, mas que continua no plano da Leomara e vamos pleitear agora é a cobertura das nossas quadras poliesportivas. Na minha gestão conseguimos revitalizar todo o piso e pintar, nossa meta agora é a cobertura.
O que nós tínhamos conseguido era a ampliação do refeitório, mas aí travou. Os engenheiros vieram e fizeram o projeto, mas não saiu do papel e nem sabemos o porquê. Agora temos a previsão de uma reforma geral que inclui a reforma do refeitório.
Quando algum aluno desiste, mesmo entrando em contato com a família, encaminhamos para o sistema APOIA, onde entra uma parceria com o Conselho Tutelar e a Promotoria, mas muitas vezes, mesmo com esse trabalho não conseguimos fazer esse aluno voltar para a escola, isso nos entristece.
Vocês que optaram pela reforma geral? A nossa gestão teve que optar por fazer a reforma geral ou solicitar a construção de uma escola nova.
Porque não optaram pela escola nova? Fazendo uma avaliação com a equipe, nos municípios que ganharam essa escola nova, como no EEB Elza Mancelos de Moura [Guarujá do Sul] ou na EEB Dr. Theodureto Carlos de Faria Souto [Dionísio Cerqueira], as escolas têm muitos problemas, a escola já precisou passar por reformas. Outra situação é que ficaríamos com toda essa estrutura desocupada.
Recebemos várias visitas de pessoas da SED – Secretaria de Estado da Educação e os próprios engenheiros que vieram fazer toda a medição para a reforma, a nossa escola é bem conservada. E esse cuidado de manter e não deixar deteriorar também é parte do nosso trabalho.
Por isso optamos por fazer a reforma. A nossa escola é boa, está bem localizada, tem espaço para fazer ampliações de salas e laboratórios.
E sobre a cobrança que você recebe? Acho que a cobrança é natural, devemos satisfação para comunidade que nos elegeu. Sempre entendi isso como uma parte natural do nosso trabalho.
No último censo a gente não conseguiu atingir os índices do IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Foi algo que eu sempre me coloquei junto, não é um problema dos outros, é um problema nosso e vamos trabalhar juntos para resolver.
Tem vontade de voltar para a sala de aula? Tenho. Quando saiu que eu não poderia ser candidata e a Leomara ainda não sabia se iria assumir, eu me preparei psicologicamente, pensei muito sobre voltar a dar aula.
Eu ainda tenho pelo menos oito anos de trabalho pela frente antes de me aposentar, então ainda dá tempo de voltar para sala de aula. Sinto que ainda tenho muita coisa para contribuir diretamente com o aluno.
E o seu salário? Quando assumi o salário do diretor era uma porcentagem que aumentava conforme a gente ia acessando cursos. Agora continua sendo uma porcentagem, mas ela é fixa. O meu é 80% sobre o salário base e os assessores recebem 60%. Ainda tem uma diferença das escolas que têm dois ou três turnos.
Qual o sentimento de deixar a gestão geral? Me despeço desse segundo mandato à frente da gestão de cabeça erguida e com a certeza de dever cumprido. Com a Leomara assumindo algumas coisas mudam, a responsabilidade maior passará a ser dela, mas vou estar aqui dando o suporte, querendo ou não a gente adquire muito conhecimento, acaba descobrindo muitos caminhos, criando contatos e isso ajuda na nossa busca de melhorias para a nossa escola.
Acho que tudo acontece na vida da gente na hora certa, tudo aconteceu como tinha que ser, tudo foi aprendizagem, a gente não passa por coisas que não é capaz de suportar, acho que passamos por aquilo que é para a gente. Olho para trás e vejo que todos os desafios que passamos na gestão eram pra mim. E se eu não tivesse mais o que oferecer aqui na equipe de gestão, o universo teria se encarregado de resolver e me levar para outro lugar. Fico feliz por tudo, o sentimento é de dever cumprido e gratidão a todos que sempre me ajudaram e apoiaram.
Receba as notícias do Portal Sentinela do Oeste no seu telefone celular! Faça parte do nosso grupo de WhatsApp através do link: https://chat.whatsapp.com/Bzw88xzR5FYAnE8QTacBc0 Siga nosso Instagram: https://www.instagram.com/jornalsentinela/