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13/05/2024 às 15h00min - Atualizada em 13/05/2024 às 15h00min

Realizando o sonho de voar

O bombeiro Orlando Kuhn encontrou no parapente uma forma de realizar o sonho de voar que tinha na infância

Registro de um voo realizado por Orlando em 2010. (Foto: Divulgação)
Muitas crianças sonham em voar, algumas saltam de lugares altos apenas para tentar provar a si mesmas que podem voar. Orlando Kuhn foi uma dessas crianças, que improvisou asas de papelão e saltou em direção ao chão no galpão de seu pai. Com 44 anos, ele relata que encontrou no parapente uma forma de realizar o sonho de voar.
Nascido em Campo Erê, ele passou a maior parte da infância e da juventude no interior de São Bernardino. Aos 19 anos Orlando saiu de casa, indo para São Lourenço do Oeste, onde iniciou sua jornada como bombeiro voluntário em 2002. Após se tornar voluntário, foi contratado pela prefeitura como bombeiro civil e, em 2004, prestou concurso público, ingressando no Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina. Atualmente Orlando é comandante do Corpo de Bombeiros de Campo Erê.
O interesse de Orlando pelo parapente nasceu em São Lourenço, através de uma amizade com um policial, Joy, que frequentemente visitava o quartel do corpo de bombeiros, compartilhando histórias sobre o esporte. Observando parapentistas no horizonte de São Lourenço, Orlando nutriu o desejo de voar que tinha desde a infância. Em 2004, após o curso de formação de soldados, ele foi convocado para prestar serviço de prevenção durante o Encontro Mercosul de Parapente, em Jupiá.
“Em Jupiá fica um dos pontos mais altos aqui da região que é o morro divisor dos ventos, é um lugar bem famoso e sede de um clube de voo livre. Quando cheguei lá vi o pessoal com uma mochila pendurada nas costas, eles abriram o zíper, pegavam um pano dobrado, abriam e colocavam sobre a cabeça, aquilo enchia com o vento e o pessoal saia voando. Me encantei e decidi que queria fazer isso”, relata Orlando.
Durante o evento Orlando encontrou Joy, que era instrutor de voo. Após dois meses ele já havia completado o curso de voo livre, foi estudando e se aprimorando cada vez mais. A dedicação ao parapente levou Orlando a se tornar um piloto experiente em pouco tempo.
 
Funcionamento dos parapentes
“A aerodinâmica que faz o avião voar é a mesma que faz o parapente voar. A única diferença é que a forma como o avião voa, ele é impulsionado pelo motor e o parapente, pelo vento. Algo bem importante é a razão de planeio, que começa em torno de 10. Significa que ele o parapente anda 10 metros para frente enquanto ele baixa um metro, então estando a 1.000 metros de altura você anda 10 quilômetros para frente. Só que tem toda uma questão que é a questão das termais, ou térmicas, são elas que fazem a gente voar longas distâncias”, explica Orlando.
Um parapente voa aproveitando as correntes de ar ascendentes, como térmicas e ascendentes dinâmicas. Ele sobe quando entra em uma corrente de ar ascendente e desce quando entra em uma corrente descendente ou ao ser controlado pelo piloto para descer. O controle de altitude é feito principalmente ajustando o ângulo em relação ao vento.
“Para que você aprenda a voar, se familiarize com essa parte logística, identifique as correntes termais leva de três a seis meses. Claro que, como tudo na vida, depende da persistência, insistência, dedicação e amor que você coloca nisso. O primeiro passo para quem quer voar de paramente é buscar uma escola certificada, ela vai fornecer o equipamento para treino, você vai aprender a inflar o parapente, levantá-lo e mantê-lo sobre sua cabeça. Essa é a parte difícil, que exige mais fisicamente, mas pode ser treinada no solo. Depois de aprender a dominar o parapente ali no chão, você vai para o morrinho, faz os primeiros voos e assim por diante”, descreve Orlando.
Existe uma classificação dos parapentes. Tem uma classificação para quem é aluno, para quem já é intermediário, para quem já é avançado. O parapente, de acordo com essa classificação, dá ao piloto uma performance maior. Essa classificação vai de A à D, sendo A a mais segura. Existe ainda uma classificação chamada de CCC ou Open, pois não existe certificação para esse tipo de equipamento. Ele oferece muito desempenho, mas exige mais habilidades do piloto.
Orlando comprou seu primeiro equipamento em meados de 2006, de um colega que estava parando de voar. Um ano e meio depois ele adquiriu seu segundo equipamento, dessa vez, com uma qualidade superior. “Esse equipamento me oferecia mais performance. Eu queria voar mais, por mais tempo e mais longe, mas muitas vezes o equipamento não permitia que fizesse isso, então fui fazendo trocas mais frequentes, há cada dois anos, evoluindo minha técnica e exigindo equipamentos melhores, chegando à categoria de equipamentos CCC”, afirma.
O investimento para quem deseja praticar o esporte é alto, além do parapente os pilotos investem em equipamentos de proteção, como capacete, botas, paraquedas, e ainda rádio comunicador, GPS, barômetros, cadeirinhas entre outros.
“Acredito que hoje, os equipamentos básicos devem estar em torno de R$ 15 mi. Logo antes de parar de voar tinha um parapente CCC, esses modelos são importados, então o custo é elevado, a minha cadeirinha era carenada para dar mais aerodinâmica, eu tinha dois e não apenas um paraquedas. Não, nunca precisei utilizar o paraquedas”, destaca Orlando, afirmando que a segurança sempre foi prioridade.
 
Riscos
A possibilidade de voar faz brilhar os olhos de muitos, mas poucos têm coragem de voar. “Muitas pessoas me perguntam, mas não é perigoso?  Aí eu entro numa seara que se chama risco gerenciável, 90% do risco é gerenciável no parapente. A maioria, ou se não todos, andam de carro. Como você gerencia se quem está vindo contra você está bêbado, ou tendo um ataque cardíaco, ou se um pneu furar. É quase zero gerenciável. O risco de você ser atropelado é maior do que de cair de parapente, se você tiver consciência, respeito pela natureza, com certeza você vai ter bons anos de voo livre sem ter algum tipo de incidente”.
Orlando descreve que os iniciantes nunca voam sozinhos, estão sempre com o instrutor ou com um voador mais experiente. Essa pessoa mais experiente sempre decola primeiro e informa aos outros se as condições de voo estão ideais ou não.
 
Resultados
Ele relata que existem basicamente dois tipos de competições. As locais, que ocorrem durante os encontros/eventos de parapentistas. São criadas provas em diversas modalidades, como por exemplo, de triangulação ou voo mais longo em linha reta.
“Nunca fui muito fã de participar desse tipo de evento, porque você acaba excedendo alguns limites e correndo riscos desnecessários. Os eventos em que eu participava eram eventos online, através de um equipamento de GPS. Você poderia voar a hora que você quisesse, da forma que você quisesse, durante o ano todo e lançar esses voos no site. Os seis melhores voos geram uma pontuação. Eram muitos competidores  e todo ano eu estava entre os primeiros colocados”, conta Orlando. Ele participou dessas competições por muitos anos e ficou conhecido no estado todo, dentro da comunidade de voadores.
Sobre os lugares por onde voou, Orlando relata que esteve em lugares muito bonitos, a exemplo das pré-cordilheiras dos Andes, dentro da Argentina. “Foi o local onde voei há algumas altitudes bem grandes, próximas de 5.700 metros de altitude. Voei de frente ao Pacífico, no Chile em um lugar chamado de Iquique, lá quase nunca chove, então é possível voar o ano todo. Esses são chamados de voos panorâmicos. Quando comecei a buscar resultados passei a voar dentro do Brasil”.
Um dos lugares onde voou dentro do Brasil é Jaraguá, em Goiás. Por conta da uniformidade do terreno e do clima, as termais sobem a até 4000 metros do chão, na região elas chegam a cerca de 2000 metros do chão. “Em Jaraguá fiz um voo de 7 horas e meia, foram 210 quilômetros voados em linha reta. Esse foi o meu recorde”, afirma.
Orlando também voou na região, principalmente em Palma Sola, Flor da Serra do Sul, Anchieta e Barra Bonita. Foram cerca de 12 anos voando. Perguntado sobre o que ele viu em todos esses anos voando, Orlando conta que viu neve, paisagens lindas, animais diferentes a exemplo dos guanacos, e também um OVNI (objeto voador não identificado). “Era algo imenso”, descreve.
 

Aposentadoria
Há cinco anos Orlando decidiu parar de voar. “Logo que comecei a voar teve um colega que parou. Não entendia como isso poderia ser possível, porque eu amava muito voar, achava algo incrível então como poderia parar? Para mim, voar sempre foi resultado de dedicação, mas também um retorno emocional muito grande. Por estar voando livre, dentro da nuvem a conexão com o Divino é muito grande. Quando me vi num estado em que estava esquecendo dessa parte e estava voando apenas atrás de números e esquecendo de me divertir, algo aconteceu”, conta Orlando.
Pouco antes de parar e se aposentar, o grupo fez uma viagem de voo, na qual Orlando teve um incidente.
“Não foi algo que colocasse minha vida em risco, mas foi um susto, meu parapente fechou. Estava há cerca de três mil metros de altitude e desci girando mais ou menos uns 400 metros. Isso mexeu comigo, resolvi ouvir minha intuição e descer um degrau. Sugestionei para a minha equipe que a gente pegasse um equipamento um pouco mais seguro, E que a diferença de performance a gente tirasse na nossa habilidade. Eles não aceitaram. Não quis continuar voando com o equipamento que tinha então o vendi. Fiquei aguardando a possibilidade de comprar outro, que fosse mais tranquilo. Mas isso não aconteceu e resolvi dar um tempo”, descreve Orlando.
Um de seus últimos voos foi realizado na companhia da esposa e do filho. “No ano passado, realizei uma formação em Florianópolis. Saí para dar uma volta e quando cheguei em frente à Praia Mole olhei pra cima e vi um monte de parapentes voando. Conversei com o pessoal e decolei para fazer um voo. Na praia é muito bom de voar, muito tranquilo. Ainda tenho um equipamento em casa, mas não penso em voltar a voar. A dedicação que eu empregava no parapente agora emprego em outras atividades”, finaliza.

 
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