Elma Paixão Cirino em sua sala de aula, onde compartilha seu amor pelo ensino e pela transformação da vida dos alunos através da educação. ASO/Jéssica Rebelatto Natural de Renascença, no Paraná, Elma Paixão Cirino carrega consigo as marcas de uma trajetória de vida pautada pela superação, resiliência e uma dedicação imensurável à educação. Criada em uma família humilde, sua infância foi marcada pela simplicidade, pelos desafios financeiros e pelo trabalho árduo.
O pai de Elma trabalhava como empregado em uma serraria, enquanto sua mãe, dona de casa, se dedicava tanto ao cuidado da casa quanto ao auxílio nas tarefas na roça. A vida não era fácil, e a família dependia inteiramente do salário do pai e da força de trabalho de sua mãe. Esse cenário, comum a muitas famílias paranaenses, moldou Elma, forjando nela uma forte vontade de vencer. A terceira filha de cinco irmãos, Elma vivenciou desafios, mas sempre acreditou que a educação seria o caminho para um futuro melhor.
A trajetória de Elma começou com dificuldades, mas também com coragem. Quando sua família se mudou para Mangueirinha, ela enfrentava o desafio de percorrer sete quilômetros a pé todos os dias para frequentar a escola. Essa jornada árdua não a impediu de seguir em frente. Porém, as dificuldades aumentaram quando a família se deslocou para a linha Manoel Velho, em Dionísio Cerqueira, próximo a divisa com o município de Palma Sola. Logo em seguida o pai de Elma perder o emprego. Com dificuldades para se adaptar às novas tecnologias nas granjas, ele precisou mudar de trabalho, e a família passou a viver com o tio.
Esse período resultou na perda de quatro anos de estudo para Elma. Sua mãe, que havia sonhado em ser professora, também precisou interromper seus estudos, uma vez que as escolas da região ofereciam ensino apenas até o quarto ano. Mesmo diante de tantos obstáculos, Elma nunca perdeu de vista seu sonho de estudar. A chegada do projeto MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização) ao interior foi um ponto de virada. Seu pai trouxe livros de alfabetização e, com o apoio do Instituto Universal Brasileiro, Elma pôde retomar seus estudos, mesmo com dificuldades de acesso a materiais e comunicação.
O retorno aos estudos foi na escola Catharina Seger, na estão comunidade de Novo Cerro Azul, hoje distrito Cerro Azul. Elma estudou no Cerro Azul até o oitavo ano, mas o ensino médio trouxe novos obstáculos. Para estudar, ela teve que se deslocar para a cidade de Palma Sola, o que a forçou a interromper os estudos por um ano devido à falta de transporte adequado.
Foi então que surgiu uma proposta inesperada que mudaria o curso da sua vida. Em 1990, sua irmã, professora em uma escola multisseriada na linha Manoel Velho, casou-se, e a escola ficou sem docente. Elma, com a formação básica que possuía, foi convidada a assumir a vaga, pois era a pessoa mais qualificada da comunidade para a função. Quando a equipe da prefeitura chegou para buscá-la, Elma, apreensiva, tentou se esconder. No entanto, a insistência da mãe a convenceu de que essa era uma oportunidade importante não apenas para ajudar a comunidade, mas também para continuar seus estudos. Com o apoio do pai e do tio, Elma seguiu para Dionísio Cerqueira para formalizar o cargo.
Assumiu a escola com 23 alunos no primeiro ano, embora a turma fosse composta por mais de 30, devido a característica multisseriada. Sem experiência, Elma foi orientada a fazer um curso em Dionísio, onde passou uma semana aprendendo o básico para lidar com sua nova função. A partir daí, ela seguiu com sua rotina, ministrando aulas e enfrentando a escassez de recursos. A falta de eletricidade e congelador na escola fazia com que ela trocasse alimentos com as famílias dos alunos, estabelecendo uma rede de apoio comunitário que, além de garantir a merenda escolar, também reforçava a importância da colaboração entre as famílias e a escola.
Em 1993, a escola onde Elma lecionava foi reconhecida por um prêmio de destaque da Acaresc (atual EPAGRI), um reflexo do empenho da professora e da participação ativa da comunidade. Ela ainda lembra com carinho de projetos realizados com os alunos, como o plantio de morangos, que contou com a colaboração dos pais, e o apoio de jovens locais no cuidado do espaço escolar.
O amor por ensinar sempre foi força motriz na vida de Elma, mas sua jornada não foi isenta de dificuldades pessoais. Com o tempo, ela sentiu a necessidade de se aprimorar. Enfrentando longas caminhadas e desafios de transporte, ela se dedicou ao estudo do magistério. Durante o período em que cursava o magistério, a rotina de Elma era extenuante. Ela saía de casa às 5h da manhã, pegava o ônibus para o trabalho, e retornava somente à noite, depois de cumprir suas funções escolares e estágios. Sua determinação em continuar seus estudos a levou a se formar, embora o caminho tenha sido longo e árduo.
Em 1996, já casada, Elma passou por um momento difícil ao perder sua vaga na escola do interior após se mudar para a cidade. No entanto, a ajuda de um professor a levou a uma nova oportunidade. O professor Carlos Luiz Dal Pra ofereceu-lhe uma vaga na escola da linha Triches, em um local distante, mas onde Elma sabia que poderia continuar sua jornada de ensino. Com essa oportunidade, ela passou a ter um horário mais acessível, mas a carga de trabalho e os desafios continuaram.
Ainda assim, Elma se manteve firme. Com o apoio de colegas e da comunidade escolar, ela seguiu, enfrentando desafios familiares e profissionais. O falecimento de seu pai, em um momento difícil, não a impediu de continuar sua carreira. A perda do ente querido a abalou profundamente, mas ela se manteve comprometida com a educação.
Com o passar dos anos, Elma conquistou estabilidade profissional e familiar, superando inúmeros obstáculos, e em 2000, finalmente passou em um concurso público, alcançando a tão sonhada estabilidade. Ela se tornou uma educadora dedicada, sempre em busca de mais formação e capacitação. Seu trabalho continuou a ser pautado pela paixão por ensinar, e sua trajetória se consolidou como exemplo de dedicação e amor pela profissão.
Ao longo de sua carreira, Elma vivenciou mudanças significativas na educação, desde a incorporação de tecnologias nas salas de aula até a adaptação a novas abordagens pedagógicas. Entretanto, seu compromisso com a formação contínua permaneceu constante. Um marco importante em sua trajetória foi sua atuação na inclusão de alunos com deficiência, tornando-se uma das pioneiras no atendimento a estudantes com autismo e outras necessidades educacionais especiais. Essa experiência desafiadora também a motivou a realizar uma pós-graduação na área de educação inclusiva, contribuindo ainda mais para sua prática em sala de aula.
Com mais de 34 anos de carreira, Elma continua a ensinar, mesmo que formalmente aposentada. Sua paixão pela educação ainda a motiva a buscar constantemente novos desafios, a se atualizar e a contribuir para a evolução da educação no Brasil. Seu legado como educadora vai além de sua sala de aula; ele é uma história de resiliência, dedicação e amor ao ensino, um exemplo inspirador para as futuras gerações de professores e alunos.