Sentinela do Oeste Publicidade 1200x90
21/12/2024 às 10h00min - Atualizada em 21/12/2024 às 10h00min

Resgatando a história da lenda do rock de Palma Sola

Nesta edição o Sentinela relembra a história de Glauber Volmir Rusch, considerado a lenda do rock de Palma Sola, que partiu no dia 11 de fevereiro de 2003, com 33 anos

Ruthe Kezia
Palma Sola
Os shows em Palma Sola sempre contavam com muitas crianças e jovens, além dos adultos. Até hoje muitos palmassolenses lembram e sabem cantar as músicas do The Rusch
Nesta época do ano, no Natal, muito se fala sobre família, amigos, paz, harmonia, alegria e amor, mas não são todas as pessoas que representam esses adjetivos durante sua passagem nesta terra. Nesta edição, o jornal Sentinela traz a história de Glauber Volmir Rusch, conhecido como Alemão [em memória], um homem bom, que durante 33 anos viveu intensamente, colecionou diversos amigos e ficou conhecido como a lenda do rock de Palma Sola.
Nascido no dia 5 de fevereiro de 1970, Glauber é filho de Arcelino Rusch e Elvira Rusch. A família Rusch saiu do Rio Grande do Sul para residir em Palma Sola. Depois de um tempo, a família abriu o Mercado Rusch na cidade de Palma Sola e ali Glauber começou a ser conhecido no município, pois seu jeito de ser cativava os clientes.
A equipe do Sentinela conversou com a família e amigos de Glauber que contaram um pouco sobre a estada dele nesta terra e de como ele era uma peça fundamental na vida de cada um deles. Glauber durante 33 anos viveu com muito prazer e dedicação as suas três paixões: a música, o futebol e a família.
 
Quem era o Glauber para a família
Glauber Volmir Rusch, o filho mais velho do casal Arcelino e Elvira, que ao partir desta terra deixou muita saudade nos corações das pessoas que o amavam. Entretanto Glauber viveu intensamente durante seus 33 anos, a família o descreve como alguém especial, bondoso, responsável e brincalhão.
“Ele era uma boa pessoa, tinha um coração maior que ele, não conheço uma pessoa igual”, descreve Nina [sobrinha e afilhada de Glauber]. Ela sempre foi muito apegada a ele, que desenvolveu em sua vida um papel muito além de tio, mas também de segundo pai, inspiração de bondade, determinação, coragem e alegria” descreve Nina.
Mesmo sendo a lenda do rock de Palma Sola, ele não deixava de auxiliar no Mercado Rusch, empreendimento da família. No domingo à tarde, único momento em que o mercado não era aberto, Elvira e Glauber iam em uma salinha conferir as notas. De certo modo, esse era o momento em que Elvira podia ficar a sós com seu filho, mesmo que trabalhando.
Desde criança a música lhe chamava a atenção, Elvira conta que nas festas, Glauber sempre ficava na frente dos músicos batendo pezinho. Desde dali esse desejo pela música já vinha sendo alimentado.
 
Antes da música veio o futebol
Antes de se dedicar a música, Glauber alimentava sua paixão pelo futebol, era goleiro e se destacou em diversos times locais e em times de outros municípios. No primeiro ano de namoro de Glauber com Claudete Rusch, ele foi fazer um teste de goleiro no time de Cascavel-PR e foi selecionado para jogar no time profissional. Nesta época Glauber foi embora e ficou um fora por quase um ano, nesse período os namorados se viam com pouca frequência devido às limitações da época.
Glauber sempre esteve envolvido com o futebol, Claudete conta que não lembra de ter acontecido algum campeonato em Palma Sola, no qual Glauber não estivesse participando [mesmo depois com a banda]: “Claro que a música vinha antes do futebol, se tivesse que escolher entre um e o outro era a música primeiro, mas ele nunca deixou o futebol de lado”, comenta Claudete.
Tanto que em 2001, no último campeonato de futebol de campo que Glauber disputou, ele recebeu um troféu de Goleiro Menos Vazado. Uma das lembranças vivas na memória de Claudete, é a Luana [filha de Glauber e Claudete] junto com o pai dentro do campo.
 
Construindo sua família, uma de suas paixões
A família fazia parte das paixões de Glauber, ele que sempre foi um bom filho, um bom marido e um ótimo pai. Claudete Rusch lembra quando conheceu Glauber e como foi estar próxima dele nos seus últimos anos de vida.
Na vida de ambos era apenas mais um dia normal, porém na saída da escola, Claudete avista um rapaz caminhando do outro lado da rua e isto chama atenção, mas mal sabia ela que aos 16 anos de idade, havia avistado pela primeira vez o amor da sua vida.
Claudete conta que Glauber tinha um jeito diferente e que aos seus olhos era muito atraente. Glauber era alto, tinha o cabelo comprido e um estilo, uma marra, de jogador de futebol, de roqueiro, algo que lhe chamou a atenção.
Após alguns dias, ela e sua amiga foram assistir um jogo de futebol no estádio, de acordo com ela esse era o entretenimento da época, e lá estava o Glauber novamente: “Eu lembro que ele estava atacando na trave do lado direito. Olhei pra minha amiga e disse: ‘Meu Deus, olha que rapaz bonito, vou namorar esse cara!’”, conta Claudete. Porém não foi nesse dia que eles conversaram.
A primeira interação entre eles, ocorreu no baile Garota Atlântica [na época Diana Lara foi quem recebeu o título de Garota Atlântica de Palma Sola]. No baile eles conversaram e dançaram juntos, a partir dali ambos se apaixonaram e nunca mais se deixaram.
Ela comenta que os namoros da época eram diferentes de hoje, mesmo morando na mesma cidade, eles se viam a cada 15 dias. Glauber era atencioso, carinhoso, brincalhão e um bom namorado, ela cultiva até hoje as boas lembranças do seu relacionamento com Glauber.
Claudete compartilha com o Sentinela um episódio que aconteceu no Dia dos Namorados de 1992, ela conta que na época havia a livraria Girassol e todo ano para o Dia dos Namorados, eles compravam um urso, esse em específico era grande, branco e tinha um coletinho vermelho escrito: “Eu te amo”.
Aquele urso era a maior cobiça das meninas que namoravam. Dois anos antes de Glauber e Claudete se casarem, em 1992, o ano que ficaram noivos, ela passou e viu aquele urso exposto na vitrine da livraria Girassol e conta que pensou: “Quem será que vai ganhar esse ano?” 
Descontraída ela conta que ganhar aquele urso, era como ganhar um iPhone hoje. No outro dia, Claudete passou novamente na frente da livraria, porém desta vez o urso não estava mais lá. Desânimo foi o que ela sentiu ao pensar que alguém já tinha ganhado aquele urso, mas até então ninguém sabia quem tinha sido a sortuda. “Em um sábado à noite, aquele urso chegou lá em casa, pensa na alegria, na realização de saber que aquele urso era meu. Tenho ele até hoje, está intacto, só troquei o colete e mandei fazer um novo igual”, conta Claudete.
No dia 17 de dezembro de 1994, Glauber e Claudete se tornaram uma só carne. Glauber nunca escondeu de Claudete as suas paixões, sonhos e anseios, por contrapartida, ela sempre o apoiou e procurou respeitar os seus gostos e espaço. “Não lembro de um momento que discuti com o Glauber ou ele ter discutido comigo, de que fomos dormir birrento um com o outro, não lembro disso. Talvez pelo fato de que nós nos conhecíamos muito, nós nunca tivemos uma discussão, por conta dos sonhos dele”, comenta Claudete.
Sempre que podia, Claudete acompanhava a banda nos shows, mas na grande maioria das vezes, ficava em casa com a família e para dar o suporte no mercado. Eles eram um casal que buscavam estar sempre incentivando um ao outro e nutrindo seu casamento com respeito: “Até mesmo depois quando ele estava doente, ele tinha muita fé que ia ficar bom e que ia voltar aos palcos e em nenhum momento a gente o desmotivou. Pelo contrário, ele investiu, comprou coisas durante o período que estava doente”, relata ela.
O casal teve duas filhas, Luana é a filha arco-íris de Glauber e Claudete. Ela descreve que durante o seu relacionamento com Glauber, perder a primeira filha [Bruna] foi o momento mais delicado e difícil da relação.
“Na minha vida, se errei em alguma coisa, não foi com ele. Disso a minha consciência é a mais tranquila possível, porque tenho certeza absoluta que fiz esse homem muito feliz, o que pude fazer por ele, eu fiz”, declara Claudete.
 
Banda The Rusch
Um homem de três paixões, Glauber sempre dava um jeito de conciliar a família, o futebol e a música. Quando Glauber voltou de Cascavel para Palma Sola, o desejo de ter uma banda só crescia dentro do seu coração.
Mesmo com a paixão pelo futebol, ele nunca largou da música, Claudete comenta que ele tinha um fusca branco e que ouvia muito rock. Acima da música, o rock era a sua maior paixão. Glauber sempre teve o sonho de ter uma banda, nos anos 90 ele juntamente com mais quatro amigos, Deonir Benetti, Luiz Urbainski, popular Fritz e o Delson Zanatta, iniciaram os ensaios da banda Agitos.
Depois os irmãos Gelson e Geovane Schuch, ingressaram na banda, eles participavam porque gostavam de música e já tinham um certo envolvimento, pois cantavam músicas gospel nas igrejas, mas para Glauber era muito mais do que gostar de música, era uma paixão.
Foram passos lentos, mas a banda foi tomando forma e foram integrando mais pessoas. Os primeiros ensaios eram realizados no galpão do Santo Benetti, depois passaram a ensaiar na metalúrgica do Luiz Urbainski, em uma época ensaiaram no pavilhão da Igreja Católica, no antigo depósito do Mercado Rusch e por fim construíram uma sala exclusiva, atrás da casa do casal, onde ensaiaram até o fim da banda.
Nina, a sobrinha do Glauber, amava ir aos ensaios e sempre que podia estava presente. A banda The Rusch servia de inspiração para as crianças, ela conta que outras crianças também gostavam de participar e pegavam panelas para fingir que era bateria, porque eles também queriam fazer parte da banda.
Para a banda crescer e se destacar na região, Glauber realizou uma parceria com Delson Zanatta, onde ambos eram os sócios e investidores da antiga banda Agitos. Por volta de 1995, antes de gravarem o primeiro CD, Glauber e Delson conversaram sobre a troca dos nomes para marcar o lançamento do primeiro CD. Então o vocalista Glauber preferiu trocar o nome para The Rusch. A banda se apresentava em vários palcos e fazia o maior sucesso tocando em bailes e festas de Palma Sola e toda a região.
Embora seu maior sonho fosse viver da música, ele tinha responsabilidades a cumprir, pois ajudava seus pais e irmão com o mercado e na lavoura. Quando havia show no sábado fora do município, Glauber sempre dava um jeito de voltar à noite para Palma Sola, porque no domingo de manhã precisava estar no mercado.
Lairton Pauletti conta que ingressou na banda a convite de Glauber, antes de começar a tocar bateria, ele carregava as caixas da banda: “O Glauber viu o meu empenho e pediu se eu queria aprender a tocar bateria”. Ele começou escutando as músicas através do rádio e foi aprendendo a fazer as batidas de ouvido.
Conforme a banda foi se desenvolvendo e criando músicas autorais surgiu a ideia de produzir o primeiro CD. Há menos de 60 dias da gravação, Glauber contratou um pessoal do Rio Grande para vir até Palma Sola instruir os músicos, sobre como eram os processos para gravar no estúdio.
Quando chegou o dia da gravação, a banda foi até Caxias do Sul-RS, para produzir e gravar as músicas, até então, todos estavam animados e ansiosos. Nessa época Delson já havia vendido sua parte da banda e Glauber era o único proprietário.
Como principal investidor, Glauber deu uma entrada do pagamento do primeiro CD [de acordo com Clairto, irmão de Glauber, na época era aproximadamente R$ 20 mil], porém os dias se passaram e eles não recebiam o produto, em contato com a gravadora, eles sempre alegavam um problema diferente. Claudete conta que ele ficou muito nervoso e preocupado, pois na época era um dinheiro alto que ele havia economizado.
Foram noites sem dormir, sua maior preocupação era o que seu pai ia achar, como ele ia fazer para conseguir o material. Após tamanha preocupação, ele contou para o seu irmão Clairto e eles procuraram o Procon para resolver a situação.
No ano de 1999 a banda The Rusch lançou o primeiro CD, na época para as músicas tocar na rádio, as pessoas precisavam levar o CD, para então poder pedir a música. As músicas da banda The Rusch tocavam bastante nas rádios de toda a região e até mesmo em São Paulo, a exemplo da rádio Super Sucesso e Transamérica, que eram rádios com alcance nacional.
Lairton explica que as músicas do repertório eram escolhidas de acordo com o que mais tocava nas rádios. Nos últimos anos da banda havia dois integrantes que moravam no Rio Grande do Sul, então eles vinham para Palma Sola um dia antes da agenda, para ensaiarem e durante os demais dias, eles iam se comunicando pelo telefone e definindo quais músicas seriam tocadas.
Além dos shows na região, a banda foi convidada para participar da gravação do programa Show na Estrada, que passava na Rede Nacional de Televisão. Lairton lembra que a gravação começou em um domingo no período da tarde e terminou na segunda às 9 horas da manhã.
O primeiro CD foi um sucesso, com isso surgiu a ideia de gravar o segundo CD. Lairton relata que a banda fez a gravação, porém o segundo CD nem chegou a ser lançado, eles receberam aproximadamente 100 cópias, mas devido a doença de Glauber, eles não deram procedimento.
Um dos sonhos de Glauber com a banda, que infelizmente não realizou, era ter um ônibus exclusivo, para os shows. No fim a banda era composta por oito integrantes: Glauber Rusch, Delson Zanatta, José, Tião, Geovani Schuck, Gelson Schuck, Lairton Pauletti e Kirk.
De acordo com Lairton até houve uma discussão sobre continuar a banda sem o Glauber, mas como forma de respeito a família que pediu um ano de luto, eles pararam e depois resolveram que não iriam voltar.
Quando Glauber faleceu, várias pessoas procuraram a família com a intenção de comprar a banda, mas Arcelino e Elvira decidiram não vender porque a banda é uma parte de Glauber que ficou.
 
Últimos anos de vida do Glauber
Claudete comenta que o Glauber começou com uma tosse, a qual levou dias para sarar, achando aquela situação estranha, eles foram num médico em Francisco Beltrão-PR, onde ele pediu um raio-x. Enquanto o casal aguardava o resultado, o médico veio novamente e disse que ia repetir o raio-x.
Novamente Glauber repetiu os processos e enquanto aguardavam os resultados o médico perguntou se ele fumava ou bebia, para ambas as perguntas a resposta foi a mesma: não. O médico insatisfeito com os resultados do raio-x, pediu o terceiro, quando ele voltou com o resultado do terceiro raio-x, chamou o casal e os encaminhou para outra clínica.
Quando eles chegaram, o outro médico já estava esperando pelo casal: “Nunca vou esquecer essa cena. Ele nos mandou sentar e disse que os resultados dos exames não eram bons e que ele já havia marcado uma consulta para o outro dia às 8h em Cascavel-PR, e que provavelmente o Glauber iria ter que fazer uma cirurgia e começar a fazer quimioterapia”.
Em lágrimas Claudete relembra que quando chegaram em Palma Sola Arcelino e Clairto estavam descarregando carne, ela sentou e começou a contar sobre a consulta: “O seu Arcelino não acreditava e disse para levar o raio-x para o doutor Silvio Neugebauer olhar”.
O casal, juntamente com o Clairto e a Adriana [cunhada de Glauber] atenderam o pedido de Arcelino e levaram o raio-x para o médico Silvio: “Ele pegou o envelope e disse: ‘Meu Deus Alemão, você não tem mais pulmão’. O pulmão dele estava todo manchado”, relata Claudete.
No outro dia às 8h, o casal estava em Cascavel, lá eles descobriram que o câncer no pulmão já estava em processo de metástase [acontece quando as células do câncer se desprendem do tumor principal, entram na circulação sanguínea ou linfática e, por meio dela, se dissemina e se aloja em outras partes do corpo], e que a origem do câncer do Glauber era noutro órgão, até hoje não se sabe exatamente onde se o tumor primário.
Claudete conta que nos primeiros meses de quimioterapia, o Glauber teve uma boa evolução e melhora, porém nos seus últimos meses de vida piorou muito. Mesmo vivendo circunstâncias não favoráveis, Glauber seguia sendo sorridente e com facilidade de fazer amigos, no período em que estava no hospital ele fez amizade com uma enfermeira e um certo dia, eles combinaram que ela ia levar pipoca para comerem a noite. Claudete relembra que os três ficaram ali comendo pipoca, conversando e dando risada, nesse dia Glauber estava muito bem.
Depois que a enfermeira foi embora, o casal foi dormir. De madrugada Claudete ouviu um barulho e foi ver o que era, Glauber havia se levantado da cama, arrancado o soro e ido ao banheiro: “Ele caiu no banheiro e até hoje eu não sei como consegui levantar ele até o vaso. Depois disso chamei as enfermeiras e no outro dia ele foi pra UTI, isso foi quando o tumor se alastrou e atingiu a cabeça”, conta ela.
Depois do câncer se alastrar até a cabeça, Glauber começou a ter dificuldade em manter a linha de raciocínio, ele reconhecia as pessoas, conversava com elas e logo depois esquecia da conversa. Clau, também lembra da ocasião em que Glauber foi tomar uma xícara de café e virou a xícara antes. Depois que os médicos começaram a tratar o tumor na cabeça, Glauber voltou ao normal, se recuperou e voltou para casa.
“A última vez que fomos para Cascavel fazer quimioterapia, o médico falou que aquela era a última dose que ele iria prescrever, ele ainda usou o termo: ‘Alemão agora eu te curo ou te mato’. Eu lembro que o Glauber respondeu que já estava curado”, conta Claudete.
Os pais e o irmão do Glauber, e o Vero, irmão da Claudete, foram juntos para acompanhar o casal. Ela conta que era em um domingo e eles estavam em um quarto bem retirado, nesse momento o Glauber se preocupava com a mãe dele, porque era época do pagamento do leite e iria dar bastante movimento no mercado.
A família Rusch sempre foi muito unida e afetuosos uns com os outros, e naquele momento, Glauber os encorajou falando que estava bem e que eles podiam retornar para casa. Depois que a família saiu, Glauber como um bom fanático por futebol, começou a ouvir pelo rádio o jogo de Cascavel. Passou um tempo, ele chamou a Claudete e pediu para chamar a enfermeira porque estava ficando sem ar.
As enfermeiras vieram e colocaram Glauber no oxigênio. Após 1 hora, elas retornaram e disseram que iam levar ele para UTI, pois já sabiam que o pulmão dele estava terminando: “Eu o acompanhei até a entrada da UTI e ele me pediu para ir até a casa da tia dele [irmã de Arcelino] que morava em Cascavel, e que no outro dia de manhã eu já podia voltar, porque ele iria sair da UTI” lembra Claudete.
No outro dia quando Claudete retornou ele não tinha recebido alta e ela teve que esperar até o horário de visita. Ela ligou para avisar a família sobre a situação do Glauber e naquele momento Elvira e Arcelino não estavam em casa, então ela deixou o recado para a Adriana.
Quando liberou o horário de visita, Claudete foi para o quarto e com lágrimas no rosto conta que essa é a pior imagem que tem do Glauber na UTI: “Meu Deus, ele estava irreconhecível, tinham feito um corte no pescoço dele, ele estava com os olhos quase fechados, com a língua para fora e todo inchado. Naquele dia eu vi que não tinha mais volta”.
Claudete novamente ligou para a família e todos foram para Cascavel. Esse foi o momento de maior aflição da família Rusch, todos estavam na casa da irmã de Arcelino, a família inteira acordou junta, com uma sensação estranha, parece que um vento quente, diferente passou pela casa. Instantes depois receberam a fatídica ligação do hospital avisando sobre o falecimento de Glauber, na madrugada do dia 11 de fevereiro de 2003.
Antes dele falecer, ainda na UTI, a família conseguiu visitar ele, porém ele já não reagia: “Não sei se eles sentem ou escutam, mas eu lembro que ele deu uma suspirada quando eu peguei na mão dele e falei que ia cuidar bem da Luana”, relembra.
Glauber nunca pensou na morte, mesmo que os quadros clínicos dissessem o contrário, ele sempre se mostrou forte e com o desejo de se recuperar para voltar aos palcos o quanto antes.
“Acredito que nos últimos meses, ele possa ter em algum momento pensado que não ia voltar, porque por várias vezes ele se preocupava muito com a Luana, na época ela tinha três aninhos. No último aniversário dele, nós passamos no hospital e desta vez, eles liberaram a gente para levar a Luana, e ele me dizia: ‘Viu mãe, quando chegar a hora você vai explicar bem as coisas para a Luana, vai cuidar bem dela e orientar ela’”, relembra. Claudete conta que garantiu ao Glauber que indiferente do que acontecesse ela iria cuidar para que Luana tivesse uma boa vida.
 
Reconstruindo a vida após a morte de Glauber
Quando perdemos alguém que amamos, o tempo não cura a falta, a lacuna que essa pessoa deixa na nossa vida, mas com o tempo essa dor ameniza. Com a perda do Glauber não há como afirmar quem sofreu ou sofre mais, pois o fato dele ser brincalhão, extrovertido, amigo, parceiro, deixou uma lacuna em muitos corações.
Algo que o Glauber ensinou com a sua vida, foi nunca desistir dos sonhos e se manter forte perante as circunstâncias da vida, mas para os amigos e família foi difícil se reconstruir sem a presença física dele.
Quando Glauber faleceu, Claudete tinha 29 anos e precisou refazer a sua vida, mas algo que nunca passou pela sua cabeça foi afastar Luana dos avós, pois sabia que seria uma perda ainda maior para eles e para ela. A Luana ficou morando e sendo criada, majoritariamente pelos avós. “Como eu perdi uma filha, conheço esta dor. O Glauber sempre foi um filho maravilhoso, ele fazia tudo pelos pais”, comenta Claudete. Ela não se arrepende da decisão que tomou e sabe que fez a escolha certa. Hoje ao olhar para a filha Luana, vê que ela está formada, tem sua vida e que cresceu em boas condições.
Claudete buscou se aperfeiçoar profissionalmente e comenta que Glauber sempre foi o grande incentivador para ela cursar pedagogia e que hoje quando recebe um elogio referente ao seu trabalho, sente gratidão pelo incentivo que recebeu: “Hoje me sinto realizada como profissional da educação, não me vejo em outro lugar. Eu sempre penso que isso é obra dele”, declara Claudete.
Os pais de Glauber investiram nas netas, Nina e Luana, para que elas dessem prosseguimento no legado que Glauber construiu na música, mas Nina descreve que o amor delas pela música, não era tão forte quanto o do seu tio. Elas chegaram a se apresentar em alguns festivais, mas optaram em seguir outros rumos.
Antes de Luana nascer, Glauber cuidou de Nina como se fosse sua filha. Nina sempre que podia estava acompanhando seu tio, principalmente nos ensaios da banda, ela era fascinada pelo tio Glauber: “É triste pensar que essa infância que eu tive, a Luana foi privada, sabe, de conviver com ele”, relata Nina.
Quando o Glauber ficou doente, Luana tinha 2 anos de idade, as vezes em que o casal precisou se ausentar devido as quimioterapias, Luana ficava junto com os avós, os tios e  a prima, com isso ela criou laços ainda maiores com eles: “Tanto que eu e o Glauber éramos padrinhos da Nina [filha de Adriana e Clairto], e a Adriana e o Clairto são padrinhos da Luana.
Pelo fato de a Luana ser muito nova quando seu pai faleceu, ela não tem tantas recordações, mas isso não altera o amor pelo seu pai. Como prova disso, ela sempre respeitou a grande paixão de seu pai, mantendo guardado letras de músicas escritas a mão, fotos, instrumentos e equipamentos da banda. Pode-se dizer que ela é a maior fã, Luana guarda todas as coisas que um dia pertenceram ao seu pai com muito amor, como uma forma de honrar o legado da lenda do rock de Palma Sola.
Lairton Pauletti conta que a partida de Glauber foi uma perda não apenas para a banda, mas sim para a sociedade palmassolense: “Ele era um cara que não tinha inimizade, estava sempre brincando com todo mundo. Eu sempre digo: ‘perdi um irmão’, ele era muito importante para nós, uma pessoa extraordinária, lembrar dele pesa”, conta Lairton segurando o choro.
 
Show de Tributo a banda The Rusch
O show de Tributo a banda The Rusch, no dia 27 de novembro de 2024, foi promovido pelo departamento de Cultura de Palma Sola e o responsável por interpretar o vocalista Glauber foi o músico palmassolense Andi Cavanhol, que teve a ideia a partir de uma análise da cultura do rock de Palma Sola nos anos 90.
Andi conseguiu algumas músicas da banda na Rádio Comunitária de Palma Sola e pensou na possibilidade de fazer um show para homenagear a banda The Rusch, que marcou uma geração palmassolense: “Após conversar com a família, eu escrevi um esboço do projeto e apresentei à prefeitura que lançou o edital da Lei Paulo Gustavo”, relata Andi.
O show realizado na abertura do Natal Iluminado 2024 de Palma Sola foi um sucesso. Após a homenagem, dois dos integrantes originais, o guitarrista Kirk e o baterista Lairton, se apresentaram e emocionaram ainda mais o público que relembrou os bons momentos da banda nos palcos.
Lairton destaca como foi emocionante reviver os bons tempos da banda, mesmo 21 anos depois do fim, foi lindo ver que adultos, que na época eram crianças, ainda lembravam as letras das músicas e cantavam junto. “Foi muito gratificante, mesmo sendo uma dor muito grande para a gente perder um ente querido, mas olhar e saber que as pessoas ainda lembram e contam coisas boas, a gente fica feliz, é um acalento”, descreve Claudete.
A partir do show de tributo, antigas emoções foram desbloqueadas e hoje é possível encontrar as músicas do primeiro CD no Spotify e demais plataformas de música, Nina conta que se Glauber ainda estivesse vivo, essa seria uma de suas maiores alegrias, ver sua música liberada para quem quiser ouvir.
 
Retorno da banda The Rusch
Com o passar dos anos alguns integrantes da banda The Rusch foram perdendo o contato e através do show de tributo, Kirk conseguiu localizar todos e montaram um grupo no WhatsApp.
Após o fim da banda, alguns seguiram carreira na música, outros tomaram rumos diferentes, mas relatam que nunca mais encontraram um entrosamento tão grande como havia na banda The Rusch: “A gente se destacava, a amizade entre os integrantes, a gente se olhava e já sabia o que ia fazer. Era impressionante ver a ligação que a gente tinha um com o outro”, declara Lairton.
Lairton relata ao Sentinela, que eles estão conversando e vendo a possibilidade de regravar algumas músicas, como forma de homenagem ao legado e amor pela banda de Glauber.
 
Encontrou algum erro? Clique aqui.

Receba as notícias do Portal Sentinela do Oeste no seu telefone celular! Faça parte do nosso grupo de WhatsApp através do link: https://chat.whatsapp.com/I7fwKFWDW4M9hxKJX0wfE9
Siga nosso Instagram: https://www.instagram.com/jornalsentinela/

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Sentinela do Oeste Publicidade 1200x90