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06/08/2020 às 15h43min - Atualizada em 06/08/2020 às 15h43min

Uma construção duradoura e uma promessa para a vida

Adão Canabarro investiu mais de R$ 10 mil para a construção de duas capelas com a imagem de Nossa Senhora. O motivo é por ter se recuperado de um grave acidente ocorrido há 39 anos

Muitos munícipes se depararam com uma construção distinta e excêntrica no trevo de Flor da Serra do Sul, sendo executada por um senhor de 81 anos, que atende por Adão Canabarro. Refere-se a uma pequena capela com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, rodeada de árvores, calçadas e flores. É notável que por trás da edificação há uma exemplar história católica, que passou também por Palma Sola. A Equipe do Sentinela se deslocou até o município e encontrou o construtor ainda em serviço, que logo os convidou para ir até sua casa. Acompanhe a entrevista:
 
Adão, qual o motivo dessa construção?
Estava entre a vida e a morte, porque um caminhão passou duas vezes sobre mim. Na primeira passada, ele quebrou três fios da minha costela e quase me desnucou. Acredito que o motorista não teve controle, pois não sabia dirigir muito bem e com isso deixou o caminhão voltar de ré. No momento até pensei em rolar para baixo dele, mas não consegui me mexer e não tinha mais força. A segunda passada, estourou a minha bexiga, prejudicou o meu intestino e quebrou a minha bacia. Já faz 39 anos e os médicos disseram que eu poderia ter morrido na hora.
No mesmo dia do acidente, uma amiga da família intercedeu por mim a Nossa Senhora e prometeu que se eu voltasse a pelo menos caminhar, meu dever era construir uma capela a cada cidade que morar. Eu era bem louco para trabalhar e se era pra mim ficar inválido iria morrer por conta, porque quando tu se movimenta sempre, não dá pra ficar parado, você enlouquece. Quando passei pela cirurgia, até pensei que não sobreviveria, estava muito inconsciente. Mas graças a essa intercessão, eu só fiquei seis meses de muleta e quando consegui firmar o corpo já estava muito bem.
 
Calma ai! Não ficou com nenhuma dor?
A pessoa que é quebrada igual eu, acostuma com a dor. Depois do acidente, eu me machuquei de novo, onde precisei fazer pontos na cabeça. Depois disso, não deixei de sentir dor nela, porque os pontos se curaram, mas ainda está machucado por dentro, e se eu ficar muito tempo de pé, fico meio tonto. Além disso, não tem um dia que não sinto dor na bexiga, porque depois da cirurgia ela ficou menor. Tem noites que tenho que levantar umas seis vezes para ir ao banheiro. Não aguento segurar de dor!
Me curei totalmente do acidente. Com os anos fui diagnosticado com anemia, depressão e sinusite crônica, e agora estou me tratando. Não tem um dia que não sinto dor ou fico mal, mas nada me impede de terminar essa construção, mesmo que fazendo um pouquinho todos os dias. Preciso cumprir minha promessa. 
 
Morou aonde antes de vir para esse município?
Eu e a minha esposa Clementina nos conhecemos em Francisco Beltrão, mas no dia do acidente estávamos em Palma Sola. Ficamos lá por cerca de 26 anos e foi onde eu cumpri o primeiro passo da minha promessa. Construí uma capela ao lado do campo da Polícia Militar. Levei quase 10 anos e não consegui finalizar porque nos mudamos. Até pensei em trazer para cá, mas ela pesa uns 8 mil quilos e não seria viável tirá-la do lugar.
Acho que ela custa cerca de R$ 12 mil se estiver pintada. Como não moro mais lá, não vou conseguir terminar. No dia que me mudei, tentei até doar, mas ninguém quis. Queria doar a Casa dos Idosos, mas eles disseram que com aquilo nenhum evangélico entrava. No momento ela está em cima de quatro pilar e o dono da casa aceitou deixar no mesmo lugar; até falamos pra ele quebrar se ela incomodar. Além da capela, construiu também um pocinho e foi onde muitas pessoas alcançaram graças.
 
Como foi o processo para construir novamente?
Faz três anos que estou morando em Flor da Serra. Eu construí as duas sozinhas, teve alguns momentos que me ajudaram, mas construíam tudo diferente do que eu queria. A prefeitura daqui me ajudou muito, doando o terreno e 35 cargas de terra. Eles queriam ajudar com tudo, mas eu disse não e avisei que possivelmente pediria ajuda mais tarde. Mas a minha promessa é construir sozinho. E tudo que usei foi pago por mim, aqui na Flor só a capela custa uns R$ 8 mil. Essa segunda foi mais rápido. Levei 60 dias, agora estou finalizando a pracinha em volta, onde plantarei mais árvores, hoje já tem 16. Falta ainda uns 100 metros para finalizar. Agora a prefeitura vai doar o resto dos tijolinhos; aceitei essa doação porque vai ficar para o município. E é um investimento que vale a pena.
 
Como você se sente hoje, após essa construção?
Agradecido. Todos os dias eu e minha esposa vamos rezar o terço próximo dela e quando chove rezamos em casa. Quando o tempo está feio deixamos a portinha encostada, mas quando não, está sempre aberta para todos que queiram ir rezar. Dentro da capela só tem a imagem de Nossa Senhora. A devoção é totalmente a Ela, porque sem Ela não chegaríamos a Jesus. Hoje tenho três filhas e que são todas evangélicas.
Eu sou católico e vou morrer católico, pois foi essa devoção que me salvou. Sempre que penso no que passei, sei que fui curado pela minha fé. Os médicos ainda brincam comigo dizendo: “ainda está vivo”, porque ninguém acreditava que eu iria sobreviver. Fui praticamente “esmagado” e hoje estou vivo, e com saúde suficiente para terminar essa construção. Daqui uns 30 dias estará tudo pronto e ficará aqui para todos. Após estar pronta o padre virá abençoar o local, porque a capela já é abençoada por si só.
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