Há pelo menos três anos, o cedrense Edimilson Dalmagro, de 55 anos, trabalha com arte em madeira. Em sua residência, um sítio reconstruído com madeiras reaproveitas, situado no interior, encontra a paz e o sossego para confeccionar suas obras. O artesão reaproveita troncos de árvores e até galhos encontrados na região para criar diferentes e criativos relógios. É um trabalho detalhista e uma profissão que está se tornando rara. Cada peça é única e feita sob encomenda.
À reportagem, o artista conta que se inspira no trabalho de sua filha Nayani, outra artesã de mão cheia, que fabrica produtos manuais utilizando materiais diversos, além de ser proprietária do ND Ateliê, localizado também em São José do Cedro. Autodidata, Edimilson nunca fez um curso e frisa que todas as suas criações primeiro são criadas “dentro da sua cabeça”. Já aposentado, começou a ficar com o tempo ocioso e passou a criar artesanatos para passar os dias e ter algum hobby. “O artesanato é como uma terapia. Ele nos faz ver as coisas diferentes e nos mostra uma visão muito diferente do mundo”, destaca.
Primeiro toque com a arte
Após trabalhar por mais de 30 anos como bancário, acabou perdendo um pouco do contato com a natureza, e junto dessa técnica, começou a apreciá-la e olhá-la ela de uma forma diferente. “Fui buscando informação, aperfeiçoando as técnicas e aos poucos, dando forma aos primeiros modelos. Por meio da internet, fui buscando inspirações, além disso, visitei muitas exposições de artes, onde sempre encontrava alguma criação feita de madeira, até que um dia, vi relógios, e como moro num sítio e sempre teria muita madeira, comecei a tentar produzir”, conta ressaltando que foi um caminho de muitas dificuldades.
“No começo, as dificuldade foram grandes, porque precisava escolher tipos de madeiras e ainda não possuía conhecimento sobre, pois se fazer com madeiras úmidas, após pronto ele vai rachar e precisa ser jogado fora, e se ela for muito dura, é difícil de trabalhar. Mas foram as dificuldades que fizeram com que minhas técnicas fossem se aprimorando e que houvesse uma evolução. Um dos tipos de madeira que não abro mão, é aquelas ‘proporcionadas’ pela natureza, seja de árvores caídas com o vento e que estejam apodrecendo ou aquelas que já não têm mais vida. Essas são as mais belas de trabalhar”, complementa.
Amor pela natureza
O cedrense frisa que sempre foi muito questionado sobre o tipo de madeira que utiliza e se derruba árvores para encontrá-las. “Para essas perguntas, não. Não derrubo árvores para fazer a confecção. Reaproveito as que já estão caídas, pois minha principal inspiração é a natureza, e se eu derrubasse para fazer, não estaria criando e sim destruindo”, esclarece acrescentando que recebe muita ajuda dos amigos, que avistam bons galhos ou troncos caídos e lhe oferecem para ajudar na confecção.
Uma história por traz de cada criação
Dependendo do grau da dificuldade, o artesão passa até um mês trabalhando uma só peça. O preço cobrado varia, inclusive, de acordo com o tempo disponibilizado para concluir a obra contratada. Ele é relativo a beleza da peça, o serviço, a busca pela madeira, os ponteiros e a dificuldade de ser confeccionada, podendo variar de R$ 50 a R$ 150.
“O tempo de confecção varia muito e não se tem um específico. Têm umas peças que podem levar até uma semana só para lixar, pintar e tratar. Além disso, os relógios não são do mesmo modelo e da mesma madeira. Muitas vezes crio um e quando busco criar outro igual, não consigo, pois não encontrou madeiras da mesma forma. A inspiração vem do momento, cada criação tem seu motivo, sua forma e sua história. Não tenho dia para começar ou finalizar, porque preciso encontrar os materiais e confeccionar com paciência e cuidado”, informa.
“Utilizo diversos tipos de madeiras e muitas vezes nem sei quais são. Gosto bastante do cinamomo que se destaca muito após pronto, mas é um tipo que não se encontra muito”, continua. Como a madeira é tratada para evitar insetos e outras pestilências, além de pintada e envernizada, ela tem um tempo de durabilidade indeterminado, e o único cuidado que precisa ter é evitar uma queda, que pode fazer com que a madeira rache, o que dificilmente acontece. “A peça é de fácil manutenção e a maquininha do relógio pode ser substituída manualmente. Só é precisa ter um certo cuidado ao acertar a hora, pois não deve-se girar os ponteiros. Sempre que entrego os relógios, dou junto um manual de instruções para ajudar nas manutenções”, explica.
No Brasil, onde difícil é ser artista, difícil é a arte de sobreviver da arte num lugar onde poucos dão o seu devido valor, Edimilson revela que hoje é preciso ser mais artista para sobreviver. “É muito mais uma terapia do que um comércio. Hoje, confecciono muito para presentes. O privilégio que eu tenho é ter isso, uma atividade que eu não tenho como uma dependência financeira, mas como uma pequena paixão. Isso facilita bastante na criação e no desenvolvimento do produto”, finaliza.