13/11/2020 às 16h03min - Atualizada em 13/11/2020 às 16h03min

“Mangueiras precisam ser extintas”

A afirmação é da chefe da Casan de Palma Sola, Silvana Banfi, que diz que a água do município nunca mais será a mesma depois da estiagem deste ano

Larissa Dias
Da redação
Os reservatórios que abastecem a região estão passando pela época mais seca da história, e o alerta para uma nova crise de água está aceso. Segundo dados da Casan de Palma Sola, o município foi beneficiado com pelo menos 65mm em dois dias, mas precisa de no mínimo 200 para melhorar a situação do reservatório. Além disso, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), um em cada dez domicílios, com acesso à rede de distribuição, sofre com a falta d'água. Esta realidade pode chegar ao Oeste catarinense em breve.
Apesar das chuvas e do tempo úmido registrado nos últimos dias, muitos municípios ainda enfrentam algum tipo de problema no abastecimento impactado pela estiagem. Palma Sola, por exemplo, está trabalhando constantemente para evitar quaisquer medidas drásticas, como o racionamento de água. Segundo o responsável pelo setor de Defesa Civil, Douglas Ribeiro, as últimas chuvas consistentes, dentro da normalidade, foram registradas em maio de 2019. “A situação é crítica, não desesperadora, como acontece em Anchieta que está racionando o consumo de água”, completa.
 
Primeiras ações
Nos últimos dias, foi realizada uma reunião no gabinete do prefeito e contou com a presença da Casan, Polícia Militar, Bombeiros, Defesa Civil, Secretaria de Agricultura e Imprensa. O objetivo foi alertar sobre as medidas necessárias para mitigar a situação enfrentada pelo município. Segundo o engenheiro agrônomo da Epagri, Marcos Furlan, é possível que animais, como vacas leiteiras, acabem morrendo por falta de água e alimento, pois as plantações também foram impactadas.
Neste momento, o foco é conscientizar a população sobre o uso racional, como não lavar calçadas, veículos e casas, e reutilizar especialmente a água da máquina de lavar roupas. O decreto atual é de emergência, não de racionamento, e prevê multa de 1 ufir, em caso de desperdício. À redação, a responsável pela Casan, Silvana Banfi, relata que junto de outros setores, se estuda a possibilidade dessa cobrança. “Ela custará R$ 294 para residências e R$ 484 para comércios. Mas só será aplicada se o município decretar situação de racionamento”, esclarece.
“A partir do momento que precisarmos ir até um local e fechar os registros, e mesmo assim recebermos denúncias de desperdício, o indivíduo receberá a multa. Essa ação só será feita a partir do momento que não tiver mais água na rede, pois não temos como justificar e a agência reguladora é muito rígida referente a isso. Depois dessa pena, não há mais o que fazer, pois ela é o último grau que podemos chegar”, completa.
 
Auxílio aos produtores
O município vem prestando alguns serviços aos produtores rurais para amenizar os efeitos da estiagem, especialmente no abastecimento do interior. A Secretaria de Agricultura disponibilizou uma escavadeira hidráulica para que a limpeza na área de captação da Casan, localizada no rio Chicão, fosse executada. Além de máquinas para a abertura de bebedouros para consumo animal e proteção de fontes. Silvana destaca que, principalmente para agricultores, é de suma importância ter um poço profundo na localidade, mas ele pode acarretar em diversas dificuldades.
“Conseguimos perceber que como diminuiu a chuva, diminuiu o rio e o escoamento para os poços. Ele é essencial, mas se não tiver chuva, não regula como no rio. Tem lá a sua função, mas precisa ter muito cuidado, porque ele vem de uma vertente e se não escoar a água para o manancial subterrâneo não tem como ter água no poço. Quando chove e vem água no rio, nós conseguimos segurar um pouco, mas no poço ela pode demorar dias para filtrar, dependendo da profundidade. Com esse pouco de chuva que tivemos, para o rio nem faz diferença”, explica.
 
Medidas drásticas
O município palmassolense nunca precisou efetuar medidas drásticas referente ao abastecimento. “Este foi o primeiro ano que precisamos alertar a cidade, porque o interior sempre teve falta de água e só aumenta. Até já nos orientaram para começar a fechar os registros, mas como começou a chover essas medidas não foram tomadas. À princípio, seria estudada a possibilidade de fechar e fazer o racionamento, diminuindo a pressão. Quem tem caixa d’água não vai nem notar, mas quem não tem vai armazenar em qualquer copinho que tiver em casa”, exemplifica.
Para ela, há uma questão que precisa ser levada em consideração. “Se começarmos a fechar os registros, vai estourar cano para tudo que é lado, porque toda vez que é fechado, ele cria o que nós chamamos de ‘golpe de aríete’ e fica fazendo pressão até estourar. Cada vez que fechamos uma rede, aparecem dois ou três vazamentos, e se precisarmos fechar diariamente, não teremos pessoal suficiente para resolver esses problemas”, diz ressaltando que há mais de um ano está sendo convivido com um déficit negativo de mais de 600mm e que não choverá toda essa quantia nos próximos dias.
“As mangueiras precisam ser extintas, porque nunca mais teremos a água que tínhamos e essa é uma consciência que o povo precisa ter. Essas questões de limpeza, como lavar carro, calçada, telhado e outros, poderá ser feito apenas por aqueles que tenham uma cisterna ou um reuso de água, pois a água tratada não é destinada para esses fins. A população precisa se adequar à nova realidade e começar a pensar se quiser ter água nos próximos dias”, clarifica.
 
Para onde recorrer?
Segundo as previsões meteorológicas, a previsão de normalização está prevista para janeiro. Entretanto, municípios da região estão recorrendo a outros para buscar água para se abastecer, o que é o caso de Anchieta, que recorre a Campo Erê. A situação é drástica, pois todos os reservatórios estão praticamente secos.
Felizmente, o município palmassolense é rodeado por açudes, que serão os próximos pontos de extração. “Se precisarmos de água, teremos que recorrer aos açudes, como o do Jaime Link entre outros que ficam perto da cabeceira dos rios, porque rio mesmo não vai ter. Se for ver, Palma Sola ainda está bem na foto e tem onde se socorrer, mas se continuar como está, isso não durará muito”, finaliza Silvana.

 
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