O Brasil é um dos piores países em termos de representatividade política feminina, ocupando o terceiro lugar na América Latina em menor representação parlamentar de mulheres. A operação logística é da União Interparlamentar (Inter-Parliamentary Union), com sede na Suíça. No ranking, a taxa brasileira é de aproximadamente 10 pontos percentuais a menos que a média global e está praticamente estabilizada desde a década de 1940. Isso indica que além de estarmos atrás de muitos países em relação à representatividade feminina, poucos avanços têm se apresentado nas últimas décadas.
Esse cenário se observa em todas as esfera do poder do Estado. Desde as câmaras dos vereadores até o Senado Federal. Mesmo com uma perspectiva de que 51% dos eleitores são mulheres. Embora existam cotas eleitorais (lei que assegura uma porcentagem mínima de 30% e máxima de 70% a participação de determinado gênero em qualquer processo eleitoral vigente), esse mecanismo pouco tem contribuído para melhorar a atuação e a chegada das mulheres aos cargos do governo brasileiro.
O Sentinela explorou novamente essa questão, dentre outras relacionadas ao tema “Mulher, Jovem e Política”, entrevistando a vereadora petista, Laura Conceição Trevisan, de apenas 22 anos, uma entre as duas mulheres eleitas na Câmara de Vereadores de Campo Erê. Acompanhe a entrevista:
Laura, por que se candidatou?
Sempre fui do “fervo” da política. Cresci no meio das campanhas. Mas essa foi a primeira vez que me envolvi, de verdade. Já tive muitos familiares candidatos, que nunca chegaram a se eleger; fui a primeira da família. A família de casa, nunca foi muito da política, o gosto vem dos tios de fora. Além disso, sempre quis ser vereadora, mas pensava que seria daqui uns 10 anos, não agora!
E por que se filiou ao Partido dos Trabalhadores?
Sempre gostei do modo que o partido trabalha. Tenho como inspiração a prefeita eleita, Rozane Moreira, que fez um ótimo trabalho como vereadora, representando o PT. Além da deputada petista Luciane Carminatti. Acredito que se não fosse por esse partido, não teria outro pra mim ser candidata. Claro que a questão partidária é só uma questão, pois precisamos de um, e eu sempre olhei para todos os lados, buscando o melhor de cada. Mas me filiei a esse porque eu sempre conheci e sempre estava envolvida, onde também, sempre tive mais afinidade com os deputados.
Conte-me mais sobre o convite a candidatura:
Teve reuniões do partido, e me convidaram. Lembro de um momento que marcou minha vida, para sempre, do pessoal da Linha São Roque, onde boa parte da minha família está, dizendo que eu era a candidata daquela região. Depois daí, fui amadurecendo a ideia e quando realmente decidi, estava confiante que iria ganhar e que iria fazer um bom trabalho, visando sempre o melhor. Eu acho que não adianta estar na Câmara e não fazer o melhor, não trabalhar pelo povo, pois foram eles que nos colocaram aqui. Quando comecei a campanha, dei meu máximo, e o resultado veio, mesmo concorrendo com outros 80 e poucos candidatos. Foram 219 votos. Falta-me palavras para agradecer.
O que podemos esperar da sua gestão?
Como mulher e jovem também almejo criar uma ponte entre a política e a juventude, pois percebo que existe uma falta de incentivo nesse quesito, os jovens são não só o futuro da política e das boas decisões, como também o presente, e é por isso que devem ter sua voz. Espero em minha gestão fazer um trabalho com honestidade e humildade, pensando primeiramente nos munícipes, sempre em busca de escutar os problemas, fiscalizar os trabalhos e atender as necessidades da população. Sou uma representante do povo, foram eles que me escolheram e é para o bem estar deles que vou lutar e trabalhar.
Eu quero trabalhar pelos jovens, pois merecemos um lugar para lazer, pelos universitários que nunca tiveram um apoio financeiro para ir para a faculdade, por nós mulheres, algumas atividades diferentes para interação entre nós, algumas mateadas, gincanas, sorteios e afins, saúde e estradas de boa qualidade. Exercer corretamente a função de um vereador que é fiscalizar as obras públicas e lutar por um município melhor. Pretendo buscar algumas academias para os idosos e olhar com carinho para os agricultores.
Sou formada em Educação Física, tenho Licenciatura e Bacharel, e mais uma pós-graduação em Educação Física Escolar. Me aperfeiçoei na minha profissão, pois os meus alunos merecem o melhor de mim, e assim como eles, o meu município, que merece o meu melhor como vereadora.
O que gosta na política?
Eu gosto da política, pelo simples fato de poder, por meio dela, fazer um pouco mais pelas pessoas. Já fui vice-presidente do Leo Clube, e foi ali onde pude conhecer a realidade de muitas famílias. Eu gosto que as pessoas notem que me preocupo com elas, adoro ouvi-las, atendê-las. Estou tentando formar um grupo de jovens para falarmos mais sobre o assunto, mas está difícil, pois eles não se interessam, não querem ter opiniões próprias. Como eu já disse, eles são o presente e o futuro da nossa humanidade. Eu ficaria muito feliz se mais jovens se envolvessem nesse meio. As mulheres falam tanto em se ajudar, em se valorizar, mas não fazem muito por elas mesmas. Eu fiquei em choque quando soube que só duas mulheres se elegeram aqui. Elas preferem eleger outros, do que lutar em prol delas mesmas.
Conte-me também de como se sentiu quando soube que havia se elegido:
Na carreata foi uma loucura, porque sabíamos da Rozane, mas não sabíamos dos vereadores. Foi uma emoção inexplicável, ainda mais quando soube que me elegi. Quando tivemos a eleição da diretoria da Câmara, fiquei como secretária da chapa, agora preciso ler os projetos. Sair da nossa zona de conforto é gratificante!
Cansei de viver na mesmice de sempre, de não ser ouvida, foi por isso que decidi ser candidata, pois quero ser ouvida. Eu quero uma carreira política, por isso prezo tanto pelo meu bom trabalho, pois se eu fazer uma boa gestão, quero seguir em frente. Ambiciono também ser prefeita, no futuro, quem sabe deputada. Se eu realmente puder ser quem eu sou, continuarei, pois tem muito daquilo que na política você não pode ser quem é, se isso acontecer aqui, já sei que não é meu lugar. Eu quero decidir sobre o que eu quero e acho certo. É uma conquista nossa, da minha família, dos jovens, de todos. São os meus munícipes. Quero fazer a diferença! E como dizia a vereadora do Partido Socialismo e Liberdade, Marielle Franco (em memória): Não serei interrompida!