Os avanços na área de reprodução animal contribuíram para tornar o Brasil referência mundial em genética bovina. Além de líder na produção de embriões
in vitro, o país já comercializou mais de 12 milhões de doses de sêmen nos últimos três anos. Diversos profissionais qualificados defendem que o melhoramento genético poderia ter resultados ainda maiores, se os pecuaristas elevassem os investimentos em tecnologias de reprodução, como a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF).
A técnica permite inseminar todos os animais da propriedade sem a necessidade de observação de cio (considerada um dos maiores gargalos da inseminação artificial em todo o mundo), maximizando, assim, o número de vacas prenhas. As fazendas que utilizam o método registram maior número de vacas emprenhadas no início do período de monta do que aquelas que usam monta natural (apenas touros para cobrir a vaca). Um levantamento feito em uma propriedade rural de pecuária de corte mostrou que, para cada 100 fêmeas submetidas à indução do ciclo na IATF, houve uma elevação de 8% no número de bezerras nascidas.
Buscando melhorias
Com o intuito de melhorar a reprodução de gado na região, especificamente em Palma Sola, os médicos veterinários Daniel Link e Michel Menin, passaram a investir nesta área, por meio da empresa Repronutri, inaugurada nos últimos dias. Com objetivo de prestar assessoria reprodutiva e nutricional para bovinos, além de avaliações ginecológicas com ultrassonografia, o novo espaço, localizado na Avenida Claudino Crestani, visa aumentar a rentabilidade das propriedades palmassolenses.
De acordo com Daniel, mais conhecido como Duda, Santa Catarina é um dos poucos que não permite o transporte de bovinos de outras regiões para seu território. Ele cita que a genética é muito restrita, sendo permitido apenas a forma de sémen ou embrião, ou seja, a deslocação do animal não vivo. “Pretendemos, com a nossa empresa, atender essa parte de melhoria genética, voltada a inseminação. Tanto pela IATF quanto por transferência de embrião”, esclarece.
Funcionamento
Michel declara que o escritório começou a funcionar em janeiro, já prestando assessoria a propriedades familiares do município. Por agora, o direcionamento está voltado a fechamentos de contratos e parcerias com representantes, visando ampliar a empresa, estruturar laboratórios, espaço para medicamentos, entre outros. Segundo ele, dentro de uma fazenda, entende-se que há vários setores, e todos devem se complementar para que exista um bom desempenho.
“Desejamos auxiliar desde gestão financeira até a parte reprodutiva, que é o nosso foco, mas também prestar auxílio à sanidade, manejo, pastagem, tudo que faça com que o ciclo reprodutivo funcione bem e traga retorno financeiro para o pecuarista”, explica ressaltando que o projeto que visa aumentar a rentabilidade da produção beneficia desde propriedades pequenas, com 10 a 50 animais, a grandes propriedades, com mais de 300 animais. “Não olhamos pequenos ou grandes rebanhos, queremos aumentar a rentabilidade de cada produtor”, conclui.
Duda explica que para aumentar a rentabilidade de uma fazenda, é preciso englobar toda produção, desde a parte nutricional, manejo e pastagem. Para ele, se uma vaca não procria ou gera leite, não possui utilidade alguma para o produtor. “Dentro de uma fazenda de corte, se uma vaca não gera um bezerro, é como um funcionário que não trabalha, mas recebe o salário. É só gasto, sem nenhum retorno”, complementa.
Não deter de uma estação de monta ou genética favorável, não rende lucros a propriedade. “Um agricultor compra um bezerro meio sangue de leite, e quer torná-lo um boi carcaça ou pra engorda, não adianta. Igual uma pessoa que não tem genética para engordar, pode comer o tanto que for, que não vai engordar. Ter uma genética adequada e boa é o principal, assim você consegue vender o bezerro no preço que quiser”, acrescenta Daniel.
Benefícios ao produtor
Os dois frisam que a empresa não garante uma evolução genética repentina, mas gradativamente haverá aumento nos lucros. Michel cita que se a propriedade não for eficiente, terá prejuízos, exemplo: tendo 100 vacas, e apenas metade gerando bezerros, a outra estará em desvantagem, e os resultados estarão em 50%. Explica que cada animal tem a sua função, seja produzindo leite, carne ou vitelo; caso contrário só traz prejuízo, do ponto de vista financeiro.
“O produtor palmassolense tem medo de se render a novos métodos para auxílio na produção, mas mostrando números e exemplos, ele se interessa. Hoje, a bonificação pelo leite é muito baixa. Ele trabalha muito, gasta horrores com insumos, mas recebe pouco por todo serviço. Para ele aderir a um programa como esse, precisa ver resultado. Devagar estão vindo e se abrindo a novas ideias”, comenta.
Gestão da propriedade
Conforme Daniel, o leite está sem um preço fixo, assim como todo insumo necessário para a alimentação animal. Ele explica que executar a gestão de uma propriedade é complicado, ainda mais nos dias de hoje, onde tudo é visto como custo, não investimento. “Essas formas que estamos apresentando é para tentar dar uma liquidez melhorada à propriedade. Há situações em que o produtor pensa que a vaca está prenha, mas, na verdade, é um problema no ovário ou no cisto folicular. Ela não mostra cio, não recebe ultrassom ou até palpação para confirmar a prenhes, ocasionando uma perda de lucro”, discorre.
Uma vaca que fica quase dois anos sem parir, segundo Menin, compromete a produção e a rentabilidade da fazenda. De acordo com ele, o produtor entende que a reprodução seria o motor da propriedade, mas, muitas vezes, acredita que seria mais fácil deter de um touro ou chamar um técnico quando possível, sem lembrar que o animal possui um ciclo astral de 21 dias, fazendo necessário acompanhamento mensal.
“Nossa proposta é estar mensalmente na propriedade, acompanhar todas as vacas. Se ela não gerar num ciclo, vai no próximo, e assim por diante. Vamos procurar o problema das que não estão emprenhando e assessorar em tudo que for possível. Conferir o problema e resolver”, sobressai Duda destacando que num ano de estiagem, como 2020, que provavelmente faltará alimento para a criação, por conta de problemas nas plantações, é difícil manter uma vaca que não está prenha no cocho, sem gerar lucro, é como “um tiro no pé”.
Assessoria
Os valores dos atendimentos variam conforme a realidade da fazenda. O serviço começará com os dois médicos se deslocando até o local, de forma gratuita, entendendo os problemas, conhecendo as plantações, o gado, as vacas prenhas, podendo executar até ultrassons se for necessário. A partir da avaliação, encaminham a proposta ao proprietário, estando abertos a alterações e possíveis parcerias.
Este não é especificamente um trabalho mensal. Os dois estão disponíveis para prestar assessoria sempre que necessário, na forma de consultas. O foco do trabalho é a gestão de reprodução dento de uma propriedade, mas sem esquecer que são veterinários e que estão à disposição para outras ações. Entretanto, não pretendem executar atendimentos clínicos e cirúrgicos; nestes casos, o serviço será repassado a Andrei Viêra, veterinário de confiança em Anchieta.
Busca por inovações
Os dois estão à procura de um funcionário para trabalhar como secretário e colaborar nos atendimentos. “Como estamos finalizando a estrutura da empresa, queremos chegar com um portfólio forte para o produtor. Mais pra frente queremos começar a vender embriões aqui no escritório”, lembra Daniel informando que desejam trabalhar exclusivamente na região de Palma Sola, e onde conseguirem prestar serviços de qualidade. “Tudo vai depender da demanda dentro do município. Se ela for alta, vamos contratar mais pessoas ou ter uma cartilha de clientes fechada”, finaliza.