05/05/2021 às 14h45min - Atualizada em 05/05/2021 às 14h45min
O massacre na escola em Saudades
Em entrevista ao Sentinela a psicóloga Francieli Perondi trata sobre a tragédia numa creche de Saudades-SC, quando um homem de 18 anos invadiu uma escola, matando a facão três crianças de 1 ano de idade e outras duas professoras
Da redação
Reprodução Quando uma notícia profundamente triste como essa é divulgada e chega ao nosso conhecimento, algumas perguntas aparecem imediatamente em nossa mente:
Por que alguém faria isso? O que tem na mente de uma pessoa como ele?
Palavras como doente mental, psicopata, uma pessoa má, também surgem em nossos pensamentos como forma de explicar o inexplicável. Afinal, o que leva alguém a planejar um ataque a uma escola, matar crianças e adultos inocentes, ter o sangue frio de causar um mal tão terrível a pessoas que não lhe fizeram nada. Segundo a polícia o assassino tentou suicídio.
O psicólogo americano Peter Langman é um profundo estudioso do tema, tendo pesquisado sobre centenas de ataques em escolas nos Estados Unidos e em outros países. Ele classificou três grupos de assassinos: os traumatizados, os psicóticos e os psicopatas (hoje em dia o termo correto para psicopata é Transtorno de Personalidade Antissocial - TAP).
Os traumatizados tinham histórico de abuso por parentes ou famílias desestruturadas, com casos de violência ou dependência química. Os psicóticos apresentavam sinais de esquizofrenia ou algum transtorno de personalidade. Entre os sinais estavam alucinações, delírios ou paranoias. Por fim, os psicopatas (TAP) tinham os sintomas clássicos do quadro, como narcisismo, ausência de empatia e sadismo.
Embora, especialmente nesse momento, seja difícil encontrar a causa, ou uma justificativa plausível, é comum que muitas hipóteses sejam levantadas. Alguns populares e conhecidos já levantaram a questão de que o jovem que invadiu a escola e atacou as crianças e professoras, gostava de jogos violentos. No entanto, não podemos apontar isso como causa, uma vez que milhões de jovens jogam videogame e nunca mataram ninguém, então não há uma ligação direta entre quem joga e a prática de atos violentos.
Outra questão que foi levantada é o Bullying associado a problemas de personalidade. A forma como cada pessoa lida com uma situação como essa está associada à maneira como ela interpreta a realidade. Alguém que sofreu bullying pode reagir na hora, outra pessoa acaba desenvolvendo fobia social, ou ainda pode nutrir um desejo de vingança, enquanto há aqueles que pedem ajuda aos pais e professores, superam o acontecido e levam a vida à diante. O que define como cada um vai responder a situação está ligado a forma como ele se vê e como vê a vida que tem.
Mas uma característica incomum costuma unir os assassinos em massa estudados por Langman: o desejo de serem notados, vistos, lembrados. “Algumas pessoas tendem a pensar que atiradores em escolas e assassinos em massa são suicidas, mas esse é o caso somente em metade das vezes. Muitos desses atiradores são tanto suicidas quanto homicidas. Eles querem morrer, mas não sozinhos e de forma insignificante”, afirma o psicólogo.
Conforme ele, os assassinos desejam que os outros paguem pelo sofrimento deles, querem se vingar de alguma forma. Eles costumam ansiar por fama e reconhecimento, o que é alcançado através da alta cobertura da mídia e nas redes sociais. “Eles não querem morrer sozinhos – desconhecidos e insignificantes. Eles tentam dar algum tipo de significado maior a suas vidas e a melhor forma que encontram de fazê-lo é, infelizmente, por meio da violência”, afirma.
Ainda segundo o psicólogo americano, muitas vezes, os assassinos de escolas se sentem anormais, estão deprimidos, não são bem-sucedidos socialmente (muito menos na parte amorosa). Eles olham ao seu redor e veem que os outros estão felizes e com sucesso e há uma profunda inveja. “Isso pode evoluir para o ódio, porque isso não parece justo que eles sofram e os outros não”, afirma.
De uma forma ou outra, agora, o que nos resta é lidarmos com as perdas inestimáveis de vidas inocentes, analisarmos o que aconteceu e pensarmos em que papel cada um de nós tem para tentar evitar que tragédias como essa voltem a acontecer.