10/12/2021 às 16h32min - Atualizada em 10/12/2021 às 16h32min

1º Encontro das Mulheres do Agro

O evento contou com a presença de mais de 100 mulheres de toda a região

Da redação
Sofia S. Bertolin
No dia 4, ocorreu em Campo Erê o Primeiro Encontro das Mulheres do Agro em parceria com o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). O evento contou com a presença de mais de 100 mulheres de toda a região, o superintendente do SENAR SC, Gilmar Antônio Zanluchi e sua esposa Andreia Zanluchi que é assessora jurídica do SENAR e responsável pelo departamento sindical; contou ainda com a presença da supervisora regional do SENAR Graciane Bitencourt e Paloma Begoraro, engenheira agrônoma e representante da mulher no agro da região meio oeste.
A vice-governadora, Daniela Reinehr (PL), não pôde se fazer presente, mas enviou um vídeo, parabenizando e exaltando a presença da mulher no agro. 
Realizar este encontro foi ideia da presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Campo Erê, Juliane Beltrame, a primeira mulher a assumir a presidência da entidade. “Em agosto fui visitar Saltinho e em uma reunião das mulheres propus da gente se encontrar, para compartilhar conhecimento e dar voz para as mulheres, que dentro da porteira sabem onde tem a vaca, sabem capinar, cuidar das crianças, fazer comida e dão um jeito em tudo. Precisamos desta mulher liderando, gestando e trazendo novas ideias para a propriedade”, afirma Juliane.
Este é o primeiro de muitos encontros que as mulheres do agro pretendem fazer, o objetivo é representar o estado de Santa Catarina no Congresso Nacional das Mulheres. “A frase ‘lugar de mulher é onde ela quiser’ é cada vez mais vista na prática porque o agro está inserido em tudo. O setor ainda é predominantemente masculino, mas a presença da mulher no agro vem crescendo nos últimos anos, seja atuando nas fazendas, indústrias, laboratórios, ou empresas. A atuação feminina no campo representa um grande potencial de desenvolvimento. Lembro da importância da participação dos filhos na propriedade e da sucessão familiar, pois são eles as nossas futuras lideranças”, ressalta a presidente.
Durante o evento foram realizadas várias atividades como sorteio de brindes, apresentações musicais e palestras. Uma delas foi com a policial civil Angélica de Oliveira e com a assistente social Maristela Naue Gobatto, que falaram sobre a violência contra a mulher. O tema ainda é invisibilizado por causa de particularidades do campo, como a distância geográfica das fazendas, que dificulta acesso a serviços e comunicação.
“Muitas apanham do marido, mas ficam caladas pensando como sustentarão os filhos em caso de separação. Tem aquelas que ajudam na fazenda, tirando leite, fazendo muitos trabalhos, mas quando chega o final do mês, o marido pega todo aquele dinheiro pra ele e faz o que quer, a mulher nem vê”, relata Juliane, que por ser advogada acaba atendendo muitos casos de violência de diferentes tipos, como física, psicológica e patrimonial. “Atendo pessoas aqui que vivem há 30 anos uma relação abusiva, mas estão esperando as crianças crescerem para poder sair de casa, isso acontece no nosso município, de modo velado, mas acontece. Mexer nessa discussão, trazer à tona é necessário”, ressalta Juliane.
A relação tóxica vai podando as mulheres: “Ah você não precisa ter celular”, “Você não precisa ir junto pra cidade”. São ações como estas que isolam a mulher no campo, tornando mais difícil sair de uma situação de violência psicológica, patrimonial ou física. Além disso, existe toda a crença no casamento e vergonha de mostrar que está nessa situação. “Um dos nossos objetivos com o encontro é que a mulher desenvolva o amor próprio, desenvolva o amor e entenda a importância de ter saúde física e mental. A partir do momento em que ela aprende, participa de cursos, eventos e desenvolve o lado profissional, ela se mune de muitas coisas que fazem com que ela não fique em uma situação onde sofre violência”, afirma Juliane.
Juliane lembra ainda que as mulheres que sofrem violência podem pedir ajuda com um sinal criado pela Campanha Sinal Vermelho, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Por meio de um “X” escrito na palma da mão, ou em um pedaço de papel, as vítimas podem, de maneira discreta, sinalizar a situação de vulnerabilidade a funcionários de cartórios, prefeituras, órgãos do Judiciário e agências bancárias. 
Em seu discurso no evento Juliane destacou que não é uma unha pintada que define a competência da mulher: “Uma colega minha é veterinária, contou que não pintava as unhas para ir até as propriedades fazer atendimentos, eu perguntei o porque e ela me disse que eles não a achavam competente. Logo depois ela começou a pintar a unha, ia nas propriedades e continuava sendo competente, então não é uma unha que irá nos desvalorizar”.
Além do sorteio e das apresentações musicais, as mulheres participaram fizeram exercícios de alongamento com uma fisioterapeuta e tiveram um lanche diferenciado.
 
 

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