02/02/2022 às 11h26min - Atualizada em 02/02/2022 às 11h26min

O domador de cavalos

Há sete anos Ezequiel iniciou seu trabalho com a doma, hoje ele vive somente da lida na doma de cavalos

Da redação
Sentinela
Ezequiel Vigano tem 24 anos, vive em Campo Erê, e trabalha domando cavalos há 7 anos. Em seu Centro de Treinamento (CT), ele doma cerca de 12 cavalos. Em entrevista ao Sentinela ele explica qual é o processo para domar um cavalo, desde a chegada ao CT até a entrega do animal ao proprietário.
 
Ezequiel
A família de Ezequiel sempre trabalhou com animais de fazenda. Desde criança ele frequentava os rodeios, aos 12 anos aprendeu a laçar, desde então seu amor pelos animais só cresceu.
Aos 17 anos se formou no ensino médio e começou a cursar veterinária em Dois Vizinhos. Após seis meses ele trancou a faculdade. “Todos diziam que eu tinha jeito com os cavalos, íamos no CTG e nos rodeios, nisso me davam uns cavalos meio bravos e eu os deixava mais mansos. Mas isso sem cursos e sem noção de doma”, conta Ezequiel.
Foi quando surgiu a ideia de trabalhar com os cavalos. Com o apoio do pai, Ezequiel começou a procurar CT’s onde pudesse se alojar, para que além da doma, ele aprendesse o dia a dia e a condução de um centro de treinamento. 
O primeiro CT visitado foi em Viamão-RS, infelizmente o lugar não era o que parecia. “O lugar era mau cuidado. Então meu pai disse que eu não ficaria lá. Nisso voltei para casa bem desanimado”, explica o domador de cavalos.
Com o incentivo da família ele continuou procurando. Em janeiro de 2015 ele encontrou o CT de Daniel Cruz, em Curitiba. Em fevereiro Ezequiel já estava no CT, ficou lá por dois meses. “Ele é um cara sensacional. Eu não precisava ajudar a limpar a cocheira nem fazer este serviço, porque estava pagando para aprender, mas eu limpava e ajudava para aprender, era isso que eu queria, aprender as lidas do dia a dia. Daniel me deu livros, me ensinou como tratar e se portar com os clientes. Cheguei sabendo encilhar um cavalo e laçar, com ele aprendi tudo, a doma e a base do treinamento, como o freio de ouro”, relata Ezequiel.
O pai de Ezequiel iniciou a construção de um pequeno CT, com cinco cocheiras, na propriedade da família. Quando chegou em casa Ezequiel tinha um cavalo para domar, do pedreiro que ajudou na construção do CT. O começo não foi fácil. “Em Curitiba eu tinha alguém que me corrigia, em casa não, eu tinha que perceber meus erros e acertos. Na época tinha internet, então eu consegui conversar com o Daniel e explicar a situação. Até hoje trocamos ideia e ele me ajuda quando precisa”, diz Ezequiel, reforçando que no mundo dos domadores de cavalo a troca de conhecimentos é fundamental.
Depois de quatro anos o trabalho de Ezequiel começou a ficar mais conhecido. “Levava os cavalos nos rodeios, nisso o pessoal foi vendo meu trabalho e gostando, os cavalos estavam sempre bem cuidados e o CT era bem organizado. De repente tinha 8 cavalos para domar. Disse pro pai que era isso mesmo que queria fazer, estava dando certo, então resolvemos investir, fiz mais cursos, com profissionais renomados dentro do mundo dos cavalos. Até hoje busco fazer cursos para me especializar ainda mais. Também construímos um novo CT”, conta o domador.
O novo espaço possui 12 cocheiras, uma nova pista, redondel e espaço para receber os clientes. Ezequiel afirma que com a nova estrutura, realmente profissionalizou seu trabalho, hoje ele vive somente da doma de cavalos.
 
Doma
As pessoas acham que é fácil domar um cavalo, mas o processo é longo e lento. Ezequiel fica no mínimo seis meses com o cavalo, o que segundo ele, é pouquíssimo tempo. Muitos domadores seguram os cavalos por um ano ou até mais, para que o cliente não precise se preocupar com o animal.
“Meu maior público é de fora, tenho clientes de Campo Erê, mas é pouco. Na nossa região o pessoal está um pouco atrasado no quesito cavalo, eles querem cavalo para fazenda, trabalho não para cavalgadas ou rodeio. Então o cavalo não tem tanto valor e muitas vezes a doma se torna mais cara do que o animal. É pouca gente que quer um animal bem domado para puxar uma carroça, cavalgada ou pra laçar”, ressalta Ezequiel.
Quando o animal chega ao CT existem duas situações: ou ele é manso de buçal, usado para puxar carroça, ou é totalmente chucro. No último caso, o cavalo vai direto para o redondel. “No espaço redondo o cavalo fica em contato direto comigo e uma hora vai começar a prestar atenção em mim. Eu fico parado, assim ele vê que não sou uma ameaça, depois tento me aproximar, se ele foge começo a fazê-lo se movimentar, primeiro para a esquerda, depois para direita. O cavalo é um animal que armazena energia, ele vai correr se precisar ou se assustar com algo, mas não fica gastando energia à toa, então uma hora ele percebe que é melhor ficar parado e aceitar aproximação. Chamamos de pressão e alívio, é assim que o cavalo aprende. Eu dou a pressão, se ele me mostra sinais positivos eu dou o alívio”, enfatiza o domador.
Quando o animal dá alguns sinais, como cabeça baixa e cola relaxada, Ezequiel pode começar a trabalhar. Ele coloca o buçal e deixa o animal se acostumar com o objeto.
Em seguida é preciso tirar as cócegas ou vulnerabilidades do animal. Na natureza o cavalo é presa, se levar uma mordida na virilha ele vai sangrar até morrer, então ele não deixa encostar facilmente. O lombo, onde vai a montaria, é outro local sensível. Para que o animal se acostume com os toques. Ezequiel passa uma corda e uma varinha com uma bolsa nesses locais. Depois de um tempo é possível passar a mão e mexer nas patas do animal a vontade.
Posteriormente, a manta e a sela são apresentadas para o cavalo. “Dou a manta para ele cheirar, depois passo essa manta no corpo dele, dos dois lados. Quando ele está bem calmo, coloco a manta no lombo dele como se fosse encilhar. Repito o processo com a sela. Nisso dou o primeiro aperto da barrigueira, é a primeira vez e ele pode se assustar. Aí eu o faço caminhar de novo, o mesmo procedimento, se quiser pular vou fazê-lo correr. Pressão e alívio, até ele ver que a sela não machuca”, frisa Ezequiel.
Seguidamente o cavalo recebe a primeira embocadura: o freio bridão. Tudo isso é ensinado do chão. Ezequiel só monta no cavalo quando ele está bem manso, às vezes isso demora uma semana ou até um mês. “Para montar as primeiras vezes eu fico ao lado do cavalo e dou alguns pulos para que ele se acostume. Quando consigo montar vou ensinando-o a virar, parar, recuar, galopar em círculos, depois disso vamos para a pista e vou alinhando o cavalo. Quando ele está fazendo tudo de freio bridão, é a hora de enfrenar”, destaca o domador.
O freio duro é passado pelas rédeas, cernelha e amarrado por baixo das pernas do cavalo. Então o processo recomeça, às vezes são 20 dias para se acostumar com o novo objeto e Ezequiel poder montar novamente. “Inicio o trabalho de flexionamento, amolecer a nuca, amolecer costela e vou trabalhando o corpo dele, pois não adianta ter controle somente da boca, é preciso ter o controle de todo o corpo do cavalo. Depois é hora de ensinar ele a laçar pela primeira vez. Mexo muito com cavalo de laço, cavalgada, mas depois o proprietário pode direcionar o animal para a atividade que ele quiser”, afirma o cavalo.
Quando o cavalo se acostuma com o laço não tem muito o que fazer, Ezequiel exercita o animal e então é hora de entregá-lo ao proprietário.
O trabalho é realizado com calma e respeitando o tempo do animal, alguns demoram mais e outros menos. “Esses processos são feitos todos os dias, uma vez ao dia. No primeiro contato eu não paro até que o cavalo me dê uma resposta positiva. Quando ele começa a responder trabalho cerca de uma hora por dia com cada animal. Às vezes acontece de um animal sentir um pouco mais a doma, dar uma emagrecida, ou estar estressado, nesses casos damos para o animal alguns dias de descanso, respeitando seus limites. Todos os animais são soltos todos os dias, eles só não saem quando chove, mas os cavalos precisam correr e brincar”, explica Ezequiel.
Atualmente Ezequiel está trabalhando com 12 cavalos. “Tenho vontade de fazer mais, ter umas 20 cocheiras. Hoje eu tenho um ajudante que lava os cavalos, limpa cocheira, organiza galpão e eu fico só na doma. Aqui temos uma rotina, iniciamos às 6h, quando os cavalos recebem feno molhado, às 7h eles comem ração. Ao meio dia eles comem aveia molhada. Às 17h recebem feno molhado e às 18h eles ganham aveia novamente. Lembro que os cavalos dão respostas lentas à doma, tiramos menos de 1% dele por dia, por isso o processo é longo”, finaliza o domador de cavalos.

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