21/02/2022 às 15h37min - Atualizada em 21/02/2022 às 15h37min

Vão ganhar dinheiro com merda!

Um grupo de agricultores de Salgado Filho montou a Coopenad - Cooperativa dos Produtores de Energia e Adubo. O investimento previsto é de R$ 12 milhões.

Da redação
Divulgação
Salgado Filho
Diante da dificuldade em reaproveitar dejetos de suínos e aves, um grupo de agricultores de Salgado Filho, decidiu construir uma usina de produção de biogás e montou a Coopenad – Cooperativa dos Produtores de Energia e Adubo. A usina irá produzir energia através dos dejetos dos animais. No Brasil e na região existem usinas que produzem energia a partir de biogás, porém não no formato de cooperativa. A Coopenad inova em colocar todos os produtores como donos do negócio e além de utilizar o gás metano naturalmente produzido a partir da fermentação dos dejetos de suínos e aves, irá produzir adubo orgânico em grande escala.
 
A cooperativa
A renovação das Licenças Ambientais é uma das dificuldades enfrentadas pelos agricultores, especialmente na ampliação das granjas de suínos e aves, pois o IAT – Instituto Água e Terra, exige um projeto de utilização dos dejetos dos animais, indicando inclusive as áreas onde este material será aplicado. O mais comum é depositar os dejetos crus no solo, como forma de fertilizante.
Conforme os solos acumulam nutrientes, provenientes dos dejetos, os produtores de proteína animal precisam de áreas cada vez maiores para a aplicação deste material. Outro problema presente, que ocorre com as ampliações das granjas, é a necessidade de esterqueiras cada vez maiores para armazenar os dejetos. Além da ampliação destas estruturas a manutenção delas é consideravelmente alta.
Uma das alternativas é o uso de biodigestores. Acontece que a solução não é economicamente viável, uma vez que, o retorno do investimento é demorado se tratando de pequenas unidades. Diante disso, surgiu a possibilidade de montar uma unidade grande, que atendesse a todos os produtores.
Assim nasceu a Coopenad – Cooperativa dos Produtores de Energia e Adubo, que atualmente conta com 45 suinocultores e avicultores associados.
 
Início

Um dos envolvidos empenhados na viabilização do projeto é o engenheiro agrônomo, Volmir Kennedy Anater. Volmir conta que, após estudos e visitas a unidades produtoras, foi realizada reunião com os produtores do município no dia 12 de novembro de 2020. Já no mês seguinte, os agricultores envolvidos visitaram a usina de Enerdimbo em Ouro Verde do Oeste.
Em janeiro de 2021, uma empresa foi contratada e realizou o estudo de viabilidade para implantação da usina. No dia 23 de fevereiro a empresa apresentou o relatório situacional e a proposição de arranjos técnicos. Nesse momento os produtores elegeram qual arranjo seria estudado. As alternativas incluíam a construção de uma usina que atenderia apenas produtores localizados em um raio de cinco quilômetros; a outra atenderia todos os interessados. Optou-se pela segunda opção.
Em abril foi apresentado o estudo de viabilidade. Em junho os produtores realizaram a Assembleia Geral de Constituição da Coopenad, com eleição dos Conselhos de Administração e Fiscal. Ainda neste mês ocorreu reunião apenas com as esposas dos associados, inteirando-as sobre o projeto. Esta foi uma etapa importante, porque consolidou unidade entre os produtores e associados.
“No dia 20 de setembro de 2021 realizamos uma confraternização com os envolvidos, empresas contratadas para realizar terraplanagem e fornecedores de equipamentos. No dia 22 foram iniciados os trabalhos de terraplanagem”, conta Volmir.
A área é de 12 hectares, incluindo um barracão de 80m², três barracões de 1.200m² cada, dois biodigestores de 40m de diâmetro, quatro lagoas com área de lâmina d’água de 4.000m². O total de área construída é de aproximadamente 2 hectares.
A previsão é que a usina produtora de energia seja inaugurada em julho de 2022, e a fábrica de adubo em setembro de 2022. Serão investidos aproximadamente R$ 12 milhões, o retorno do investimento deve vir em 5 anos. Pela lógica depois destes 60 meses deve sobrar para os 45 associados mais de R$ 200 mil por mês.
 
Usina
A usina está sendo instalada na Linha Concórdia, zona rural de Salgado Filho. Após sua conclusão, inicia a coleta dos dejetos nas propriedades. Os dejetos de suínos serão transportados por caminhões, com tanques apropriados para este transporte. Para os dejetos de aves o transporte será realizado por caminhões caçamba. O transporte envolverá quatro caminhões e será realizado de segunda a sábado. Ao chegar na usina os materiais serão misturados.
A parte sólida é encaminhada para os processos de compostagem e posterior transformação em fertilizantes e a liquida é conduzida para os biodigestores, onde ocorre a fermentação deste material e liberação do biogás. Esta fração segue um fluxo, e após passar pelos dois biodigestores será armazenada em quatro lagoas que a usina tem disponível. “Parte deste material volta para as propriedades e o restante será doado a outros produtores para utilizar como fertilizante líquido”, destaca Volmir.
O biogás passará inicialmente, por dois processos de purificação, especialmente para a eliminação do gás sulfídrico, utilizando primeiro a ingestão de oxigênio, em seguida, o gás passa por processo de resfriamento. Após a purificação, ele será utilizado como combustível para os motores, que acionam as turbinas e produzem energia.
Em primeiro momento a usina vai trabalhar com três motores e três geradores, que tem capacidade para produzir 505.157 kWh/mês, o equivalente para abastecer mais de 1.900 residências. Toda a anergia produzida já tem comprador. A Coopenad tem um pré-contrato com a Paraná Energia, uma cooperativa de comercialização de energias alternativas. Esta irá revender a energia para grandes consumidores.
 
Dificuldade
Volmir afirma que tudo está transcorrendo dentro da normalidade, mas convencer os produtores, para que todos aderissem ao projeto foi um desafio. Outros obstáculos foram a aquisição da área para instalar a usina, angariar recursos financeiros junto a instituições bancárias, conseguir licenças ambientais, contratar as empresas que irão construir e instalar os equipamentos.
“Foram passos que exigiram uma certa dose de trabalho. No entanto, não existe algo realmente difícil. Pois com muita seriedade, estudos e discussão, sempre se chega a uma solução tranquila”, conclui Volmir.
 
Incentivos

O município de Salgado Filho, cedeu algumas máquinas para realizar a terraplanagem, e também deu um aporte financeiro para pagar alguns serviços contratadas para os trabalhos de escavo das lagoas.
Já o Governo do Estado, poderá contribuir através do programa RenovaPR, que concede desconto do ICMS de alguns dos equipamentos que a usina irá adquirir. “Ainda não temos muito claro quanto isso vai representar no cômputo total das despesas”, esclarece Volmir, a expectativa é que este valor fique próximo a R$ 400 mil.
 
Ambiental
Do ponto de vista ambiental, a usina resolve definitivamente o problema dos agricultores, especialmente dos suinocultores, dando destino adequado aos dejetos e permitindo a ampliação das granjas de suínos e aves.
Ainda resolve de forma substancial a emissão de gases de efeito estufa, pois um volume expressivo de metano e óxido nitroso não serão mais emitidos para a atmosfera. Com a usina também diminuem riscos de extravasamento de esterqueiras e contaminação de áreas adjacentes.
A usina irá disponibilizar o fertilizante (digestato), a todos os produtores interessados, de forma gratuita. Trata-se de um fertilizante que substituirá o dejeto usado como fertilizante, porém sem todos os problemas que o dejeto cru causa no solo.
 
Econômico
A usina possibilita geração de renda a todos os produtores envolvidos, utilizando um material que até então não representava ganho financeiro. “Os avicultores, atualmente, comercializam os dejetos de aves, as camas de aviário, contudo, o valor é bem inferior ao estimado com a transformação destes em energia e adubo organomineral”, explica Volmir.
Com a instalação da indústria de fertilizantes organomineral os produtores poderão adquirir fertilizantes a um valor bem inferior ao praticado pelo mercado.
 
Sustentabilidade
Um dos grandes problemas na agricultura é a sucessão familiar. Os filhos só permanecem nas propriedades quando a qualidade de vida é alta. “A partir da usina, acreditamos que as granjas representarão uma segurança muito maior para as novas gerações, eliminando o risco de problemas com os órgãos ambientais, a redução dos maus odores das granjas, com a eliminação definitiva das esterqueiras e com geração de mais uma fonte de renda”, relata Volmir.
 
Fertilizantes
Além da usina de energia, a Copenad irá construir uma fábrica de fertilizante, que produzirá três tipos de adubo: Orgânico farelado, Orgânico granulado e Organomineral. Com o volume de dejetos disponíveis atualmente, deverão iniciar as atividades produzindo cerca de 750 toneladas por mês.
 
Orgânico farelado
É a parte sólida dos dejetos, que será separado no momento da mistura de todos os diferentes tipos de esterco. Este material passará por um período de compostagem de 45 a 70 dias. Depois passará por peneiras unificando os grânulos, após isso vai para a secagem.
 
Orgânico granulado
A mesma parte sólida, que passará por processo de granulação, produzindo um material granulado, permitindo o uso do fertilizante em plantadeiras.
 
Organomineral

Na fração sólida serão adicionados minerais químicos (Fósforo, Potássio, Nitrogênio, Cálcio), produzindo um fertilizante com formulação definida. Este material será granulado e comercializado em sacas de 50 quilos ou bags de 1 mil quilos.

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