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24/08/2022 às 16h17min - Atualizada em 24/08/2022 às 16h17min

Filhote de veado atropelado recebe tratamento no município

A mãe do filhote de dois meses não foi encontrada e acredita-se que ela foi vítima da caça ilegal

ASO/Sofia Bertolin
Na noite do dia 22, a clínica RZ Saúde Animal, de Palma Sola, recebeu um filhote diferente. A clínica que atende normalmente cães e gatos prestou socorro a um cervídeo, pertencente à espécie Mazama, conhecido popularmente como veado-mateiro. O filhote foi atropelado nos arredores do município.
Quem relata o ocorrido é Monalisa Machiavelli, bióloga formada pela UFSC há 17 anos. “Quem atropelou o animal fez o procedimento de chamar os bombeiros, que resgataram o animal. Ele não teve fraturas, apenas bateu a cabeça no pneu do carro, porém por conta do choque e estresse ele não estava passando bem, então prestamos os primeiros socorros para depois ser encaminhado para Hospital Universitário da Unoesc, que trabalha com este tipo de animal”, explica Monalisa.
Estima-se que o filhote tenha dois meses de idade. “A mãe do filhote não foi encontrada. Ela pode ter se distanciado para se alimentar ou ser uma vítima da caça ilegal, muito comum no município. A caça é uma prática horrível em qualquer período, mas especialmente nesta época do ano – entre julho e outubro – ela é preocupante, pois é quando nascem os filhotes”, explica a bióloga. Infelizmente é comum os filhotes serem separados das mães por conta da caça.
Monalisa aponta que 98% da área que o veado-meteiro ocupava aqui na região ele não ocupa mais, inclusive a espécie já foi extinta no Paraguai e em países vizinhos. A espécie está classificada pelo Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA/SC) como em risco de extinção na classe C2-a. Isso significa que a espécie tem apresentado um declínio populacional contínuo e possivelmente não haverá mais exemplares em vida-livre, nos próximos anos.
Essa extinção se deve em partes pela fragmentação de ecossistemas como a Mata Atlântica – seu habitat natural – por doenças transmitidas por animais domésticos e principalmente devido a caça ilegal.
“Sabemos que o pessoal mais velho tem essa cultura de caçar, isso dá a eles algum tipo de prazer. Tem gente que caça para comer, mas as pessoas não estão passando fome, só querem o prazer de matar e comer um animal selvagem, por assim dizer. Devemos conscientizar os mais jovens de que a caça não é uma prática legal. Temos pessoas novas no nosso município que deveriam estar conscientes disso, mas não estão. Que acham que está tudo bem, que a espécie não vai acabar, mas essa não é a realidade”, reforça Monalisa. 
A alimentação desses animais é composta por folhas, frutas e flores e devido a sua capacidade de adaptação, podem ocupar áreas próximas ao homem. É comum a aparição destes animais nas rodovias e próximos às propriedades no interior, mas isso não está acontecendo devido a proliferação da espécie e sim por conta da diminuição do habitat desses animais. “Eles não têm mais matas isoladas para se abrigar, então chegam cada vez mais perto de nós”, diz a bióloga.
É importante ressaltar que não existem programas de conservação direcionado a esta espécie no Brasil e, portanto, a conscientização individual e da comunidade é extremamente importante. Embora esteja proibida desde 1967, a caça de animais silvestres ainda ocorre em boa parte do país e inclusive no município de Palma Sola.
 
O resgate do filhote
Na clínica, o filhote recebeu os cuidados necessários antes de seguir para o Hospital Universitário.
Vale ressaltar que os cervídeos são animais bastante peculiares, principalmente o seu manejo em situações estressantes. A maioria dos animais adultos que chegam para atendimento veterinário em clínicas e hospitais, vêm a óbito durante o tratamento, especialmente devido às condições incorretas de captura e manejo em cativeiro.
A veterinária que trabalha na Clínica RZ Saúde Animal, Nina Rusch, cita que a maior parte dos “resgates” de filhotes de cervídeos realizados atualmente são desnecessários, e na verdade muito prejudiciais ao animal.
“Na maior parte das vezes as pessoas acabam pegando filhotes ‘órfãos’ de cervídeos achando que a mãe morreu ou abandonou a cria. No entanto, caso não tenha ocorrido atropelamento ou ataque por cães, nunca deve-se retirar o animal do local onde se encontra, pois após três semanas de vida, filhotes de cervídeos passam quase o tempo todo sozinhos, escondidos. A mãe volta apenas para alimentá-los e se distancia novamente. Uma vez criado em cativeiro, esse filhote nunca mais poderá retornar a natureza, pois não vai aprender os comportamentos necessários para que consiga sobreviver e disputar território”, explica a veterinária.
 
O que fazer quando encontrar um cervídeo?
As situações mais comuns de encontrar esses animais são: atropelados, atacados por cães e acuados em residências. Como já foi explicado, os cervídeos são extremamente sensíveis ao estresse. “Além de se baterem contra objetos e paredes durante a captura, que leva os animais a desenvolverem traumas e fraturas, isso pode levá-los a uma síndrome chamada Miopatia de Captura que, resumidamente, leva a necrose da musculatura e predispõe o animal a parada cardíaca ou insuficiência renal após alguns dias do episódio estressante”, afirma a veterinária.
Nina afirma que quando for necessário capturar um animal devido a algum incidente, devem ser utilizadas caixas de madeira com aberturas mínimas para entrada de ar e acolchoadas de preferência. “Caso não possua caixas de madeira, utilize caixas de papelão fechadas e nunca amarre o animal. Além disso, nunca o coloque em local cercado, pois eles não entendem que cercas são barreiras e irão se machucar. Outro detalhe importante é evitar ao máximo o contato físico, pois como os cervídeos são presas enxergam o contato como uma ameaça à vida”, relata.
Os próximos passos para tratar o animal são o internamento para a melhora clínica, seguida pela reabilitação, realizada pela Polícia Ambiental em centros para animais silvestres. “Esperamos que essas informações sejam importantes para que outros animais possam ser adequadamente resgatados e que possamos ainda presenciar animais de vida livre em nossa região”, finaliza Nina.

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