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05/10/2022 às 09h09min - Atualizada em 05/10/2022 às 09h09min

Pesquisas erram e divergem do resultados das urnas

Levantamentos divulgados na véspera do primeiro turno subestimaram números obtidos por Bolsonaro

Brasil
CNN
Divulgação
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu 48,43% dos votos válidos neste domingo (2), contra 43,20% do presidente Jair Bolsonaro (PL), com 99,99% das urnas apuradas. Os números das urnas contrastam com as pesquisas eleitorais divulgadas na véspera.
“Os institutos vão ter que ir pro divã porque parece que não estão conseguindo captar esse movimento da direita, principalmente no Sudeste”, avalia o cientista político Renato Dolci ao comentar essa diferença.
 
Presidencial (Lula x Bolsonaro)
No sábado (1), um dia antes do primeiro turno, Lula tinha 50% das intenções de votos válidos, enquanto Bolsonaro aparecia com 36%, segundo pesquisa Datafolha. No mesmo dia, pesquisa Globo/Ipec mostrou o petista com 51%, e o presidente, com 37%. Ambos os levantamentos tinham margem de erro de dois pontos percentuais.
A pesquisa Ipespe divulgada no sábado trazia Lula com 49%, e Bolsonaro, com 35%. A Genial/Quaest da mesma data indicava, respectivamente, 49% e 38%. O primeiro levantamento tinha margem de erro de três pontos percentuais; o segundo, de dois pontos.
Os institutos erraram as projeções mesmo considerando a margem de erro, especialmente em relação aos votos para Bolsonaro.
A cientista política Nara Pavão, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), diz que o contraste pode ser explicado pelo “voto útil”, conceito que explica a situação em que o eleitor vota de forma estratégica em um candidato que não necessariamente é a sua primeira opção.
Segundo ela, as pesquisas divergiram especialmente em relação aos percentuais de voto de Bolsonaro e Ciro. Ao contrário do atual chefe do Executivo, o pedetista recebeu menos votos do que as projeções apontavam.
“Uma coisa que chama atenção de todos é a desidratação de Ciro. É possível que essa transferência de voto que estava prevista para ocorrer no segundo turno já tenha ocorrido no primeiro turno”, diz.
A cientista política afirma que houve um realinhamento ao voto útil nos momentos que antecederam as eleições. “As pessoas migraram mais rápido para o Bolsonaro para sinalizar uma força maior. Quando saem essas pesquisas que apontam a possibilidade de vitória de Lula em primeiro turno, isso acirra a campanha e antecipa a lógica do segundo turno”, aponta.
O cientista político Renato Dolci sugere que a divergência pode ter ocorrido por fatores de metodologia. Ele diz que as bases de dados dos institutos são diferentes para a faixa entre dois a cinco salários mínimos, o que impacta nas projeções.
“Existe um peso maior na proporcionalidade dessa faixa, o que tende a gerar mais votos para Lula porque ele agrega mais esse perfil de eleitorado”, explica.
Dolci cita que o fato do Censo, realizado a cada dez anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), não ter ocorrido em 2020 também dificulta as métricas atualizadas pelas projeções. “Podemos estar considerando mais gente do que de fato temos em uma faixa de renda menor, mais alinhada com a esquerda”, diz o cientista político.
Além disso, o alto índice de abstenção ― de 20,9%, número similar ao observado em 2018 ― também pode ter prejudicado o ex-presidente.
A CNN contatou o Institutos Datafolha, Ipec, Quaest, Ipespe, Paraná, MDA, Atlas e PoderData para que comentassem o tema.
Andrei Roman, CEO da Atlas, disse considerar o desempenho do instituto nas pesquisas como “excelente”, afirmando ser o que “mais chegou perto na eleição presidencial”, obtendo a “melhor previsão da diferença entre Lula e Bolsonaro no âmbito de estado por estado”.
Já o Ipec disse reforçar o “compromisso de buscar soluções que eventualmente possam ser agregadas ou consideradas em conjunto com a sua metodologia e procedimentos operacionais”, mas que esse processo “requer tempo” e cita o desafio de divulgar dados “de uma eleição onde a divisão do país representa uma maior dificuldade em se fazer estimativas”.
Por meio de nota, ao ser procurado pela reportagem, o Datafolha se manifestou:
“O Datafolha entende que as pesquisas não podem ser lidas como uma previsão do resultado da votação, mas sim retratar as preferências eleitorais no momento em que são feitas. Diferentes abordagens de diferentes institutos mostraram as mesmas tendências ao longo das semanas que antecederam a votação”, explicou o instituto no documento, que continua.
“O Datafolha mostrou durante a disputa presidencial que Lula [PT] sempre esteve na frente, e que seu adversário mais próximo sempre foi Jair Bolsonaro [PL]. Esses dois candidatos sempre tiveram, também, os votos mais cristalizados, enquanto Ciro Gomes (PDT), por exemplo, tinha 41% de eleitores que poderiam mudar de voto até o dia da eleição. Nas últimas três pesquisas antes do 1º turno, o Datafolha já vinha apontando a perde de votos de Ciro Gomes – o voto útil, neste caso, beneficiou mais o atual presidente do que seu adversário”, afirmou o Datafolha, que acrescentou.
“A candidatura de Simone Tebet [MDB], também com menos votos consolidados, registrou percentual dois pontos abaixo do que o projetado pelo Datafolha na véspera. Esses movimentos ocorreram entre a véspera da eleição e o dia da votação, e não puderam ser captados por pesquisas realizadas entre sexta [30] e sábado [1]. A votação final do candidato do PT [48,4%dos votos válidos] se mostrou alinhada ao resultado projetado na véspera [50%] devido ao fator já citado, a consolidação na preferência pela candidatura de Lula. As pesquisas do Datafolha também sempre apontaram, corretamente, a clivagem de gênero, religião e renda ao longo da disputa, e os resultados regionais oficiais refletiram essa divisão”, esclareceu o instituto, que concluiu.
“Desde o início da campanha, o Datafolha realizou sete pesquisas sobre a disputa presidencial, e o conjunto de informações trazidas por elas são coerentes, sólidas e ajudaram a população a se informar sobre o processo eleitoral. As movimentações do eleitorado nos momentos finais da eleição são tomadas também por causa dessas informações, entre várias outras fontes que fortalecem e legitimam a escolha do eleitor no momento da votação. Diante desses resultados, reafirmamos o caráter de diagnóstico das pesquisas, e não de prognóstico, e a total imparcialidade e transparência do Instituto Datafolha e sua equipe nas fases de captação e divulgação das opiniões e preferências dos eleitores brasileiros”.
Os demais institutos ainda não responderam.
 

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