Nos últimos dias, a professora e treinadora das equipes de handebol de Palma Sola, Rosane Goetz Dalle Laste, foi convocada para ser Auxiliar Técnica da Seleção Catarinense de Handebol Cadete, categoria Feminina. O convite vem como reconhecimento, pelos quase 20 anos de trabalho e dedicação com as equipes de handebol palmassolenses.
Rosane é formada em Educação Física, estudou, junto do marido, Sandro Dalle Laste, em Palmas. Antes mesmo de se formar, Sandro foi chamado para trabalhar na pasta de esportes, com as escolinhas municipais. Rosane, mesmo sem ser contratada, atuava como sua auxiliar. Mais tarde, Sandro ficou responsável pelas equipes de rendimento e Rozane assumiu as escolinhas municipais. Ao passar dos anos Rosane assumiu as equipes de rendimento.
Vale lembrar aqui, que mesmo antes de iniciarem a faculdade, Sandro e Rozane já empreendiam. Donos do Supermercado Dalle Laste, eles conciliavam o trabalho, os estudos e o handebol.
O trabalho iniciado pelo Sandro e aperfeiçoado por Rosane ao longo de 20 anos, rendeu a Palma Sola vários títulos regionais, estaduais e até mesmo nacionais, de handebol.
O Sentinela entrevistou a Rosane que contou um pouco de sua história com o handebol, desde o início do trabalho nas escolinhas, os primeiros títulos conquistados pelas equipes de rendimento até o convite da seleção catarinense, que vem para coroar um ciclo muito bonito dentro do handebol.
Você iniciou o trabalho com o handebol nas escolinhas, quanto tempo trabalhou com as crianças?
De quatro a seis anos nas escolinhas, depois fui para onde estou até hoje, no treinamento de rendimento. Há época trabalhávamos com as atletas até os 18 anos, hoje é até os 17 anos. Elas iniciam no treinamento aos 12 anos, para participar do JESC (Jogos escolares de Santa Catarina), que é de 12 a 14 anos e de 15 a 17 anos, e dos 14 a 16 anos participam do OLESC (Olimpíada Estudantil Catarinense).
Na nossa cidade aos 15/16 anos, algumas meninas já começam a trabalhar, então elas conciliam trabalho, estudos e os treinos de handebol. Bom seria se pudessem somente treinar e estudar, teríamos resultados melhores.
O que muda nas escolinhas para o alto rendimento?
Na escolinha a gente vê as quatro aptidões físicas, são duas horas de treino por semana, onde as crianças vão ter o contato com a bola, aprender a questão de espaço e tempo, e a coordenação motora. O Professor de escolinha tem participação fundamental nos resultados das equipes de rendimento, pois é na base que formamos o atleta
No rendimento são 12 horas semanais de treino. O maior diferencial é a parte física, que é bem puxada, o atleta tem que saber quais são os ataques e quais são as defesas. No sub 12 a 14 você tem cinco meses pra passar pro atleta a questão prática e teórica do handebol para ir pros jogos.
Nesses anos de trabalho, sabe quantas meninas continuaram a jogar handebol e estão no profissional?
Olha, às vezes num grupo de 30 sai uma atleta profissional. Hoje temos atletas de Palma Sola jogando em times bons, ganhando bolsas de estudo e vivendo do handebol, algumas, acredito eu, em menos de dois anos vão estar jogando na Europa.
Já tivemos atletas que foram pro profissional e voltaram, vai muito da cabeça de cada atleta, pois precisa deixar muita coisa de lado, é muita pressão. Mas o mais importante é que essas meninas saiam do handebol cidadãs de bem.
Por ser atleta você precisa abdicar de muitas coisas que você gostaria de fazer sendo adolescente, ser atleta é ter dedicação, alimentação regrada, sono equilibrado e muito treinamento.
Quando Palma Sola começou a ser destaque no handebol?
Já havíamos ganhado alguns regionais e participado do estadual, mas o que marcou o Handebol de Palma Sola foi há aproximadamente 15 anos, onde ganhamos nosso primeiro estadual e fomos ao brasileiro pela primeira vez, ficando em quarto lugar. A partir dessa conquista, vimos que, mesmo sendo uma cidade pequena, com dedicação, esforço e muito treino podíamos ser mais que uma cidade pequena no esporte.
Em uma semi final de brasileiro jogamos contra São Paulo e levamos uma goleada, umas 15 bolas de diferença, a professora de São Paulo tinha interesse em duas alunas de Palma Sola, veio conversar comigo e me disse: “Profe, não vai para casa triste, você jogou de igual pra igual comigo”, ela relatou que todas as atletas recebiam e a que mais fez gols, ganhava dois salários, nisso, uma aluna minha que escutou a conversar veio e me falou: “meu pai não ganha dois salários”
São essas coisas que me levam a acreditar no esporte, nós um time de cidade pequena, onde muitas vezes as nossas atletas não têm recursos, jogando com equipes de um nível altíssimo, e conseguindo ficar em pé de igualdade.
Todo ano o pessoal me pede se vem o brasileiro, mas eu não sonho com o título brasileiro, existem muitas coisas para se trabalhar para ganhar o brasileiro, Palma Sola é uma cidade abençoada por ter essas meninas, que se dedicam tanto, deixam de fazer as coisas delas para poderem estar dentro do esporte.
Falando sobre o a convocação para ser auxiliar técnica da equipe catarinense, esse é o primeiro convite que você recebe?
Tive o privilégio de trabalhar como auxiliar técnica da seleção catarinense há alguns anos e conquistamos o terceiro lugar no brasileiro de seleções, após, houve uma pausa na seleção catarinense.
Com a pandemia, nós ficamos parados no handebol por dois anos e meio, mas continuamos fortes no estado. Para mim esse convite chega como o reconhecimento do que conseguimos fazer nestes dois anos.
Você falou que as atletas precisam abdicar de muitas coisas para jogar, mas como treinadora, você também tem que abdicar de certas coisas, não é?
Quando o pessoal da Federação Catarinense de Handebol me ligou a primeira coisa que disse é que precisava conversar com minha família.
Nós moramos no Extremo Oeste, é longe de tudo, para acompanhar a equipe catarinense do outro lado do estado é quase um dia de viagem. Tive que pensar muito antes de aceitar, é uma grande responsabilidade, que não aceitaria se acreditasse que não conseguiria dar conta. Sem o meu porto seguro não conseguiria e eu tenho minha família, o meu esposo que são meu porto seguro e sempre me incentivam.
Sempre digo que se estou onde eu estou hoje é tudo graças ao meu esposo, ele sempre me ajuda, sempre me incentiva, desde nossas meninas. Eu sai de casa para uma competição e a Mariah não engatinhava, voltei, ela já engatinhava. Em outra competição eu fui e ela não andava, quando voltei depois de uma semana ela já andava. Se não fosse meu esposo, que é um paizão, eu não conseguiria ir para as competições.
A Mariah não conseguia pronunciar o R, então ela não falava o meu nome corretamente, falava que meu nome era “Losane”. Em uma das últimas competições, eu cheguei em casa e ela veio me abraçar, nisso o Sandro falou: “Mostra para a mamãe o que você aprendeu”, e ela falou Rosane.
Tudo isso eu tive que levar em conta antes de aceitar. Felizmente o Sandro sempre está junto comigo, agora ainda mais, com a Julia jogando – hoje ela é uma atleta do rendimento – e eu como técnica, ele não quer perder nenhum momento dela. Felizmente ele pode nos acompanhar nas competições.
Como vai funcionar o seu trabalho na seleção?
A princípio teremos dois polos de treinamento, os quais faremos as seletivas no Meio Oeste e Oeste, Litoral Norte e Sul. Após as seletivas será feito a convocação das atletas que defenderão as cores da seleção catarinense.
Quais as suas considerações sobre o handebol e o trabalho desenvolvido ao longo desses anos?
Uma ex-atleta me mandou um texto lindo, falou que no esporte as pessoas fazem por dinheiro ou status e o que eu fiz até hoje foi por amor, nem sempre temos as condições perfeitas para treinar, nem sempre temos a melhor bola ou o melhor tênis, mas sempre fizemos o nosso melhor.
Essa convocação vem para fechar um ciclo. Tudo tem um tempo e um ciclo na vida da gente, o meu tempo no handebol já está quase acabando.
Eu agradeço muito a minha família por todo o incentivo, também quero agradecer a prefeitura municipal que me deu a oportunidade de treinar as nossas meninas.
Olho: “Tudo tem um tempo e um ciclo na vida da gente, o meu tempo no handebol já está quase acabando”, afirma Rosane.
“Tudo tem um tempo e um ciclo na vida da gente, o meu tempo no handebol já está quase acabando”, afirma Rosane.
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