09/06/2023 às 11h00min - Atualizada em 09/06/2023 às 11h00min

A Casa das Suculentas

Desde que encontrou uma mudinha de suculenta perdida na rua, Neila se apaixonou. Hoje em sua casa ela cultiva mais de cinco mil mudas

Anchieta
Há pessoas viciadas em café, em jogos, em álcool, drogas e até mesmo no celular, mas você conhece alguém com vício em suculentas? Suculentas são plantas que acumulam água em suas folhas, caules ou raízes. Existem mais de 20 mil tipos de suculentas de diversas cores e formatos. Essas plantas de folhas gordinhas são o grande amor de Neila Salete Garlet Scapin Durigon.
Neila tem 57 anos e mora no município de Anchieta, na rua Guilherme Lazzarotto. Quem passa por lá se encanta com seu jardim de suculentas. “Num dia eu estava andando, isso há seis ou sete anos, e encontrei uma folhinha na rua. Nem sabia que existiam suculentas, eu conhecia a boca-de-leão, a roseira, essas flores populares. Encontrei essa folhinha com um brotinho, aquilo me chamou a atenção, pois ela estava abandonada na rua e dando vida ao filhote. Aquilo rebobinou uma fita na minha cabeça. Pesquisei sobre e nas minhas idas ao médico eu voltava com uma suculenta, da ida do mercado voltava uma suculenta. Comecei a pagar o táxi para buscar suculentas. Vou para Francisco Beltrão, cheguei ir para Chapecó para buscar suculentas. Chega ser um vício, mas é um vício bom”, relata Neila.
Há mais de 20 anos Neila luta contra depressão e as suculentas se tornaram seu amuleto, sua válvula de escape e, como ela mesma descreveu, sua terapia. “Abrir a janela de manhã e ver o jardim me completa”, afirma.
A depressão acometeu Neiva após o parto do filho, Vinicius Garlet Durigon, que hoje tem 27 anos. “Meu amor por meu filho é infinito, agora só tenho ele”, conta ela, lembrando da morte do marido, Elci José Scapin Durigon.
Antes de Elci morrer a família vivia em Iporã do Oeste, onde Neiva tinha uma loja de flores artificiais. Após o falecimento, todos voltaram a morar em Anchieta, terra natal de Neiva e onde começou seu gosto pelas suculentas.
“Hoje tenho mais de cinco mil mudas. Lembrando que cada folhinha é uma muda. Sozinha aprendi a deixar elas mais coloridas. Eu vou testando, vi que dá pra matizar as folhas plantando duas juntas. O segredo é ter pouca água e um solo adequado. Eu não compro substrato, pego uma terra magrinha, trituro carvão e misturo com esterco. Outro segredo é a boa drenagem, não pode acumular água. Em tempos de muita estiagem eu rego bem a cada 10 dias”, explica.
Nas mãos de Neila, todo potinho vira vaso de suculentas, seu hobby é fazer arranjos inusitados. Em sua casa há suculentas plantadas em tarros de leite, carrinhos de mão, máquinas de lavar antigas, latas de tinta, conchas, tachos, baldinhos, pneus, louças e até mesmo em cadeiras.
“Gosto de poder reciclar as coisas. O dia de fazer um novo arranjo, um novo terrário, é um dia muito feliz”, completa ela. Esses arranjos, além de alegrarem o dia de Neila, são comercializados por ela, que hoje é pensionista, mas esporadicamente vende suculentas e flores artificiais.
Neila conta que cultivar suculentas não é um hobby barato, no mercado as mudas pequenas custam cerca de R$ 15, mas ela já pagou mais de R$ 120 em mudas de diferentes espécies. Somado ao custo das plantas, há o custo da corrida para buscá-las em outras cidades.
“Elas são caras, mas tudo tem seu custo. Hoje, por R$ 30 mil não vendo tudo que tenho aqui em casa. Estou planejando uma viagem para comprar flores, vou para Holambra com meu filho. Tem muita planta, eu vou gostando cada vez mais, não posso sair e ver uma plantinha que tenho que trazer.”, relata.
A terapia de Neila há envolve de manhã, de tarde e até mesmo à noite. Ela chegou a passar a noite acordada para ver a flor de um cacto abrir: “Me envolvo o dia todo no cuidado com as suculentas. Sobre as flores do cacto, elas só abrem a noite, eu fiquei acordada pra ver ela abrir, mas valeu a pena pois ela abriu linda, às 2h45 da manhã”.
Com a depressão há dias bons e ruins, Neila lembra que já teve vontade de quebrar tudo, jogar as plantas fora, mas com o apoio da família ela segue em frente na luta contra a doença. “Hoje tomo nove tipos de medicamentos para depressão, minha maior vontade é parar de tomar os remédios, com muita fé sei que vou conseguir”.
Além de estarem ao seu lado nos momentos difíceis, a família ajuda no cultivo das suculentas. “A minha família disse que ia fazer uma oração pra mim sair dessa vida de suculenta”, brinca Neila, mas a verdade é que toda a família apoia seu vício. “Meu pai, hoje aos 81, planta suculentas em casa. Meu irmão me ajuda um monte, esses tempos eu queria umas pedras, ele pegou um trator e carregou um monte de pedras para fazer ornamentação no meu jardim. Tenho uma irmã que mora em Lucas do Rio Verde que sempre me manda foto quando acha uma espécie diferente. Todos me dão a maior força”, afirma.
Para quem está passando por momentos difíceis, o conselho de Neila é cultivar alguma plantinha. “Plantas são sinônimo de vida, elas transmitem vida pra gente. Não tenho palavras para descrever a alegria que elas me dão. Quem puder, tenha uma plantinha”, finaliza Neila.

Receba as notícias do Portal Sentinela do Oeste no seu telefone celular! Faça parte do nosso grupo de WhatsApp através do link: https://chat.whatsapp.com/Bzw88xzR5FYAnE8QTacBc0
Siga nosso Instagram: https://www.instagram.com/jornalsentinela/
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Sentinela do Oeste Publicidade 1200x90