27/09/2023 às 10h21min - Atualizada em 27/09/2023 às 10h21min

Suicídio é problema de saúde púbica

O Setembro Amarelo tem como objetivo fazer com que a população em geral se atente aos sinais de alerta que antecedem o suicídio e busque maneiras de prevenir tal ato

Redação
Secretaria de Saúde de Palma Sola promoveu ação de prevenção ao suicídio no calçadão. (Foto: Divulgação)
Anualmente é promovida a campanha Setembro Amarelo, voltada à promoção da saúde mental e, mais especificamente, à prevenção do suicídio. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), todos os anos, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que de HIV (Síndrome da Imunodeficiência Humana/Aids), malária, câncer de mama, guerras e homicídios. Os dados evidenciam a importância da campanha nacional, que tem como objetivo fazer com que a população em geral se atente aos sinais de alerta que antecedem o suicídio, e busque assim, maneiras de prevenir tal ato.
É possível afirmar que o suicídio é um problema de saúde pública, no entanto, as pessoas ainda evitam falar sobre o assunto pois no geral, consideram desconfortável falar sobre o sofrimento.
“É sempre difícil falar sobre sofrimento, tanto para a pessoa que está sofrendo quanto para o que está acolhendo. De certa maneira podemos dizer que esta dificuldade é até mesmo algo cultural. Quando questionamos se a pessoa está bem: ‘Tudo bem com você?’, já esperamos, automaticamente, que a resposta seja positiva: ‘Tudo bem!’. Entretanto, com certa frequência não sabemos como agir se as respostas forem: ‘Não estou me sentindo bem hoje!’, ‘Estou querendo morrer!’, ‘Não aguento mais viver!’ ou ‘Não estou suportando essa dor’. Por nos sentirmos desconfortáveis e, muitas vezes, por não sabermos como agir mediante tais situações, acabamos não falando muito sobre o assunto”, destaca o médico psiquiatra Moises Dutra De Carvalho.
 
Fatores de risco
Qualquer situação que aumente a probabilidade de ocorrência do suicídio é considerada um fato de risco.  Segundo Moises, um dos principais fatores de risco que podem levar alguém a pensar em suicídio é o sofrimento/dor emocional, na maioria dos casos, o suicídio não é nada mais do que uma tentativa de aliviar tal sofrimento.
Outros fatores de risco são a idade, o gênero, o histórico familiar, perda recentes, problemas financeiros e transtornos mentais. “Pessoas com idades entre 15 e 20 anos são as mais vulneráveis. Sobre o gênero, dados apontam que os homens suicidam três vezes mais que as mulheres, mas elas tentam três vezes mais do que eles. O risco de suicídio aumenta entre aqueles com história familiar de suicídio ou de tentativa de suicídio, que passam por eventos adversos na infância e na adolescência como maus tratos, abuso físico ou sexual, pais divorciados, conflitos familiares, incerteza quanto à orientação sexual e falta de apoio social, entre adolescentes, o suicídio de figuras proeminentes ou de indivíduo que o adolescente conheça pessoalmente também podem ser fatores de risco”, explica o médico.
Ainda de acordo com ele viver sozinho é outro fator de risco – os índices de suicídio aumentam entre pessoas divorciadas – além disso, os índices sobem para pessoas desempregadas com problemas financeiros ou trabalhadores não qualificados – maior risco nos três primeiros meses da mudança de situação financeira ou de desemprego –, para moradores de rua e indivíduos com fácil acesso a meios letais.
“Pesquisas apontam que 96,8% das pessoas que morreram por suicídio possuíam histórico de doença mental diagnosticada ou não, frequentemente não tratada ou tratada inadequadamente. Os mais comuns incluem depressão, transtorno bipolar, abuso/dependência de substâncias, transtornos de personalidade e esquizofrenia”, ressalta Moises.
Podemos dizer que, qualquer fator que gere um determinado sofrimento que, para a pessoa que sente, esteja sendo muito difícil de suportar, pode ser considerado um gatilho para o suicídio.
 
Como ajudar
Os profissionais da saúde mental são qualificados para acolher e prestar atendimento direcionado aos pacientes que apresentam sofrimento mental, ajudando-os a amenizar esse sofrimento por meio de atendimento psicoterápico e, quando necessário, de intervenções medicamentosas.
Moises lembra que, nem todo tratamento na área da saúde mental é feito com medicamentos. “Existem muitos quadros emocionais/mentais em que a psicoterapia e, também, algumas terapias complementares, são suficientes para ajudar o paciente em suas dificuldades”, destaca.
Ele ainda orienta que, ao perceber pessoas próximas que apresentam comportamentos suicidas é possível ajudar estando disposto a ouvir, valorizar e validar os sentimentos desta pessoa. “É fato que pessoas que falam em desejo suicida têm mais chances de realmente tirarem a própria vida. Por isso precisamos estar atentos quando alguém próximo toca neste assunto. Além disso, devemos demonstrar empatia e aconselhar que se busque auxílio com profissionais capacitados”.
O psiquiatra ainda orienta os pais, para que valorizem os sentimentos dos filhos. “Não ignorem quando, por ventura, eles falarem coisas como: ‘Nada mais parece fazer sentido, há apenas uma dor tão pesada que carrego e que não consigo mais suportar...’, ‘Não aguento mais viver assim, eu gostaria de viver, mas não assim...’, ‘Não há mais nada que eu possa fazer, seria melhor morrer...’, ‘Parece simplesmente não existir nenhuma luz no fim do túnel...’. Ao invés de apenas julgar ou ignorar, é interessante buscar ajuda profissional”, enfatiza.
 
Como a escola pode trabalhar a prevenção
É comum que casos de violência, abusos e uso de substâncias ilícitas pelas crianças e adolescentes sejam identificados e denunciados pela escola, isso também vale para os casos de transtornos mentais. Levando isso em conta, a escola deve ser sempre uma fonte clara de informações corretas sobre o tema saúde mental e suicídio. Moises afirma que falar de maneira aberta e de acordo com a capacidade de compreensão de cada faixa etária é sempre a melhor opção. “A escola estar aberta para as demandas trazidas pelos alunos e fazerem o acolhimento o encaminhamento deste indivíduo para o serviço especializado é essencial para o bom desfecho do caso”, reitera o psiquiatra.
Os serviços especializados onde escola, família, amigos e quem está sofrendo pode buscar ajuda é na Unidade Básica de Saúde (UBS), além de contarem com profissionais capacitados, as Secretarias de Saúde costumam promover, anualmente, campanhas de conscientização e prevenção do suicídio.
“Esse ano em Palma Sola, teremos algumas palestras a serem realizadas nas comunidades, pelos profissionais da Unidade Básica de Saúde, abordando tal tema. Algumas informações também já estão expostas no interior da própria UBS, para o conhecimento da população em geral. Além disso, realizaremos panfletagem no centro do município e no comércio. Lembrando que no município temos profissionais altamente capacitados para lidar com este tipo de situação. Basta a pessoa que está em sofrimento ou seus familiares/amigos, buscarem por ajuda. Estamos sempre dispostos a ajudá-los”, finaliza Moises.

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