Ivo e Edite Lunkes participam da Feira dos Produtos Locais desde a sua primeira edição. (Foto: Divulgação) Entre os produtos tipicamente brasileiros, a cachaça se destaca. Em Palma Sola quem cultiva a tradição de produzir a “água que passarinho não bebe”, é a família Lunkes. A produção é uma herança de família, que foi aperfeiçoada por Ivo José Lunkes, 63 anos, e sua esposa, Edite Lúcia Gasperin Lunkes, 54 anos. Hoje o casal trabalha com a produção de derivados e cana, fazendo melado, cachaça e licores de diversos sabores.
Há 30 anos o casal mora na linha Paraíso. No início trabalhavam com lavoura, plantando milho e lidando com vacas de leite. “Nessa época nós tocávamos de levar o leite lá em cima na estrada geral, trabalhamos assim por dois ou três anos, aí paramos, porque era difícil, voltamos a trabalhar com o leite quando arrumaram as estradas”, conta Ivo.
Atualmente a família planta as miudezas, mandioca, amendoim, batata, entre outros produtos, que são entregues para o município, para a merenda escolar e para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) [o programa destina alimentos da agricultura familiar para as famílias mais carentes].
Além disso, trabalham com a produção do melado, da garapa, da cachaça e de licores. A tradição de plantar a cana de açúcar foi herdada dos pais, José lembra da época em que era guri e ajudava o pai a fazer derivados de cana. “Em relação à cachaça, quando meu sogro veio para cá, deu ideia de plantarmos cana para fazer cachaça”, conta Ivo, que na época começou a produção com o sogro de forma artesanal. Mais tarde, através da Epagri, fez cursos e se especializou na produção da cachaça. “Desde que começamos junto com o sogro, são 20 anos”, inclui.
Melado
A produção da cachaça começa na lavoura, com o plantio da cana de açúcar. Esse processo envolve o preparo da terra, fazer mudas, plantar, limpar, adubar. Após um ano é possível fazer a primeira colheita, a primeira não rende muito, a partir do quarto ano a safra é realmente boa. “Quando a cana está madura realizamos a colheita, limpamos a cana e moemos para fazer a garapa. No caso do melado, fazemos o fogo no tacho, para fazer uma tachada de 50 quilos de melado, trabalhamos o dia inteiro”, explica Ivo.
Edite relata que, durante o tempo em que o melado está no tacho, tem que ir tirando a espuma, que é a sujeira do melado e ir trabalhando do ele. “Quanto mais trabalhado, mais bonito ele fica”. Quando sai do tacho, o melado vai para uma batedeira e após, para os potes onde é comercializado.
Normalmente a família faz melado duas vezes ao mês, mas em épocas de maior demanda chegam a produzir melado todos os dias.
Cachaça
A cana fica boa para colher entre junho e julho, a partir daí, o casal tem que aproveitar o fermento e a garapa para produzir o máximo possível.
A produção da cachaça começa com a preparação do fermento, através da mistura entre a garapa e a farinha de milho ou trigo. “No primeiro dia começamos com seis litros de garapa, tem que ficar mexendo para oxigenar e ir adicionando garapa, outra coisa importante é cuidar com a temperatura, que tem que ser entre 28ºC e 30ºC. No segundo dia temos 12 litros. No terceiro dia chegamos a 48 litros de garapa e assim por diante. Para fazermos uma alambicada, que são em torno de 350 litros de garapa, leva em torno de 15 dias”, explica. Essa alambicada tem que fermentar para zerar o açúcar, então o próximo passo é fazer a destilação.
“Em uma alambicada de 50 litros de cachaça, por exemplo, tiramos o primeiro e o último, que são o tóxico e a água. Ou seja, usamos apenas o coração da alambicada, onde o grau de álcool fica em torno de 45% de álcool. Para chegar aos 38% de percentual de álcool, destilamos a água e acrescentamos na cachaça. Resumindo bem, é assim que fazemos a cachaça”, explica Ivo.
Após o processo de destilação, a cachaça fica armazenada em pipas até ser engarrafada, receber rótulo e ser comercializada.
Em relação aos licores, a produção, de responsabilidade de Edite, começou mais tarde. “Tinha um produtor em Campo Erê, que me passou as receitas. Eu faço a tintura, extração do sabor desejado na cachaça, e depois a calda, que é o doce do licor. Dependendo da receita, utilizamos a casca, a folha ou o fruto inteiro para fazer a tintura e dar sabor à cachaça. As que mais faço são de tangerina, figo, pêssego, jabuticaba, butiá, hortelã e café. Tem várias receitas, mas algumas nunca fiz, vamos fazendo conforme os pedidos”, relata.
Para o processo da tintura, a folha do figo, por exemplo, é acrescentada na cachaça e permanece ali de 12 a 15 dias. Já na calda, Edite usa a medida de 1,5 quilos de açúcar para um litro de cachaça.
Atualmente a família planta em torno de um hectare de cana. “Quando plantávamos mais cana, chegamos a ter peões trabalhando conosco 60 dias direto para vencer o serviço”, afirma Ivo. “Todo o processo de colheita e o trabalho é manual, estamos ficando velhos, então vai ficando mais puxado”.
Venda
A venda do produto começou de forma bem natural. Vizinhos e amigos que sabiam que os Lunkes faziam cachaça desciam até a propriedade para buscar o produto e para conhecer os processos de fabricação.
Quando as primeiras feiras começaram em Palma Sola [ainda na antiga feira ao lado da Black Som] a família Lunkes já comercializava melado, cachaça e as miudezas, nesse período, os produtos eram comercializados em mercados e restaurantes. Quando a feira migrou para a rua coberta, os Lunkes participaram já da primeira Feira do Produtores Locais. “Foi um processo automático”, acrescenta Edite.
Há mais de 10 anos a família investiu e construiu o local para a produção do melado e da cachaça de acordo com as normas sanitárias vigentes, há cerca de quatro anos a estrutura vigente foi revitalizada, segundo as novas normas sanitárias, nesse mesmo período a família confeccionou rótulos. Com tudo organizado, para o futuro, o objetivo é aperfeiçoar os rótulos e embalagens dos produtos, para melhorar a experiência de entrega para o cliente.
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