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01/04/2024 às 15h00min - Atualizada em 01/04/2024 às 15h00min

Filhos que viram pais: só o amor explica

A afirmação é de Dilaine Lazaretti, que se dedicou ao cuidado de sua mãe, Iraci e agora dedica-se aos cuidados com o pai idoso, Nilo Lazaretti

Redação
Dilaine junto do pai Nilo Lazaretti. (Foto: Sofia Bertolin)
Dilaine Lazaretti tem 55 anos, a cedrense é professora há 34. Após 30 anos de trabalho no município ela se aposentou para se dedicar ao cuidado intensivo, primeiro de sua mãe e agora de seu pai idoso. Proprietária da Escola Particular de Educação Infantil Tia Mone, ela divide seu tempo entre as crianças e o pai.
Filha de Nilo Lazaretti e Iraci Lazaretti, ela é a caçula de seus irmãos muito unidos: Gerson (em memória), Gilberto, a Délcia, Dulce e Dalva. Dilaine, ou Laine, como é chamada carinhosamente pelos familiares, foi a última a sair da casa dos pais, mas sempre esteve próxima, já que mora em um apartamento ao lado da casa deles.
A família é de origem italiana e os irmãos se mantêm firmes aos ensinamentos do pai, especialmente à união. Essa união e parceria entre os irmãos dá forças à Laine, que se dedica diariamente aos cuidados com a saúde, higiene, alimentação e lazer do pai.
 
Cuidando dos pais
A mãe de Laine sempre foi trabalhadora, disposta, extrovertida, de bem com a vida, participava de muitos grupos e gostava de viajar. Há pouco mais de 20 anos ela precisou fazer uma cirurgia e colocar uma prótese no quadril. A prótese durou 20 anos, já que, com o passar do tempo, também sofre com desgaste. Por conta da idade avançada e de alguns problemas pulmonares, nenhum médico da região quis operá-la.
Ela sentia muita dor, então a orientação médica foi que ela andasse o mínimo possível e tomasse medicação. Para evitar caminhar, Iraci passou a se movimentar de cadeira de rodas. “Ela apenas não podia andar, mas de resto era parceirona, tinha uma cabeça boa e gostava de uma cachacinha. A mãe nunca deu trabalho, porque o problema dela era apenas o fato de ela não caminhar”, reforça Laine.
Ela, que já era próxima dos pais, passava cada vez mais tempo com eles, ajudando-os. “Nesse meio tempo a mãe criou uma dependência muito grande comigo. A partir daí ela só tomava banho comigo, eu dava banho, passava creme, botava talco, que ela era gordinha, passava perfume que ela gostava, colocava roupa. Era o meu nenê”, conta com os olhos marejados de saudade. 
Laine cuidou da mãe até maio de 2022, quando faleceu. “Posso dizer com toda a certeza que minha mãe teve o melhor cuidado do mundo, pois foi cuidada pelos filhos. Hoje meu pai tem o melhor cuidado do mundo, pois também está sendo cuidado pelos filhos”, enfatiza.
A partir da morte de Iraci, seu Nilo começou a ficar mais debilitado, demandando o cuidado dos filhos. Nilo está com 85 anos, tem colostomia – teve um câncer no intestino há alguns anos, desde então, precisa de ajuda para trocar a bolsa – além de sofrer do mal de Parkinson.
“Convivemos com essas questões, ele toma uma boa quantidade de medicações, é preciso acompanhar e dar os remédios, então me mudei de vez para a casa do pai e da mãe. A mesma dependência que a mãe tinha comigo, hoje o pai tem. Ele é meu nenê e eu sou a mãe dele. Tem que ajudar a dar banho porque ele não consegue se abaixar. Ele não deixa as minhas irmãs darem banho, tem que ser eu, ou se não, ele toma banho sozinho. Além disso, tem que fazer comida, dar a medicação, levar para os lugares que ele deseja ir, dar uns pitocos de vez em quando”, relata Laine.
Ainda segundo ela, cuidar de um idoso pode ser desafiador, pois toda a velhice exige que quem cuida tenha um preparo, inclusive psicológico. Ela cita que o idoso fica teimoso, acha que ainda é capaz de fazer tudo e essa é uma das maiores dificuldades de quem é cuidador. Ela afirma que quem se dedica a cuidar de um idoso tem que ter muita paciência e jogo de cintura.
“Sempre falo para o pai, que prefiro meus alunos, que uma e duas e eu consigo negociar sem bala, é questão de conversar com eles. Com o pai, às vezes, mesmo dando bala a gente não consegue negociar. Faço tudo e mais um pouco por ele, mas meu coração está tranquilo. Por mais que ele ocupe muito do meu tempo, é um tempo que o dinheiro nunca vai me pagar. Só o amor para manter quem se dispõe a cuidar de uma pessoa idosa”, enfatiza.
Laine esclarece que ela não é a única que cuida de Nilo, todos os irmãos se envolvem. “Por eu estar sempre ali, ele acaba me respeitando mais, muitas vezes quando minhas irmãs falam algo, ele teima, comigo ele anda na rédea curta”, brinca.
Por fim, Laine expressa sua opinião sobre o trabalho de cuidar dos pais idosos: “Hoje não é fácil achar alguém que cuide de um idoso. Além de os valores pagos aos cuidadores serem altos, nem sempre a pessoa que vai desempenhar esse papel de cuidador vai cuidar como o idoso merece. Se para um filho ou uma filha é difícil, imagina para um estranho. Se a pessoa não tiver paciência e não souber levar na rédea curta, mas com respeito e educação, a pessoa não vai dar conta. Temos que nos fazer um pouco loucos e um pouco crianças, ou seja, não levar ao pé da letra tudo que eles falam. Mas assim, é maravilhoso, é bom principalmente quando vemos a gratidão deles, quando vemos eles limpos, bem alimentados, com saúde. E principalmente a harmonia que temos no convívio familiar. Isso é mérito nosso, meu, dos meus irmãos e dos meus pais, pelo investimento de forças em manter essa união. O pai sente esse zelo de todos os filhos por ele e também se sente bem. Ainda assim, a teimosia com os meus irmãos prevalece, mas ele sabe o quanto cada um se esforça e faz por ele”, finaliza.


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