18/04/2024 às 09h30min - Atualizada em 18/04/2024 às 09h30min

Um ofício ameaçado de extinção

A sapataria é um ofício passado de pai para filho, mas é cada vez mais raro encontrar quem mantém essa tradição familiar. Um dos poucos que cultiva essa profissão na região é Adroaldo Paulo Hantt, popular Paulo Sapateiro

Redação
Paulo deseja resistir na profissão e manter a tradição familiar ao máximo. (Foto: Ruthe Kezia)
A sapataria é um ofício que se herda, mas hoje é cada vez mais raro encontrar alguém que se dedique a ele. Na região, uma das poucas pessoas que mantém a tradição familiar é Adroaldo Paulo Hantt, popular Paulo Sapateiro, que mora no município de São José do Cedro. Paulo, que é filho de pai sapateiro e de mãe sapateira, até tentou mudar de rumo, mas voltou à sapataria e não pretende se aposentar tão cedo.
Paulo tem 10 irmãos, os seis filhos homens aprenderam a profissão dos pais ainda na infância e se tornaram sapateiros. Atualmente ele é o único que continua trabalhando, os irmãos já se aposentaram. “Até tentei seguir outra profissão, mas voltei a ser sapateiro, é o sangue do meu pai”, afirma o Paulo. Antes de escolher a sapataria ele se arriscou no futebol profissional em Concórdia, Erechim e Cascavel. Também trabalhou no antigo banco Bamerindus, em Guarujá do Sul. “Sigo o caminho dos meus pais. Hoje tenho 67 anos e planejo trabalhar por mais tempo, não vou desistir. Meu pai parou com 81 anos e eu quero chegar lá também”, reforça.
Paulo aprendeu a ser sapateiro com o pai e tentou ensinar ao seu filho a ser sapateiro. “O ofício dele era ser caminhoneiro, nunca gostou de ser sapateiro”, conta.
 
A fabricação própria deu lugar aos consertos
Atualmente a demanda de trabalho, principalmente dos consertos, aumentou, além de atender pessoas de São José do Cedro, Paulo atende gente de toda a região. Paulo lembra que é difícil se desfazer de uma bolsa, uma mala ou um calçado bom, a exemplo de um tênis de alto valor, onde apenas a sola descolou. “As pessoas não querem jogar fora”, diz.
Por conta disso, Paulo teve que começar a selecionar trabalhos, ou seja, priorizar o conserto ao invés da fabricação própria. Ele conta que uma vez fabricava de tudo, mas hoje mantém apenas a fabricação de botas, alguma coisa de guaiacas e chinelos campeiros. “Ainda sou novo, mas a demanda de trabalho aumentou muito, como não gosto de deixar o pessoal na mão, dificilmente não pego um serviço, então a fabricação própria acaba ficando em segundo plano”.
Questionado sobre o futuro da profissão, Paulo relata que já tentou ter jovens aprendizes, mas que os jovens não tem ambição de se tornarem sapateiros. “Os jovens querem um trabalho que não suje as mãos e as roupas, querem coisas relacionadas a computação ao invés de trabalhos manuais, consequentemente não querem ser alfaiates ou ferreiros, também não querem ser sapateiros”.
Em contramão a isso, pouco a pouco, quem tem a sapataria como ofício vai se aposentando: “Na nossa região, em Palma Sola, Flor da Serra do Sul, Barracão, Princesa, Guaraciaba e Campo Erê não encontramos sapateiros. Em São Miguel do Oeste faltam sapateiros. Em Dionísio Cerqueira, que já teve seis sapateiros, até onde sei, tem apenas dois”, conta Paulo.
Mesmo com a diminuição dos sapateiros, Paulo acredita que a profissão não vai acabar por conta da alta demanda de trabalho. “Penso e sempre falo que um dia vai surgir alguém para ser sapateiro. Alguém vai ver na falta de sapateiros uma oportunidade de negócio, até porque de pés descalços ninguém vai a lugar nenhum. O meu trabalho eu faço feliz e com boa vontade. Independente do futuro da profissão, sigo sendo sapateiro, fabricando e consertando até onde Deus permitir”, conclui Paulo.


Receba as notícias do Portal Sentinela do Oeste no seu telefone celular! Faça parte do nosso grupo de WhatsApp através do link: https://chat.whatsapp.com/Bzw88xzR5FYAnE8QTacBc0
Siga nosso Instagram: https://www.instagram.com/jornalsentinela/
Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Sentinela do Oeste Publicidade 1200x90