08/06/2024 às 09h00min - Atualizada em 08/06/2024 às 09h00min

Criança de oito meses com diabete tipo um

A campoerense Larissa Ferreira Rauch, com oito meses de vida, foi diagnosticada com diabete tipo um. Ao ingressar na escola descobre que há outra Larissa com o mesmo diagnóstico

Ruthe Kezia
Campo Erê
Valmir [pai de Larissa], Larissa, Evelyn [irmã de Larissa] e Juliana. A mãe de Larissa desde a descoberta do diagnóstico de sua filha foi atrás de cursos para aprender a lidar com a doença. (Divulgação)
Como descobrir qual é o desconforto de uma criança que ainda não se comunica, uma criança que não apresenta nenhum sintoma, mas que chora incansavelmente. Foi nessa situação que os pais de Larissa Ferreira Rauch se encontraram quando ela tinha oito meses de vida.
Inicialmente Juliana Fantin Ferreira, mãe de Larissa, imaginou que a causa do choro fosse por conta dos novos dentinhos nascendo. Durante uma madrugada Larissa se agitou muito e deixou seus pais preocupados: “Levei no hospital [de Campo Erê], a médica examinou ela, mas não viu nada de anormal”, conta Juliana. Larissa não se alimentava e apenas chorava, mas aparentemente não tinha nada.
A médica orientou que Larissa voltasse para casa e retornasse no outro dia: “Não levou uma hora para eu chegar em casa e ela [Larissa] já estava com a boca seca. Eu achei que ela iria morrer. Retornei ao hospital e os médicos não acreditavam que era a mesma criança”, relembra Juliana com os olhos cheios de lágrimas.
A mãe conta que os médicos acreditavam ser uma infecção generalizada. No exame de urina foi constatada glicose, e o de sangue resultou glicose HI [quando o nível da glicose está alto]. Larissa, com apenas oito meses de vida, foi diagnosticada com diabete tipo um: “Ela estava com a diabete acima de 600, teve uma cetoacidose diabética [ocorre principalmente em pessoas que apresentam diabetes tipo um, nesse caso, o organismo produz pouca ou nenhuma insulina]”.
Juliana que também é formada em enfermagem, explica que a insulina transforma o que comemos em energia, que vai para a célula e faz o corpo funcionar normalmente. Como Larissa não estava produzindo insulina, seus órgãos estavam parando de funcionar.
 
Busca por ajuda
Larissa, com oito meses foi encaminhada para a unidade de terapia intensiva (UTI) e lá recebeu hidratação e insulina. Após retornar para casa seus pais foram em busca de conhecimentos e de ajuda: “Mesmo sendo enfermeira, nunca tinha atendido uma criança tão pequena com diabete tipo um”, conta Juliana. Através do Instagram, ela encontrou um grupo de mães que trocavam experiências e dicas de como lidar com os filhos diabéticos tipo um.
Nesse grupo, Juliana encontrou a atual médica de sua filha, que ao conhecer o caso de Larissa indicou que ela começasse a usar bomba de insulina [dispositivo eletrônico que fica conectado ao corpo liberando insulina de forma contínua durante 24 horas]. Devido ao alto custo do tratamento, os pais de Larissa foram buscar auxílio via judicial e em torno de um ano depois ganharam o processo. Com a bomba de insulina é possível ter um melhor controle da glicemia de Larissa.
A cada três dias Larissa precisa trocar o cateter e a cada 7 dias ela troca o sensor que serve para monitorar a glicemia. Juliana explica que esses dias de trocas são complicados, pois Larissa sempre chora com a picada da agulha: “Acredito que quando ela crescer vai ser mais fácil, pois ela vai entender melhor”.
Além disso, os pais de Larissa precisam ter outros cuidados, como aplicar insulina na filha 15 minutos antes de cada refeição. Larissa nem sempre aceita bem e tem calma para esperar: “Quando percebemos que ela está bem, mas está com fome, a gente libera um pouquinho antes, mas nem sempre é fácil”.
Em busca de aprendizado para atender melhor sua filha, Juliana foi atrás de cursos: “Fiz cinco cursos online. Geralmente quem ministrava esses cursos eram mães com filhos diabéticos tipo um, que buscaram especialização”.
Quando chegou a hora de Larissa ingressar na escola, Juliana foi até a Secretaria de Educação relatar o caso da filha e alertar sobre alguns cuidados. Prontamente a Secretaria buscou auxílio junto a Secretaria de Saúde para melhor atender Larissa e sua colega de sala de aula, já que ela não seria a única criança da rede municipal com diabete tipo um.
 
Caso Larissas
Duas crianças da rede municipal de Campo Erê são diagnosticadas com diabete tipo um, doença essa que não tem cura. Coincidentemente, ambas têm o mesmo nome, a mesma idade [três anos], estudam na mesma turma e na mesma escola, Centro de Educação Infantil Odila Marcolina de Lima. Porém cada uma delas recebe um tratamento diferente, uma utiliza bomba de insulina e a outra caneta para a aplicação de insulina.
Em busca de recursos e especializações, as Secretarias juntamente com as famílias das Larissas, tiveram uma capacitação para esclarecer algumas dúvidas em relação ao uso correto da bomba de insulina: “Até então, quem sempre nos trazia informações, tanto para a saúde quanto para a educação, era a mãe de uma das crianças [Juliana]”, relata a enfermeira Samara Ronchi. A capacitação foi ministrada pela nutricionista Leila Vieira, que faz parte da equipe Meditronic que fornece treinamento específico sobre a doença e o uso correto da bomba de insulina.
Há diversos profissionais envolvidos para atender o Caso Larissas, que recebem os mesmos cuidados, porém a maneira de manejo é diferente. Para os casos de emergências no período escolar, foi definido pelas Secretarias que haverá um profissional responsável da área de saúde, para atender as Larissas e aplicar insulina.
Ao contrário do que as pessoas pensam que diabéticos não podem consumir doces e frutas, a nutricionista Marina Bernardi, explica que as Larissas que são diabéticas tipo um, precisam consumir carboidratos: “Elas são crianças em fase de crescimento e precisam de carboidratos para o seu desenvolvimento”.
Marina, é responsável pela formulação do cardápio das escolas municipais, além disso ela prepara um cardápio especial para as Larissas com todos os carboidratos e nutrientes necessários: “Priorizamos os carboidratos mais complexos, mas quando a glicemia está abaixo de 70, nós precisamos oferecer um carboidrato simples, a exemplo do mel ou açúcar diluído em água”, afirma Marina.
As Larissas, são como as outras crianças que gostam de doces, cheias de energias, brincalhonas e amáveis, porém precisam de um olhar mais atencioso para não deixar a glicemia aumentar e nem diminuir. Elas não têm nenhuma restrição ao que comer, desde que as refeições sejam bem dosadas: “O nosso foco é manter a glicemia das Larissas controlada”, finaliza Marina.
 
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