13/09/2024 às 15h00min - Atualizada em 13/09/2024 às 15h00min

Tino Pauletti: a memória viva de Palma Sola

A família Pauletti chegou em Palma Sola dia 1º de agosto de 1951, Tino chegou com 14 anos e hoje com 87 conta trechos da história da Palma Suela, os desafios enfrentados pelos desbravadores, o desenvolvimento da cidade e oportunidades que se passaram

Ruthe Kezia
Palma Sola
“Sempre procurei fazer o certo, jamais pensei em prejudicar uma pessoa, isso nunca esteve na minha cabeça".
Nesta edição, o jornal Sentinela traz a história de Celeste Pauletti, mais conhecido como Tino, ele e sua família estão entre os primeiros moradores do município, chegaram na terra palmassolense no dia 1º de agosto de 1951. Dentre os seus 87 anos de vida, 73 anos foram vividos em Palma Sola.
Filho de João Pauletti e Rosa Danelli, Tino nasceu dia 3 de maio de 1937 em Passo Fundo-RS, onde hoje é o município de Água Santa. O casal teve 11 filhos, destes, além de Tino, apenas quatro estão vivos: Lucia, Albino, Olímpio e Lurdes. Antes da família Pauletti se mudar para Palma Sola, João [pai do Tino] trabalhava para a família Crestani, no interior de Lagoa Vermelha-RS. Em 1951 o gerente de João, Adelino Crestani, lhe fez uma proposta para que ele e sua família viessem a Palma Sola para trabalhar construir uma serraria em novas terras no estado de Santa Catarina.
Nessa época Tino era adolescente, mas lembra que para trazer a mudança de Passo Fundo para Palma Sola, seu pai usou um caminhão reboque [parecido com um caminhão julieta] e fez uma carroceria com tábuas de madeira.
Dentre as 17 pessoas que chegaram em Palma Sola, estava João e sua família, Adelino Crestani, Gentil Crestani e Claudino Crestani. As demais pessoas vieram para trabalhar, como era o caso de João, e outras para olhar o lugar. Eles descarregaram a mudança numa divisa de terras, entre a já conhecida Palma Sola e as terras dos Paludo, próximo o local onde ficava a antiga Pasta].
Enquanto os homens descarregavam a mudança embaixo de uma árvore, Rosa foi preparar a comida. Próximo onde se instalaram havia um rebanho, Tino lembra que a água que sua mãe usou para preparar a primeira comida em Palma Sola, era ruim.
Após a família Pauletti se instalar nas terras palmassolenses, João começou a trabalhar na serraria, que no início era uma parceria entre os Dambros e Piva e os Crestani. Os Crestani trabalhavam e dividiam os resultados meio a meio com a colonizadora Dambros e Piva, até que a família Crestani comprou seu primeiro pedaço de terra em Palma Sola, de acordo com Tino, eles compraram 318 colônias [uma colônia é equivalente a 10 alqueires e 24,4 hectares].
Com o tempo as coisas foram se ajeitando para a família Pauletti e depois de um ano, saíram do acampamento e construíram uma casa perto do antigo mercado de Secos e Molhados da família Seger, na beira da sanga do farelo. Depois de um ano já havia outras pessoas residindo em Palma Sola, a exemplo do Felipe Jung, João Timóteo, José Ferreira, Pedro Pacífico e o Hugo Camargo. Tino conta que Hugo morava onde era a Pasta e ali faziam bailes, que até o Claudino Crestani participava e todos dançavam num chão de terra batida.
Atualmente Tino Pauletti está com 87 anos, mas chegou em Palma Sola com 14, ele foi uma pessoa que soube aproveitar sua vida e colecionar boas memórias, sempre procurou se dar bem com as pessoas, evitando brigas e desavenças. Aos 28 anos casou-se com Lurdes Pauletti e com ela teve três filhos: Volmir, Volnei e Adriane.
Para ele o mais importante é a família e os bons amigos. Mesmo com pouco estudo, aprendeu lições valiosas com a vida, como a integridade, honestidade e lealdade.
 
Como foi quando chegaram em Palma Sola?
Eu sempre comento isso, essa cidade [Palma Sola] existe graças a sanga do farelo. Nós ficamos só três dias embaixo das árvores no acampamento [divisa com Paludo], depois pegamos madeira na Caldato e fizemos uma casa. Ficamos na divisa em torno de um ano e de lá vínhamos trabalhar por uma picada até aqui, onde hoje é a cidade.
Certo dia, chegou um ‘caboclo’ tal de José Ferreira, com um facão e revólver na cinta e nós ficamos todos apavorados, pensando que era um bandido, mas não era. O Adelino perguntou para ele: ‘O vizinho, nós precisamos de um camarada que conheça o lugar aqui, porque nós queremos pôr uma serraria e precisamos de um lugar que tenha bastante água. Mas tem que ser mais ou menos no centro, nós queremos colocar a serraria onde tem pinheiro’. Porque no Mato Branco não tinha pinheiro, araucária [O mato branco é a terra dobrada onde não existe pinheiro.
O homem [José] levou eu, meu pai e os três Crestani, e com o facão veio abrindo a picada e trouxe nós aqui. Só que a sanga na época, era duas, três vezes maior e tinha mais água do que tem hoje. Nós chegamos aqui com aquele ‘caboclo velho’ e aqui em cima, no plaino eles chamavam de Catanduva.
 
O senhor conheceu a Palma Suela, a dita palmeira que originou o nome a Palma Sola?
Claro que eu conheci. O que sei dos antigos que moravam aqui, o que tinha ali, onde era a prefeitura velha, o museu hoje, tinha aquela palmeira. Só que tem gente que diz que eram três palmeiras, não é verdade. Cada um conta como quer, mas era uma palmeira.
O que esses antigos diziam para nós, é que os paraguaios vinham fazer erva aqui e se acampavam ali. Depois vinham com tropas de cavalos, burro ou outros animais e daí cancheavam a erva, secavam e saíam com ela.
 
Como surgiu o nome Palma Sola? Quando vocês chegaram aqui já era conhecido por Palma Sola essa localidade?
Sim, já era conhecido. Mas quando saímos do Rio Grande, não sabíamos se era Palma Sola, só sabíamos que era Santa Catarina. Porque a fazenda Palma Sola, quando era da Dambos e Piva, já era Palma Sola. A Fazenda São Vicente abrangia do rio Chapecó pra cá e uma partezinha dela era Palma Sola.
 
Depois de um ano, quando saíram do acampamento, vocês foram morar onde?
Quando nós tiramos a nossa mudança ali desse divisor, os Crestani foram para Marmeleiro e conseguiram um tratorzinho para abrir a estrada velha. A primeira casa que foi feita aqui, foi ali onde hoje é o Joel e a dona Ineda moram, pertinho de onde era o Seger, na beira da sanga.
 
O que tinha naquela época, para se divertir, a não ser trabalhar aqui nessa região?
Não tinha nada. Depois de um tempo fizemos três campos de futebol. Arrancamos os tocos de pinheiro com machado, picareta e depois para emparelhar, os Crestani tinha um jipe e nós amarramos um barrote e subíamos em cinco ou seis, para fazer peso e emparelhar a terra, para fazer o campo de futebol. Então esses eram o divertimento, o futebol e a caça, quem gostava de caçar, ia caçar. Eu caçava às vezes, mas não gostava.
Gostava mais do futebol e por sinal jogava bem. Até fui convocado para jogar na seleção aqui da região. Em Palma Sola o futebol desenvolveu mais, quando o Libório veio para cá em 1958, ele já era vereador em Tapera-RS, ele era estudado.
 
O senhor chegou em Palma Sola com 14 anos, estava entrando na adolescência, o senhor era namorador?
Só para o gasto [Tino ri], um pouco. Naquela época não tinha muitas pessoas, era nós que morávamos aqui, depois de um ano e pouco que começou a vir mais gente.
A primeira moça que veio para cá foi a Helita Valmórbida, do Popo [Alduíno Machiavelli], que veio trabalhar para o Adelino. Depois veio a minha prima e a Maria, a mãe do Hélio Pereira. A Maria veio com os pais dela, já a Elita não, ela veio trabalhar de empregada pra dona Amábile.
 
No começo, qual era o trabalho do senhor?
Levar comida e ajudar a mãe em casa, porque a mãe era sozinha e era só ela que fazia comida para a turmada. Conforme fui crescendo, comecei a trabalhar de foguista na Palmasola S/A. Foguista é fazer fogo na máquina para ela fazer pressão, para poder tocar as máquinas lá em cima. Eu trabalhava na serraria do lado da sanga, próximo onde hoje é a casa mortuária da cidade. Esta foi a primeira serraria de Palma Sola.
 
Vocês vieram para trabalhar de funcionário para o Adelino Crestani, certo? Sempre foram valorizados e remunerados?
Eles foram gente muito séria, pelo amor de Deus! Essa gente aí, eu até duvido que tirassem um centavo de alguém. A gente trabalhava por produção, não tinha salário por mês. Então, se nós produzíssemos bastante na serraria nós ganhávamos mais, era por dúzia de tábuas.
Teve tempo em que nós trabalhávamos de dia e de noite, só que ganhávamos mais, porque vendia bem. A base da produção da serraria em um horário normal, das 5h às 20h, era 400 dúzias de tábua. Então se nós serrássemos de dia e de noite, aumentava para 700, 800 dúzias de madeira, então o salário quase dobrava.
Você perguntou se nós éramos valorizados ou não pela empresa. Eles nunca deram nada para nós, sempre foram justos. Mas eu lembro que eles deram uma oportunidade para o meu pai, só que ele não soube aproveitar.
Quando nós viemos de Lagoa Vermelha [Rio Grande do Sul], antes do pai trabalhar para o Crestani, meu pai trabalhava em uma serraria para o seu Rafael, ele era judeu. Naquela época, o pai deixava o dinheiro na mão do gerente e ele deixou com o Rafael 17 contos de réis, até porque não tinha onde gastar e o pai sempre tinha as rocinhas, as vaquinhas de leite e os porquinhos dele. Ele era muito trabalhador o ‘veinho’.
Quando a serraria começou aqui, eles não conseguiam vender a madeira, era feito pilhas de madeira, 500, 600 dúzias de tábuas bem sequinhas e daí cobria e a rodeava porque não tinha negócio. Um dia o Adelino contou para meu pai estavam apertados, porque na época a gente passava dois, três meses sem acertar a conta, ia tudo pra um caderno lá e ninguém assinava nada, era tudo assim.
E o pai ofereceu o dinheiro que tinha em Passo Fundo com o Rafael. O Adelino e o meu irmão mais velho [Antonio Pauletti] foram buscar, quando chegaram em Passo Fundo conversaram com o Rafael, mas ele não quis entregar o dinheiro, falou que meu pai tinha 17 contos de réis depositado com ele, mas que só entregaria se meu pai fosse buscar. Ele estava certo.
Eles voltaram para cá e no outro dia foram novamente para Passo Fundo, mas dessa vez meu pai foi junto e trouxe os 17 contos de réis. Com esse dinheiro o Adelino queria que o meu pai comprasse da Avenida Crestani, onde tinha um carreador, até a divisa com os Lara. Mas o pai pensou que aquelas taquarinhas da grossura de um dedo né? O pai dizia: ‘Mas eu vou fazer o que nessas terras aqui, pois isso aí não dá nada’. O pai não quis comprar e depois com o tempo eles pagaram o pai. Nós, Deus o livre, não podemos falar uma vírgula a respeito, eles foram muito corretos sempre, não só conosco, com todo mundo.
Depois o Antonio [irmão mais velho de Tino], ele era o serrador na serraria, trabalhador que tá louco, começou a incentivar o pai a comprar terra. De tanto o Antonio insistir, o pai comprou aquela terra onde eu tenho hoje, que fica na linha Sagrada Família, a terra faz divisa com os Mantelli.
A terra que meu pai comprou, que hoje é minha, dá três colônias, ele pagou 10 contos de réis a colônia. Se tivesse comprado aquela, dava mais de 20 colônias por 17 contos de réis e terra plaina para cá. Foi a oportunidade de vida que passou.
 
O senhor trabalhou quantos anos na Palmasola S/A.?
Trabalhei ali dos 16, 17 anos, eu não sei te dizer exato, até os 23, 24 anos. Eu trabalhei pouco tempo, porque daí o meu pai comprou aquela terra [na linha Sagrada Família] e nós fomos morar e trabalhar lá.
 
O senhor não teve vontade de continuar na Palmasola? Ou de montar alguma coisa para o senhor naquele momento?
Naquela época não, eu nunca pensei nisso. A gente nunca teve uma noção de comércio, essas coisas. A gente era trabalhar, trabalhar, fazer as coisinhas certas, comprar e pagar.
Nós entendíamos que as coisas vinham da terra. Então lá na terra que o meu pai comprou, o nosso forte quando começamos na colônia e na agricultura, era o arroz. Sempre tinha a criaçãozinha, o porco, a vaca, e plantava milho também. Naquela época nós fornecíamos o milho, tudo na espiga, para o Rafael Fustegato, porque eles tinham juntas de bois, aí eles empaiolavam.
Eu não sei o porquê, naquela época, a gente deixava de um ano para o outro o milho em um galpão, não sei se era a qualidade do milho ou porque o caruncho não comia tanto. Enfim, que a gente produzia ali, não era em grande escala não.
 
O senhor chegou a estudar em algum momento da vida, seu Tino?
Estudei lá no Rio Grande do Sul, por um ano. Naquele tempo, até tinha uma professora muito boa, mas nós fazíamos 14 quilômetros a pé para ir na aula. Daí eu cheguei até o quarto livro, não era quarta série que nem hoje.
Quando viemos para cá e dali um tempo veio o Zanotto, o Elvo Zanotto, o primeiro professor daqui [Palma Sola] e eu fui o primeiro aluno matriculado. Ele era exigente, era brabo, mas eu acho que aquela raiva dele vinha por não ter competência.
 
O senhor acha que não ter estudo, lhe fez falta na vida?
Ah, em certas partes sim. Por exemplo, conhecimento histórico, essas coisas a gente não sabe. Hoje mesmo, com a experiência que a gente tem, eu tenho medo de sair, por exemplo, chegar no aeroporto e comprar uma passagem, essas coisas para mim é difícil. Mas no mais assim, não. Porque o que eu valorizo e me cuido é a honestidade e fazer as coisas bem-feitas.
 
Como o senhor conheceu a sua esposa?
Quando ela veio pra cá, tinha uns 15 anos, começou a trabalhar no seminário. Mas Deus me livre, não podia ir em um baile, nada. Depois ela foi se soltando e nós íamos nos bailinhos ali na dona Maria Braun, onde tinha o hotel, e ali começamos a namorar.
Fui falar com o velho [pai da Lurdes] e disse que estávamos querendo casar. O velho respondeu: ‘Se eu não estivesse de acordo, há tempo já teriam terminado’ [Tino ri ao lembrar da fala do seu sogro].
Me casei com 28 anos. Não acho que eu tenha casado velho, pode ser que alguém achava, mas se eu fosse ter uma vida nova de novo, eu queria casar com 30 ou 32. Mais velho, pra pegar experiência.
 
O senhor aproveitou a vida?
Não tinha muita coisa para fazer, porque era pouca gente, poucos moradores, era pequena a cidade, nem era cidade. Então o que a gente procurava fazer era ter amizade com o pessoal, se divertir junto, jogar futebol e ir nos bailes. Saia uma festa por ano.
 
Antes de namorar a dona Lourdes, o senhor chegou a ter outras namoradas?
Ah, sim.  Mas não dá para ficar lembrando estas coisas... [ri]. Tem sete para cada homem [brinca]. Eu gostava de namorar, era bom.
 
O que é namorar para o senhor, seu Tino?
O namoro é para conhecer a família. Quando você dá o tempo para essas coisas, você conhece a família, você já conhece a moça também. Por exemplo, como no caso da Lurdes, minha mulher, pelo amor de Deus, a família dessa gente aí era fora de série. Então já vai a parte interesseira nisso, vê se é gente boa, gente correta, gente que entende que o sustento vem do trabalho.
Hoje não tem mais namoro. Hoje está dando mais divórcio do que casamento, porque as pessoas não se conhecem antes. Porque é bonita, porque conseguiu o que ele queria, e daí vai indo, se amontoando ali, aí vem a sequência.
Porque o namoro de hoje com o meu tempo, não tem nem comparação, a gente respeitava. Pra namorar uma moça você tinha que falar com os pais, se estavam de acordo ou não. Porque não era só o rapaz que avaliava a moça, os pais da moça avaliavam a gente também.
 
Quando o senhor voltou para a cidade, construiu a sua casa, que o senhor tem até hoje, vieram os filhos, como foi essa história?
Quando eu casei, meu pai me deu a madeira, porque na época tinha bastante. Fiquei morando um ano lá [na linha Sagrada Família]. Nessa época, meu mano, o Antônio, nós o chamávamos de Negro, tinha um bar [onde hoje é um terreno baldio na esquina em frente a panificadora Flor de Trigo] e ele tentou me trazer pra cá.
Minha mãe não queria que a gente saísse de lá, nós tínhamos uma casinha bonitinha lá, era de madeira, mas bem organizadinha. Um dia o Negro chegou lá e disse que iria me trazer para a cidade, minha mãe disse pra ele: ‘Nós viemos para cá porque você estava morando sozinho aqui no mato e agora que o Tino casou e veio morar aqui, você não vai levar ele’.
Um dia eu e a mulher estávamos na roça, quebrando milho até que escutamos uma buzina lá em casa. Daí eu disse pra Lurdes ir ver quem era e eu fiquei. Quando ela chegou lá, o Altério Rotava estava carregando a mudança na caminhonete dele, já tinha tirado o cano do fogão, desmontado a cama e tudo.
A Lurdes voltou ligeiro e me disse que estavam carregando nossa mudança, eu não acreditei, não era possível uma coisa daquela. Quando cheguei lá, perguntei o que ele estava fazendo e disse que não queria sair porque a mãe e o pai moravam lá. Ele me ignorou e continuou carregando tipo louco, no fim ajudei a carregar, vai fazer o quê.
Quando cheguei na cidade, morei em torno de cinco meses com o Negro, ele tinha uma casa grande. O pai tinha um terreno grande em frente onde hoje é o Correio. Morei um tempinho ali e comecei a trabalhar no bar, mas não deu certo e voltei a trabalhar na roça.
Trabalhei por mais um tempo na roça, até meu sogro dar a ideia de abrir um açougue, junto com ele.
 
Quanto tempo o senhor tocou açougue?
Nove anos. Lembro que o Nono Jacob [Jacó Zandoná] vinha comprar carne e eu pesava 1 quilo de carne, ou 2 quilos, o Nono Jacó dizia: ‘porcomanin, isso é uma colônia de terra’ [Tino relembra imitando Jacó], 1 quilo de carne nós vendíamos por 2 mil Réis e valia uma colônia de terra na época em que o nono Jacob comprou sua terra [ri relembrando].
Era bom trabalhar com açougue, mas enjoei. Vendi o açougue e comprei tudo em terra. Depois passei a terra para os filhos, hoje o que tenho é minha esposa, minha casa e a caminhonete. Eu me orgulho de ter deixado os meus filhos bem.
 
Onde aprendeu a distinguir o certo do errado?
Sempre procurei fazer o certo, jamais pensei em prejudicar uma pessoa, isso nunca esteve na minha cabeça. O que eu tenho foi trabalhando e isso eu trago de casa. O pai sempre tinha dinheiro, mas graças ao trabalho dele.
Eu nunca fui de ganhar dinheiro em negócio, comecei aquele açougue, no começo com o meu sogro, depois negociei o açougue por terra, ali foi o meu começo. Mas sempre trabalhando, eu comecei em 1972 a trabalhar na lavoura e nunca atrasei um pagamento em banco, nada. Eu piso firme, sempre seguro.
 
O mais importante na vida do senhor é a família?
Com certeza. A família e a convivência com o povo, isso é muito importante também. Você viver bem com o povo, se dá com o vizinho, seja lá quem for.
 
Seu Tino, o senhor está com 87 anos, quem foram os seus grandes amigos?
Eu nunca tive inimigos, mas tive grandes amigos, por exemplo, o Hélio Rampanelli e o Élio Mantelli. Foram companheiros para tudo, pra ir em baile, se visitar, emprestar dinheiro, jogar bola. Amigos de confiança mesmo.
Se eu não confio em alguém, eu evito, assim evito a briga, o xingamento e é claro que não faço negócio com quem não confio.
Eu vou dizer uma coisa, eu me julgo como honesto. Eu já perdi dinheiro confiando, mas mesmo assim, eu não fico intrigado com ele, só me cuido. Cada um tem um jeito de levar a vida, eu tenho o sangue de barata, eu não me incomodo.
 
Quais são os seus hábitos para ter chego com saúde aos 87 anos?
Mas olha, a minha saúde até eu admiro, não tomo nenhum remédio, não tenho colesterol, diabete, nunca tomei um comprimido a respeito da pressão.
A alimentação eu cuido, eu cansei de recusar convites para ir jantar. Até gente da família, às vezes, convida pra ir jantar e eu pergunto que horas é a janta, se for tarde não vou. O meu horário de jantar é 7 horas e às 8h30 eu estou na cama. No inverno acordo por volta das 5h30 e no verão acordo 5h, nesse horário já dá pra ir pra roça.
 
O que o senhor tem a dizer sobre política no geral? Política une pessoas ou afasta pessoas?
Depende de cada um. Por exemplo, tem gente que leva a política como uma rivalidade, uma briga, eu não. Na política cada um tem o seu ponto de vista. Você vai opinar para um candidato e eu para o outro, mas tem gente que briga por causa da política, é que nem o futebol, isso está errado.
Eu nunca votei em partido, eu sempre votei na pessoa, pelo menos na minha consciência. Por exemplo, eu não sou PT [Partido dos Trabalhadores], detesto a sigla PT, mas Lula eu sou. Se o Lula for candidato, eu não deixo votar para ele. Porque queira ou não queira, no meu ponto de vista, um presidente para ajudar o povo, um camarada social que nem o Lula, nós nunca tivemos.



 
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