05/11/2024 às 09h00min - Atualizada em 05/11/2024 às 09h00min

Azar no jogo e na vida

O vício em jogos se desenvolve através da busca pela emoção, para evitar a realidade em que está inserido, que pode significar perdas irreversíveis

Ruthe Kezia
São José do Cedro
O vício em jogos gera sintomas como ansiedade, depressão e outros transtornos. Além de distorcer a percepção do mundo real dessas pessoas.
Existe um ditado popular que diz: “Sorte no jogo, azar no amor”. Porém, o cenário atual nos mostra que entrar no mundo dos jogos, pode significar perdas irreversíveis em todas as esferas da vida. A psicanalista clínica de São José do Cedro, Claudia Lorena Ferlin, explicou como o vício em jogos pode influenciar o cotidiano das pessoas e como perceber e ajudar aqueles que se tornaram reféns de um jogo.
Os traços de personalidade como: impulsividade, busca por sensações, baixa autoestima e baixa capacidade de resistir a tentações, podem tornar as pessoas mais vulneráveis à ludopatia [condição médica caracterizada pela compulsão de uma pessoa por jogos de azar].
O vício em jogos, seja ele de aposta ou não, se desenvolve através da busca pela emoção e a adrenalina que é gerada ao ganhar pela primeira vez. Ela é procurada novamente e isso acontece sucessivamente, há uma frustração na perda e novamente a pessoa retoma o jogo para sentir a mesma adrenalina da vitória, produzindo assim um ciclo sem fim.
Esses vícios afetam a vida de forma geral, seja psicologicamente ou em novos hábitos adquiridos. No caso dos jogos de apostas, a vida financeira é bastante afetada, pois no desejo de voltar a ganhar, as apostas vão aumentando e isso leva a pessoa a gastar mais do que poderia ou deveria.
Claudia comenta que essa dependência gera ansiedade, depressão e outros transtornos. A busca pela adrenalina torna-se constante e transforma o cotidiano do indivíduo: “Quando ele percebe o que o vício causou, sente angústia, culpa e receio de não conseguir recuperar o que perdeu, bem como não conseguir voltar a ser quem era antes do vício”. O vício afeta a personalidade, levando a mudanças comportamentais e emocionais, principalmente em crianças e adolescentes que estão desenvolvendo o seu sistema cognitivo e aprendendo a lidar com suas emoções e sentimentos.
 
Fugindo da realidade

Com o desejo de fugir da realidade, as pessoas embarcam na estação da adrenalina que os jogos virtuais proporcionam e conforme eles vão se intensificando, a percepção do mundo real dessas pessoas fica distorcida. Elas desejam que o mundo real seja como o mundo virtual e passam a se comportar e sentir a realidade como se estivessem dentro do jogo.
“Ele quer aquela fantasia e não a vida real com seus problemas, rotinas e suas responsabilidades. Ele quer as emoções, as sensações e as surpresas que o jogo proporciona. É necessário neste momento desenvolver estratégias para o tratamento e trazer o indivíduo novamente para sua realidade”, comenta a psicanalista Claudia.
Os rankings e recompensas, aguçam a competitividade e trazem a sensação de capacidade, poder, admiração e reconhecimento, que são procuradas na vida real. Mas os mesmos são difíceis de conseguir e levam tempo, dedicação e trabalho e nem sempre são alcançados, porém nos jogos isso ocorre de forma muito rápida.
Além disso, Claudia relata que os vícios em jogos para alguns é uma substituição de outro vício, a exemplo do álcool e da droga. Quando uma pessoa consegue parar o vício do álcool, mas não tratou o motivo que o levou a consumir essa substância, ela irá procurar outro meio de fazer isso.
 
Identificar e ajudar os viciados em jogos

A psicanalista relata que para identificar alguém que se tornou refém de jogos, é necessário observar sua rotina a exemplo, se a pessoa deixou de fazer coisas importantes e básicas como: comer, tomar banho, dormir, trabalhar, para ficar jogando e quantas horas e dinheiro gasta em jogos.
Claudia é psicanalista na Clínica Mente Sana, e acrescenta que já atendeu pacientes com tais vícios e conta que normalmente existe um certo nível de alienação da realidade e a necessidade fuga, para não enfrentar questões tanto internas, quanto externas.
É muito importante a procura pelo tratamento, porém o maior desafio para o profissional, é ajudar o paciente a encontrar em si as ferramentas internas e mostrar o quanto é capaz de enfrentar a realidade sem precisar de substâncias ou subterfúgios para fugir. Claudia afirma que é de suma importância saber o motivo que originou a prática que levou ao vício.
Os jogos viciantes, são os que dão a sensação de poder aos jovens que procuram satisfação imediata e rápida. Com isso o custo financeiro acaba sendo um problema,influenciando a vida e as relações familiares de forma negativa. “Os jogos podem transformar e até prejudicar a forma como esse jovem desenvolverá o seu olhar sobre as pessoas, as coisas, sua forma de funcionamento e seu comportamento perante o mundo”, finaliza a psicanalista Claudia. 
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