O digestato passa por uma peneira e esse material é utilizado como fertilizante orgânico. Na compostagem, o fertilizante fica sem o cheiro dos dejetos e parecido com uma terra. ASO/Igor Vissotto
O ano era 2021 e em um pequeno município do Sudoeste do Paraná, em Salgado Filho [que atualmente possui 4.075 habitantes], nascia a Coopenad – Cooperativa dos Produtores de Energia e Adubo. A produção de proteína animal responde por boa parte do movimento econômico no município de Salgado Filho, todavia o crescimento deste setor e a ampliação e manutenção dos negócios destas famílias estava sendo ameaçado por questões ambientais. O problema com o descarte de dejetos de suínos e aves precisava ser resolvido.
Como nasce a cooperativa Coopenad Devido ao grande volume de dejetos que os produtores estavam armazenando em suas terras, o solo passou a ficar saturado, contaminando as águas, o poço artesiano, os rios, as sangas e os cursos hídricos.
Com essas terras contaminadas, os produtores começaram a ter dificuldade de ampliar suas granjas, pois não conseguiam a renovação das Licenças Ambientais. O IAT – Instituto Água e Terra, exige um projeto de utilização dos dejetos dos animais, indicando inclusive as áreas onde este material será aplicado, sendo comum depositar os dejetos crus no solo como forma de fertilizante.
Conforme os solos acumulam nutrientes, provenientes dos dejetos, os produtores de proteína animal precisam de áreas cada vez maiores para a aplicação deste material. Outro problema presente que ocorre com as ampliações das granjas, é a necessidade de esterqueiras cada vez maiores para armazenar os dejetos. Além da ampliação destas estruturas, a manutenção delas é consideravelmente alta.
A primeira alternativa foi a implantação do uso de biodigestores. Acontece que, individualmente, a solução não é economicamente viável, uma vez que, o retorno do investimento é demorado, se tratando de pequenas unidades.
Em janeiro de 2021 a Cooperativa investiu R$ 50 mil na realização de um estudo de viabilidade, para implantação da usina visando atender, inicialmente 42 associados. Em junho os produtores realizaram a Assembleia Geral de Constituição da Coopenad, com eleição dos Conselhos de Administração e Fiscal. Ainda neste mês ocorreu uma reunião apenas com as esposas dos associados, inteirando-as sobre o projeto. Esta foi uma etapa importante, porque consolidou a unidade entre os produtores e associados.
Em julho de 2022, a usina produtora de energia foi inaugurada e em setembro do mesmo ano, foi inaugurada a fábrica de adubo. O investimento foi de R$ 12 milhões, valor este financiado com cooperativas de crédito.
A produção de energia elétrica através de biogás, ficou muito longe do projetado, gerando menos da metade da energia prometida, isto fez a Coopenad repensar os investimentos nesta área. Em 2024 os olhos se voltam para a possibilidade de produzir biometano a partir do biogás.
Atualmente a Coopenad produz energia e fertilizante; conta com 51 associados, entre suinocultores e avicultores.
Sacrifício dos fundadores Como toda cooperativa, é necessário que alguém esteja disponível para cuidar dos detalhes e resolver os problemas, com a Coopenad não foi diferente. Formado como engenheiro agrônomo, Volmir Anater está na linha de frente da Cooperativa desde o início. Ainda entre os anos de 2016 e 2018 Volmir tinha um escritório onde realizava projetos de licenciamento ambiental e assistência aos clientes, e paralelo a isto mantêm uma propriedade onde cria aves e ovelhas.
“O faturamento era bom, mas quando assumi esse compromisso, precisei abrir mão do meu escritório, porque não tinha condições de fazer as duas coisas”, declara o atual diretor administrativo, que já foi presidente da Coopenad. Volmir detalha que nunca pensou em trabalhar na Cooperativa, imaginava que contratariam funcionários e eles tocariam a Coopenad, porém nenhum produtor estava disposto a se dedicar em tempo integral.
Financeiramente Volmir saiu perdendo, mas acreditando no sonho assumiu a responsabilidade. Junto com os associados acertaram um valor de salário e Anater ficou responsável por tocar a cooperativa, gerenciar a Coopenad e elaborar, gratuitamente, as licenças ambientais e projetos para todos os associados.
Bendita Coopenad A merda e os dejetos que causavam problemas ambientais, inimizade com vizinhos após esterqueiras extravasarem após dias de chuva impediam a manutenção e aumento das atividades econômicas destes associados. A Coopenad surgiu para resolver este problema.
Para se tornar um associado da Coopenad, os suinocultores e avicultores investiram R$ 2 mil. Esse dinheiro foi utilizado para a viabilidade e a documentação da terra. O restante foi financiado junto as cooperativas Sicoob, Sicredi e Cressol, inicialmente resultando numa dívida de R$ 12 milhões; com renegociações, novos investimentos e juros a dívida dos associados está em R$ 16 milhões.
Em nenhum momento a Coopenad perdeu associado pelo medo de não honrar a dívida. O principal problema do associado é resolvido mês após mês, os dejetos deixam de ser um problema ambiental, há possiblidade de aumento no número de suínos e aves produzidos e o associado ainda vislumbra a possibilidade de um ganho extra, seja com a produção de fertilizando ou a venda de energia.
Gerando receita para quitar a dívida A Coopenad, instalada na linha Concórdia, zona rural de Salgado Filho, começou suas atividades no final de 2022, coletando dejetos de suínos e aves dos associados. Esses dejetos são transportados para a cooperativa, onde são separados e fermentados para gerar biogás, utilizado para produzir energia elétrica. No entanto, a produção de energia foi inconsistente, levando à rescisão do contrato com a compradora de energia elétrica12.
Além da energia, a Coopenad produz fertilizantes a partir dos dejetos. O digestato, um subproduto do processo, é rico em nutrientes e benéfico para o solo. A cooperativa cobra apenas o frete para entregar o digestato, mas enfrenta dificuldades logísticas devido à falta de caminhões, resultando na devolução de 45% dos nutrientes ao solo de Salgado Filho.
Novos ares A Cooperativa Coopenad tinha a expectativa de produzir 500 megawatts de energia elétrica mensalmente, mas enfrentou problemas que fizeram a produção cair para 240 megawatts no melhor mês e 70 no pior.
Devido à baixa produção e outros problemas, a parceria com a Cooperativa Paraná Energia foi rompida. A Coopenad está se reestruturando para produzir energia apenas para consumo próprio e intensificou o processo de compostagem de fertilizantes, criando um adubo organomineral mais barato e eficaz do que o químico.
Autorização do Ministério da Agricultura A Coopenad está em busca do aval do Ministério da Agricultura para comercializar fertilizantes organominerais, enquanto também explora uma parceria para produzir biometano.
Produção de biometano A Coopenad está em conversa com a tem uma conversa com a Cetric – Central de Tratamentos de Resíduos, de Chapecó-SC, para uma parceria que envolve a produção de biometano a partir do lodo de frigoríficos de Francisco Beltrão e Sudoeste do Paraná.
Parte da frota de veículos da Cetric já é movida por biometano. “
Atualmente eles têm 40 carretas a biometano, até o final de 2025 querem chegar a 200” diz Volmir explicando que o custo final de um caminhão movido a biometano é pelo menos 30% inferior ao do diesel". Começando a dar lucro Com a aprovação do Ministério da Agricultura para a venda do biomineral e a produção de biometano em andamento, Volmir acredita que a dívida de R$ 16 milhões será paga em cinco anos, permitindo que os 51 associados da Coopenad comecem a lucrar.