Em homenagem ao dia da mulher, o jornal Sentinela do Oeste entrevistou uma pioneira do empreendedorismo feminino em Palma Sola. Dona Clementina Fantin Rampanelli comemora neste ano 45 anos da Rampanelli Confecções, e nos conta com orgulho, leveza e alegria, sua história, que nem sempre foi fácil, porém com todos os desafios superados.
Uma mulher de fibra que sempre se moldou de acordo com as necessidades dessa vida! Que fala em sonhos, mas que faz o melhor com os caminhos e oportunidades que a vida proporciona.
Apesar de renunciar a seus sonhos e ambições como professora, fez de um acaso do destino, sua profissão, renda da família e legado aos filhos. O sorriso no rosto de Clementina é de uma mulher guerreira e incansável, que sempre tomou frente dos negócios e mesmo com todas as adversidades nunca perdeu a maneira leve e descontraída de viver.
Com grande participação na comunidade, Clementina já foi membro ativo na Câmara de Dirigentes e Lojistas (CDL), catequista e sempre colaborou com várias entidades do município. Clementina também é conhecida pela colaboração na venda de rifas, especialmente com a venda das cartelas de rifa da igreja católica: “O convívio social é fundamental para a nossa felicidade e uma das maneiras de se envolver é através das entidades, é sempre bom colaborar” revela a vendedora de sorriso fácil e olhar firme.
Clementina nos conte de onde você veio?
Tenho 74 anos, sou natural de Ipumirim-SC, cresci na comunidade do Tatetos em Flor da Serra do Sul até a juventude, quando me mudei para Marmeleiro-PR onde morei por seis meses. Cheguei em Palma Sola com 19 anos; sem medo ou insegurança vim atrás de uma oportunidade.
Como era Palma Sola quando você chegou? E o que veio procurar aqui?
Vi Palma Sola ser fundada, quando cheguei estavam começando abrir as ruas, não existia calçamento. Lembro de caminhar em carreiros no meio da capoeira. Vim para Palma Sola em busca de estudos no colégio das freiras que existia aqui, elas nos enchiam de tarefas.
Durante a semana estudava e trabalhava no hospital, na farmácia, centro cirúrgico, cozinha e onde pudessem surgir demandas.
Você tinha ideia de se tornar freira, ou trabalhar no hospital?
Não, nunca tive planos e nem fui convidada a me tornar freira, muito menos trabalhar no hospital. Com o passar do tempo e sem terminar o ensino médio, comecei lecionar no município, dei aulas para turmas do jardim, ensino fundamental e uma turma de alunos especiais; até cheguei prestar um concurso no estado, pra minha surpresa fui bem, uma das melhores notas, mas de maneira injusta a vaga acabou sendo preenchida por outra pessoa, uma época que a indicação valia mais que o resultado da prova.
Lembra de como conheceu o Pedro Rampanelli?
Existiam jogos de futebol no antigo Clube Fronteira, Pedro (em memória), era um desses atletas, namoramos durante um ano e meio depois nos casamos. Morei na casa dos meus sogros, lá passei por momentos complicados pois meu sogro era uma pessoa geniosa, mas sempre encontrei um meio convencê-lo. Com jeitinho tudo se ajeita. Pedrinho e eu passamos por brigas, e o alcoolismo era um ponto muito difícil da nossa relação. A decisão de não me separar apesar das dificuldades foi com ajuda de muita oração e conselhos que ouvia do meu pai.
A senhora teve quantos filhos e como foi criá-los?
Tive três filhos: Daniel, Benhur e Bianca. Sempre os criei seguindo os princípios da bíblia e os ensinando como se tornarem pessoas trabalhadoras e honestas. Os três se criaram dentro da loja, volta e meia um deles se escondia numa caixa de papelão para assustar um cliente. Eles sempre me ajudaram, faziam o serviço de banco, levam roupa para as clientes provar e acredito que com estas coisas entenderam que tudo vem do trabalho.
De onde vinha a renda da casa?
Antes de montar a loja, eu lecionava e o Pedro tinha uma barbearia que acabou sendo destruída num incêndio na década de 80. Como mencionei prestei o concurso, me esconderam a vaga, e nunca fui chamada. Nós precisávamos criar os filhos, ter uma vida digna, e a partir da necessidade montei uma loja de roupas usadas, lá eu tirava o sustento da minha família, o primeiro produto novo que vendi na loja com muito medo foram chinelos Havaianas. E dali em diante eu vi na loja uma oportunidade de trabalhar, criar meus filhos e garantir o sustento da família.
Dona Clementina, e aqui na sua casa, durante o período de casada, quem administrava o dinheiro?
Eu sempre administrei o dinheiro da casa e da loja. Quem bebe nunca faz bons negócios, eu controlava tudo que entrava e saia, até os negócios de carros que o Pedrinho fazia passavam por minha aprovação. Aprendi sozinha como cuidar da parte financeira da loja, que já passou por momentos muito difíceis. Como todo negócio, há anos bons e anos ruins, já tive que contar cada centavo para dar a volta, mas no fim tudo se encaminhava.
Qual foi o pior momento da Rampanelli Confecções?
O Pedrinho me apoiava, estava por perto, e com a morte dele senti vontade de vender a loja, pois meus filhos já estavam grandes eu já tinha onde morar, não via mais motivos para continuar trabalhando. Foi um momento difícil, encontrei amparo no ombro dos filhos, da igreja e de Deus. Nem sempre os piores momentos de um negócio estão relacionados exclusivamente com a falta de dinheiro. Pensei seriamente em vender a loja.
Como a senhora define a história da Rampanelli Confecções depois de 45 anos?
Montar uma loja nunca foi um sonho, mas ela veio da necessidade de sustento de uma família, hoje vejo que tudo que sou e tenho veio da loja, foi ali que criei meus filhos, e foi através dela que consegui comprar um terreno no centro da cidade e construir minha casa e a loja. Depois de ter me questionado sobre a venda da loja decidi fazer a proposta para a Bianca comprar a parte dos irmãos e tocar a loja comigo. Assim eu poderia ajudá-la com suas filhas e ela deixaria seus outros trabalhos e se dedicaria a loja. Hoje eu e a Bianca administramos a loja juntas e tenho muito orgulho de ver a loja nas mãos dela.
Há algum segredo para uma loja de roupas se manter há mais de 40 anos numa cidade pequena como Palma Sola?
[Sorrindo] São várias coisas: o bom atendimento, não sair de trás do balcão, o dono do comércio tem que estar dentro do comércio, nunca ficar de braços cruzados. Fazer a sucessão familiar e entender que existem os 10 anos bons e os 10 ruins, assim como os bons passam os ruins também, é só manter as coisas em dia e com controle. É importante ter pessoas de confiança ao seu redor, tratar todos com respeito e no caso da venda de roupas, entender que a roupa que vende não é aquela que você gosta, é a que o cliente gosta. Com o passar dos anos você entende que não é preciso muito para ser feliz; é importante encontrar felicidade nas pequenas coisas.