No último domingo, dia 25 de maio, foi celebrado o Dia da Costureira, uma profissão marcada pela delicadeza, paciência e força. O jornal Sentinela conversou com a costureira Dalva Kinzel, de São José do Cedro, que há 55 anos costura histórias, tecidos e memórias com as próprias mãos. Aos 73 anos, Dalva segue ativa na profissão que escolheu ainda jovem, movida pelo gosto de criança e pela necessidade.
Em 1952 nascia em Lajeado, Rio Grande do Sul, uma mulher que seria conhecida em São José do Cedro pela sua história e capricho na costura. Ainda muito nova, ela e sua família se mudaram para Palma Sola, onde havia dois tios de seu pai que estavam morando nas terras palmassolenses. Depois de um tempo em Palma Sola, quando Dalva tinha seis anos a família fixou morada em São José do Cedro, onde Dalva construiu sua vida.
Em 1970, aos 18 anos, no interior de São José do Cedro, Dalva começou a costurar entre os afazeres da roça: “Quando chovia eu costurava, e quando tinha sol ia para roça”, relembra. Ela destaca que aprendeu com a vizinha, numa época em que as máquinas ainda eram movidas com o pé.
A primeira peça que fez foi especial, ela relembra com muito orgulho da blusa que fez para sua avó paterna: “Nunca esqueço. Até tem uma fotografia dela com aquela blusinha”.
Dalva casou-se aos 29 anos e teve dois filhos. Após casada morou um ano no interior com seu esposo, mas logo se mudaram para a cidade a fim de ter mais oportunidades profissionais. A decisão trouxe algumas consequências e alguns sofrimentos, mas o casal batalhou e com o esforço do trabalho, foram conquistando suas coisas: “Quando viemos para a cidade não tínhamos casa, então pagamos aluguel por cinco anos, até que construímos nossa casinha, mas para isso, trabalhamos muito”, relata Dalva.
A partir de 1982, quando o casal se mudou para a cidade, Dalva deixou de costurar apenas para a família e começou a conquistar clientes. Além de seu belo trabalho, Dalva é conhecida pela sua simpatia: “Aqui na cidade sou bem conhecida, mesmo nunca tendo costurado para as fábricas, sempre costurei para as pessoas”.
Dalva, que antes fazia reparos e peças sob medida, teve que mudar sua rotina profissional. Em 1995 ela foi diagnosticada com câncer de mama e mesmo enfrentando grandes desafios, manteve a força e a esperança, superando cada obstáculo. Questionada sobre como descobriu, Dalva conta que ao se apalpar, descobriu que tinha um nódulo no seio: “Fui consultar e me mandaram fazer mamografia. Quando veio o resultado não era coisa boa”.
Por um ano, precisou parar de costurar, principalmente por ter perdido a força no braço: “Não foi fácil, a costura é um passatempo, é uma terapia pra mim”. Hoje, ela não faz mais roupas sob medida devido às sequelas que o câncer deixou, mas segue firme com os reparos, a exemplo de barras, zíperes e ajustes. Tem clientes fiéis que estão com ela há mais de 40 anos e ela se orgulha do seu trabalho: “Nem dá pra pegar de todo mundo porque é bastante coisa”, comenta.
Para Dalva, o segredo da longevidade e da saúde está em manter-se ativa: “Força de vontade e fé, é o que mantém a gente com força. Trabalhar mesmo depois de uma certa idade é bom, não dá para se acomodar, com certeza isso tem a ver com a saúde”.
Além de ser exemplo de uma boa costureira, Dalva Kinzel é exemplo de superação e de uma mulher trabalhadora, bordando a própria história com fé e coragem.
Olho:
“... Força de vontade e fé, é o que mantém a gente com força. Trabalhar mesmo depois de uma certa idade é bom, não dá para se acomodar, com certeza isso tem a ver com a saúde”.