Aos 14 anos, Willian Ricardo Montagner viveu uma experiência que muitos garotos sonham desde pequenos: participar de um teste para integrar as categorias de base do Sport Club Internacional. Após ser observado por um olheiro em um treino local, ele foi um dos três jovens selecionados para testar suas habilidades em Porto Alegre, onde passou uma semana treinando em uma das estruturas mais tradicionais do futebol brasileiro. A experiência foi intensa, inédita e cheia de aprendizados, mas acabou se tornando também um ponto de virada.
“Foi legal, diferente de tudo. Mas é longe, sem família, sem amigos, comida diferente. Lá eu comecei a perceber que talvez aquilo não fosse pra mim”, conta Willian. O rendimento abaixo do esperado durante os treinos e o fato de ser o mais velho do grupo testado também influenciaram para que ele não fosse aproveitado pelo clube. Agora, ele sonha em estar em outro tipo de campo, dessa vez não sendo o de futebol, mas sim aquele onde se planta, colhe e constrói uma vida ao lado da família.
Hoje, Willian diz com tranquilidade que seu caminho é outro: a agricultura. Filho de produtores rurais, ele vê na lavoura não só uma fonte de sustento, mas um projeto de vida. “Quero seguir com meu pai, estudar Agronomia e continuar no que é da nossa família. Sempre gostei e hoje tenho certeza de que é isso que eu quero”, afirma.
O futebol, no entanto, não foi abandonado. Virou prazer, passatempo, um esporte que ele continua praticando com entusiasmo em torneios regionais. “Quero jogar na região, participar de campeonatos amadores, estaduais. Dá pra se divertir e até ganhar um dinheirinho. Mas sem aquela pressão toda”, diz.
A decisão de deixar para trás o sonho de ser atleta profissional e abraçar a sucessão familiar na lavoura foi recebida com alegria pelos pais. Fátima Caramori Montagner, mãe de Willian, relembra com carinho e um certo alívio a mudança de planos do filho. “Teve uma época em que ele só falava em futebol. Como mãe, eu tinha muito medo. Lá fora é cada um por si, muita pressão, muita maldade. Ver ele querer ficar com a gente, trabalhar com o pai [Marcos Rogério Montagner] é uma bênção”, diz.
Segundo ela, ter o filho por perto permite não apenas oferecer apoio, mas também orientar em momentos decisivos da vida. “Hoje ele é novo, mas logo vem a maioridade. A gente quer que ele seja feliz, que cresça com responsabilidade e siga um caminho bom. E estando aqui, a gente pode acompanhar, aconselhar, apoiar”, completa.
Para Willian, a mudança de planos não significou fracasso, mas um sinal de amadurecimento. Ele percebeu que nem sempre o sonho de infância precisa se concretizar para dar sentido à vida. Ao trocar os gramados pela lavoura, reencontrou propósito ao lado da família. Agora, seu maior desejo é plantar raízes onde sempre se sentiu bem: em casa.