A Secretaria de Assistência Social de Anchieta, está atendendo demandas encaminhadas pelo Judiciário, através de atendimentos em grupos realizados com homens que já praticaram algum tipo de violência doméstica. O projeto tem como objetivo promover escuta, diálogo e mudanças de comportamento.
O trabalho vem sendo realizado no município há aproximadamente um ano e meio, os encontros são realizados às sextas-feiras, a cada 15 dias, nas dependências da Secretaria. Os atendimentos visam promover reflexão, conscientização e educação sobre os tipos de violência praticados e suas consequências. O projeto é conduzido pela psicóloga e hipnoterapeuta, Juliana Ivete Chenet, e pela assistente social da equipe de Proteção Social Especial (PSE), Jozane de Paula Bart.
A proposta nasceu de uma demanda judicial repassada inicialmente ao CRAS e à Secretaria de Saúde, mas que passou a ser responsabilidade direta da Secretaria por se tratar de um caso de média complexidade.
Cada participante deve cumprir um ciclo de 10 reuniões, conforme determinado pelo Judiciário. “Chegamos a ter um grupo com 10 homens, agora estamos com cinco, porque é um grupo rotativo. Conforme a demanda judicial vai chegando, os participantes vão sendo inseridos”, relata Juliana.
Segundo a psicóloga, o foco principal do trabalho é educativo, com abordagem terapêutica. Durante os encontros, são discutidos temas como a Lei Maria da Penha, os diferentes tipos de violência, incluindo a patrimonial, moral, psicológica e financeira, e os impactos dessas atitudes dentro das relações familiares: “Eles chegam aqui dizendo que nunca fizeram nada. Explicamos que, por exemplo, negar dinheiro para a companheira ou proibir que ela saia com determinada roupa, também é violência. Muitos nem sabiam disso”, pontua.
O grupo é conduzido em formato de roda de conversa. O espaço é pensado para que os participantes se sintam à vontade para compartilhar vivências, esclarecer dúvidas sobre os processos judiciais e, principalmente, compreender as implicações de seus atos. Juliana comenta que mensalmente a Secretaria presta relatórios para o Judiciário, informando sobre a presença, participação e o andamento do processo de cada um.
Resultados e desafios
Os resultados variam conforme o perfil de cada participante, mas ambas as profissionais reconhecem que o processo é significativo na maioria dos casos. “No primeiro momento, muitos vêm dizendo: ‘estou aqui porque sou obrigado’. Mas, no decorrer dos encontros, eles começam a entender algumas situações que desconheciam. Alguns saem com a percepção de que o encontro foi bom, que aprenderam algo novo”, conta Jozane.
Ainda assim, há desafios. “Tem aqueles que acham que estavam certos, que não fizeram nada. Isso é particular de cada um. Alguns têm questões psicológicas mais profundas, e vir ao grupo não gera a reflexão esperada”, complementa Juliana.
Mesmo diante das dificuldades, a equipe mantém o compromisso com o processo educativo e humanizado, acreditando que o diálogo e a escuta são fundamentais para prevenir novas ocorrências de violência. “A intenção é que eles se deem conta de que o ato que praticaram não é legal e que possam mudar e não repetir as mesmas atitudes”, conclui Jozane.