A decisão da Prefeitura de São José do Cedro de municipalizar as escolas do interior, EEF Osní Medeiros Régis, do distrito Mariflor e EEF Padre Réus do Distrito Padre Réus, acendeu uma forte divisão entre os moradores das comunidades. Para uns, é a única forma de manter as instituições funcionando por mais tempo. Para outros, representa o enfraquecimento das localidades e uma perda irreparável para as famílias.
A medida que visa ampliar o atendimento em ensino em tempo integral e fortalecer o ensino regular, prevê que os alunos do jardim ao 5º ano da EEF Osní Medeiros Régis, no distrito de Mariflor, sejam transferidos para a EEF Padre Réus, enquanto os estudantes do 6º ao 9º ano da EEF Padre Réus passem a estudar na EEF Osní Medeiros Régis.
Atualmente, ambas as escolas operam em modelo de gestão compartilhada entre Estado e Município, e a Administração alega que a municipalização faz parte de uma tendência gradual em Santa Catarina, na qual as turmas do ensino fundamental são transferidas para a gestão municipal.
O anúncio provocou reações imediatas. Em Mariflor, um abaixo-assinado reuniu 180 assinaturas contra a mudança. Já em Padre Réus, segundo moradores, cerca de 90% das casas visitadas apoiaram a permanência das turmas no local.
Favoráveis à decisão
Entre os que apoiam a medida, está o morador do distrito de Mariflor, Jocelei Borsatti, presidente da APP da EEF Osní Medeiros Régis. Para ele, a municipalização é necessária diante da queda no número de alunos, garantindo assim a sobrevivência da escola.
“Nós não temos mais crianças suficientes, e dentro de pouco tempo a escola não teria condições de se manter aberta. Com essa decisão, conseguimos dar um fôlego maior e manter a escola funcionando por mais tempo”, afirmou.
Borsatti conta que a ampliação do ensino em tempo integral lhe traz mais segurança daquilo que seu filho está fazendo e aprendendo. Ele destaca que com essa mudança, o seu filho irá passar mais tempo na escola, aprendendo e desenvolvendo habilidades, ao invés de passar horas em frente a telas em casa.
Borsatti lembrou que a legislação nacional prevê que o ensino do 1º ao 5º ano seja responsabilidade dos municípios. “É uma questão de lei. Se não houver essa mudança agora, é possível que em pouco tempo a escola esteja fora do padrão e tenha que fechar”, ressaltou.
Contrários à mudança
Na outra ponta, muitas famílias dizem se sentir prejudicadas. Elisete Fátima Henicka, moradora do Distrito Mariflor, foi categórica: “A gente não queria que ele tirasse as crianças pequenas daqui. É uma escola muito boa, e a comunidade não aceita essa decisão. Votamos nele [prefeito, Fernando Júlio Will], mas não pensando nisso”.
Mesmo que a mudança não seja para fechar as escolas, a decisão preocupa a moradora do Distrito Padre Réus, Jéssica Muhl, mãe de três filhos, que declara que é só uma questão de tempo para o fechamento da escola. Ela teme que a mudança acelere o esvaziamento do interior: “Nunca deveria pensar em fechar uma escola rural. Isso prejudica as famílias, algumas já pensam até em vender as terras e ir para a cidade”.
Até mesmo os alunos demonstram preocupação. Lorenzo Muhl Demarco, de 11 anos, estudante do 5º ano na EEF Padre Réus, lamentou a possibilidade de perder colegas e ter que enfrentar deslocamentos maiores: “É bem triste, porque vamos perder muitos colegas e ainda ter que acordar mais cedo para pegar o ônibus”.
Impactos na comunidade
Os moradores destacam que com a municipalização, o convívio comunitário em festas escolares e atividades tradicionais, que fortalecem os laços entre famílias, podem desaparecer. Para eles, hoje o que une as famílias nos eventos escolares são as crianças e com o deslocamento delas para outra comunidade, irá dificultar esse convívio direto.
Além disso, as famílias se preocupam com o deslocamento diário de seus filhos e com a segurança do transporte escolar, já que algumas estradas estão em más condições. Outro receio é que a retirada das séries iniciais acelere o êxodo rural, já que algumas famílias cogitam se mudar para a cidade em busca de facilidades. A população teme pelo futuro das comunidades e aguarda uma resposta.
Posição da Prefeitura
A equipe de redação do jornal Sentinela entrou em contato com o prefeito, Fernando Júlio Will, porém ainda não houve retorno. O texto será atualizado conforme o posicionamento da Administração Municipal.