As redes sociais aproximaram o mundo — mas também abriram espaço para novas formas de violência que, muitas vezes, começam dentro de casa. Cada vez mais, casais têm usado o ambiente virtual para se atacar, expor a vida íntima do outro ou transformar a dor da separação em espetáculo público. Esse tipo de comportamento é o que os especialistas chamam de violência digital.
A violência digital ocorre quando alguém usa a internet, o celular ou as redes sociais para humilhar, ameaçar, perseguir ou expor outra pessoa. E quando isso acontece entre marido e mulher, namorados ou ex-companheiros, ela passa a ser também violência familiar ou doméstica, pois fere o respeito e a dignidade dentro da relação.
Expor o outro é violência — não desabafo.
Muitos acreditam que postar desabafos, fotos, mensagens privadas ou vídeos do ex é apenas “liberdade de expressão”. Mas, na verdade, isso pode causar danos irreparáveis à honra e à saúde emocional de quem é exposto.
O caso do chamado “chá revelação da traição”, em que um homem expôs uma suposta infidelidade da esposa em uma festa pública, ilustra bem esse tipo de abuso. O vídeo viralizou e destruiu a intimidade de uma família inteira. Mesmo com decisões judiciais para retirar o conteúdo do ar, o dano já estava feito — e impossível de reverter.
A lei protege quem é vítima
O Brasil já possui leis que podem punir esse tipo de conduta. O Código Penal prevê punição para crimes contra a honra (como calúnia, difamação e injúria) e também para a divulgação de fotos e vídeos íntimos sem consentimento.
Além disso, a Lei Maria da Penha pode ser aplicada quando a exposição acontece no contexto de uma relação afetiva, já que a humilhação pública também é considerada violência psicológica.
O Marco Civil da Internet e a Lei Geral de Proteção de Dados ajudam a garantir que plataformas e provedores sejam responsabilizados caso não removam conteúdos ofensivos após notificação.
O que fazer se você for vítima: a) Guarde provas: tire prints, registre links e salve mensagens; b) Procure ajuda: vá à delegacia (de preferência, Delegacia da Mulher) ou ao Ministério Público; c) Busque apoio jurídico e psicológico: é importante não enfrentar a situação sozinha; d) Peça a remoção imediata do conteúdo: a Justiça pode determinar a exclusão das postagens e indenização pelos danos causados.
Família deve ser abrigo, não palco de humilhação
A internet pode fortalecer vínculos e ampliar a voz das pessoas — mas também pode destruir reputações e ferir quem mais amamos. É preciso lembrar que, por trás de cada tela, existe uma vida real. Quando o respeito acaba, a exposição digital se transforma em mais uma forma de agressão.
Falar sobre violência digital é proteger famílias, preservar a dignidade e ensinar que a liberdade de expressão não é licença para ferir o outro. O diálogo, o cuidado e o respeito são o verdadeiro alicerce de qualquer relação — dentro ou fora das redes.
Por: Juliane Silvestri Beltrame Advogada Especialista em família e planejamento sucessório, escritora e Conciliadora Extrajudicial.