Analiza Vissotto
São José do Cedro
“É uma atividade que faço desde criança, quando meu pai começou a plantar fumo. Sempre lidei com esse cultivo, mas está cada vez mais complicado”, lamenta Paulo Roberto Dias Liria, da linha Pardo, interior de São José do Cedro. Paulo é, de maneira geral, o retrato do produtor de fumo, que na época da ascensão do cigarro produzia e investia mais do que atualmente. “A produção sempre vai depender do quanto vou me endividar para investir”, declara.
A diferença, conforme o produtor que também lida com o cultivo de milho (silagem), trigo e produção de leite, é devido ao aumento dos custos de produção. “A rentabilidade não acompanhou esse aumento de custo”, explica Paulo informando que a diminuição prevista para este ano é de quase R$ 15 por arroba paga. “Então me vejo na situação de trabalhar e nada sobrar”, sentencia. A produção de fumo do agricultor está toda plantada. “Coloco ureia, e aí os agrotóxicos para a lagarta não comer, então limpamos com a enxada, e colocamos mais veneno. Até o Natal não paramos. O Natal do colono é isso, passar colhendo fumo”, brinca Paulo.
Para o engenheiro agrônomo da Gerencia Regional da Epagri, de São Miguel do Oeste, Elvys Taffarel, alguns fatores contribuíram para a redução das áreas da cultura do fumo: alta concentração de mão de obra no período de dezembro a janeiro (férias de fim de ano), renda concentrada num período único do ano (venda da safra), falta de mão de obra nas propriedades, colheita com rentabilidade baixa em função do preço e/ou queda da produção e por ser uma atividade que exige muito trabalho braçal, o que torna o trabalho penoso. “Por isso a Epagri trabalha a diversidade das atividades geradoras de renda, para garantir estabilidade”, comenta o engenheiro agrônomo.
A produção mundial do fumo está concentrada em dez países, sendo a China o maior produtor, seguida da Índia e o Brasil em terceiro, que também é o maior exportador mundial de fumo. A participação do país foi em 2011 foi de 21,6% do total exportado, tendo produzido no mesmo ano 951,9 mil toneladas de fumo, e exportado 545 mil toneladas, que movimentou US$ 2,9 milhões. Na safra 2014 o valor gerado pela exportação foi de US$ 1,3 milhão.
Mesmo a produção sendo significativa em comparação a mundial, o país sofre com uma queda do número de produtores. Conforme dados da Afubra em 2009/10 eram mais de 222 mil produtores no país sendo que em 2013/14 foram 182 mil. Em Santa Catarina a diferença foi de quase 8 mil produtores no mesmo período. A região Sul do país é responsável por 98% da produção de fumo brasileira. Conforme dados do Centro de Socieconomia e Planejamento Agrícola (Cepa) na safra 2014/15 Santa Catarina produziu mais de 256 mil toneladas, tendo exportado mais de 75 mil toneladas, que movimentaram cerca de US$ 390 mil.
EVOLUÇÃO DA FUMICULTURA SULBRASILEIRA | |||
SAFRA | FAMÍLIAS produtoras | HECTARES plantados | PRODUÇÃO toneladas |
10 | 185.160 | 370.830 | 691.870 |
11 | 186.810 | 372.930 | 832.830 |
12 | 165.170 | 324.610 | 727.510 |
13 | 159.595 | 313.675 | 712.750 |
14 | 162.410 | 323.700 | 731.390 |
15* | 153.730 | 308.260 | 695.850 |
Fonte/Afubra | * Estimativa |
EVOLUÇÃO DA FUMICULTURA NA REGIÃO | ||
Anchieta 2010/11 | 207 produtores | 331 toneladas |
Anchieta 2014/15 | 85 produtores | 117 toneladas |
Campo Erê 2010/11 | 145 produtores | 310 toneladas |
Campo Erê 2014/15 | 73 produtores | 170 toneladas |
Flor da Serra do Sul 2010/11 | 145 produtores | 247 toneladas |
Flor da Serra do Sul 2014/15 | 70 produtores | 171 toneladas |
Guarujá do Sul 2010/11 | 115 produtores | 259 toneladas |
Guarujá do Sul 2014/15 | 60 produtores | 141 toneladas |
Palma Sola 2010/11 | 260 produtores | 729 toneladas |
Palma Sola 2014/15 | 157 produtores | 355 toneladas |
São José do Cedro 2010/11 | 488 produtores | 966 toneladas |
São José do Cedro 2014/15 | 285 produtores | 595 toneladas |
Fonte/Afubra |
Atualmente o que é feito do tabaco é somente o cigarro. Uma parte insignificante está sendo utilizada para extração de nicotina para a fabricação de cigarros eletrônicos.
Produtor quer transparência na apuração de custos para negociar preços
A Comissão interestadual de negociação de preços de tabaco esteve reunida na sede da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag) em Porto Alegre, no mês de agosto, para estabelecer a nova fase de negociação de preços. Os produtores decidiram, no encontro, que somente negociarão preços mínimos de tabela da safra 2015/2016 com aquelas empresas que tenham o custo de produção apurado e calculado em conjunto com os representantes dos fumicultores dos três Estados do Sul. O custo de produção deve ser apresentado com antecipação para o devido encaminhamento das etapas de negociação. A Comissão encaminhou comunicado a todas as empresas sobre as decisões da reunião, para iniciar a negociação do preço do tabaco para a próxima safra.
Presidente da Associação de Fumicultores do Brasil (Afubra) | Benício Albano Werner
Quais são os Estados que mais produzem fumo no país?
No Brasil os maiores produtores de fumo são o Rio Grande do Sul (47,8%), Santa Catarina (32,2%) e Paraná (20%).
Ao que se deve essa desvalorização do preço do fumo produzido no Brasil? Talvez a importação?
O Brasil é exportador. A questão de importação é uma quantidade muito pequena. A nossa preocupação está principalmente voltada para o Zimbabwe, uma vez que é um país que vem crescendo muito na produção de Virgínia e é uma produção que faz concorrência com o tabaco do Brasil por ser de muito boa qualidade. Quanto a Índia, tem uma produção de tabaco Virgínia estabilizada e não nos preocupa muito, por ser um tabaco de não tão boa qualidade quanto o brasileiro. Além desses dois países, temos ainda Malawi (maior produtor de Burley do mundo) e Moçambique, que são dois fortes concorrentes ao Brasil, no Burley, também com boa qualidade.
Quanto é importado e quanto de fumo é produzido anualmente no Brasil?
Importado, em 2014, 10.500 toneladas, enquanto a exportação foi de 476.217 toneladas.
A diminuição no número de fumantes e também a proibição de propaganda pode ter uma parcela de “culpa” nessa diminuição do preço do tabaco?
Podemos atribuir a diminuição do consumo de cigarros à três fatores. Um deles é a alta tributação, que gira em torno de 66,63%. Outro fator é o contrabando. E o terceiro fator, a rigorosa legislação que restringe os locais para os fumantes.
Quais são os outros possíveis motivos para essa diminuição do preço?
Os preços sempre têm o ponto chave na oferta e demanda. Na última safra, tivemos uma oferta um pouco acima da demanda. A preocupação maior nossa é em relação ao aumento da produção nos países africanos, trazendo para o produtor brasileiro uma dificuldade quanto à relação no custo de produção, principalmente, no que tange à mão de obra, uma vez que, o valor que no Brasil se paga por uma hora, nos países africanos equivale a oito horas de trabalho.
Há quanto tempo existe o fumo orgânico e qual sua viabilidade de produção?
O percentual de produção de tabaco orgânico ainda é baixo, menos de 5% do total. Quanto ao valor de comercialização o preço fica, em torno de 60% e 80%, mais alto, dependendo da empresa fumageira. Não é uma produção recente; ela iniciou há em torno de 10 anos.
Como o Brasil pode manter um mercado exportador?
Para mantermos um mercado exportador, necessariamente precisamos de agricultura de precisão, produzindo um tabaco de qualidade – que inclui, além de tratos culturais, colhê-lo maduro, cuidados na secagem e uma boa classificação. Essa dedicação vai fazer com que teremos lucratividade e nos manteremos no mercado exportador. Precisamos também ficar atentos às orientações que as sete entidades transmitem – federações da Agricultura (Farsul, Faesc e Faep) e dos Trabalhadores Rurais (Fetag, Fetaesc e Fetaep) dos Estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, e a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) – com referência à oferta e demanda. A lucratividade do produtor também depende em não produzir em excesso.