Nos últimos 20 anos, o bem-estar tornou-se um dos temas mais discutidos pela indústria mundial de proteína animal, buscando formas sustentáveis, éticas e humanitárias de aliar produtividade com respeito aos animais. A produção brasileira de suínos é a quarta maior do mundo, com um abate anual de 46 milhões de cabeças – o que coloca o país como um dos líderes do mercado. Tamanha presença exige que o país assuma uma postura proativa no tema, com uma produção ética e moderna.
Dentre os tópicos que envolvem bem-estar animal, a utilização de celas para gestação de matrizes suínas (porcas) possui grande destaque, haja vista as privações físicas e psicológicas pelas quais os animais passam nesse tipo de confinamento. Atualmente existem alternativas economicamente viáveis para alojar porcas na gestação em grupos e que levam a uma melhora da eficiência reprodutiva e da longevidade dos indivíduos, desde que manejadas de forma correta, demonstrando que animais em equilíbrio com seu meio podem ser mais produtivos do que quando alojados em sistemas de celas.
Pensando nisso, o jornal Sentinela conversou com o agricultor e empresário, Mauro Follmann, de 62 anos, residente na Linha Pessegueiro, interior de Guarujá do Sul. Além de trabalhar na área há 40 anos, possui uma das matrizes mais idosas da região, hoje, com 12 anos. Segundo ele, a fertilidade da fêmea é sinônimo de destaque; depois de criar mais de 300 leitões, está prenha novamente.
“Ela é a mais velha que já tive. Comparando com as outras 145 que estão em Unidade Produtora de Leitões (UPL), a genética é a mesma. O tempo de vida útil de cada uma geralmente varia de quatro a seis anos, depois é descartada, mas essa, continua produzindo perfeitamente. Por esse motivo, continuamos com ela viva”, esclarece explicando que, normalmente, as suas matrizes produzem em média 25 leitões por ano. “Para a suinocultura isso é um recorde”, comemora.
Diferença
Conforme o veterinário do município, José Bozzato Sobrinho, a média produzida na propriedade é distinta. “Ela é muito boa, pois as melhores reprodutoras chegam a 2.6 partos por ano, sendo que o comum é 2,3. Esta matriz não aparenta ter 12 anos, um recorde na suinocultura, pois todos os leitões são saudáveis e padrões”, conta esclarecendo que na região são utilizadas misturas envolvendo porcos brancos, às vezes podendo ser entre Landrace e Large White, entre outros.
A título de curiosidade, o veterinário explica que o tempo de gestação das porcas é de 112 dias, aproximadamente, dando depois à luz entre seis a doze crias, a que se chamam leitões ou bácoros. “Um porco livre, tratado como doméstico, pode viver até mais de 12 anos. Essa porca é tratada como reprodutora, o que não faz dela livre; sendo um dos motivos para que ela seja ainda mais diferente das outras de mesma espécie”, comemora.
Investimentos
Mauro é o único suinocultor guarujaense, com foco em UPL. Além de um grande investidor, trabalha visando a tecnologia, genética e nutrição. Para ele, investir no próprio negócio fez toda a diferença. “Antes de investir nesta propriedade, eu trabalhava em Francisco Beltrão, onde possuía 80 matrizes registradas”, relembra. “Vim para o Guarujá em 1.993, trabalhando com parcerias sobre a margem de lucro. Lembro que em um mês cheguei a tirar 54 salários mínimos, que eram de R$ 100”, continua enfatizando que em três anos de trabalhou com parcerias, lucrou pouco mais de 29 salários mínimos (na época, cerca de R$ 2,9 mil).
Ainda conforme ele, os investimentos na propriedade foram constantes, começando com a compra de apenas 10 leitoas. “Quando iniciei, tinha poucas, mas com o passar dos anos fui aumentando e melhorando a produtividade. Uma delas eu descartei com 10 anos de vida, que era uma das mais velhas que tinha, até essa de 12. Com os anos, fui investindo e ampliando o espaço. Hoje, tenho todos os leitões e fêmeas vindos de fora. 30 dias após o nascimento já são transportados para outro lugar”, finaliza complementando que possui a ajuda de um funcionário para executar o trabalho da propriedade.