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23/10/2020 às 14h19min - Atualizada em 23/10/2020 às 14h19min

Queda na vacinação

Coluna de opinião do jornal impresso

Larissa Dias
Da redação
O sonho de qualquer cidadão hoje é acordar com a notícia de que a vacina contra o coronavírus chegou e a campanha de imunização vai começar. Mas veja só que ironia: esperamos tanto por ela e deixamos de tomar aquelas já consagradas e disponíveis para prevenir outras doenças há décadas. Sim, precisamos abrir os olhos para os baixos índices de vacinação por aí, sobretudo no que diz respeito às crianças – uma situação ainda mais agravada pela pandemia. Tanto é que a Organização mundial da Saúde (OMS)e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef)emitiram um alerta sobre a interrupção das imunizações destacada pela Covid-19.
                Uma pesquisa dessas entidades em colaboração com universidades americanas mostra que 73% dos países avaliados tiveram algum tio de suspensão ou restrição em seus programas de vacinação já em maio de 2020.As limitações envolvem desde o medo de as pessoas saírem de casa até a falta de profissionais de saúde dedicados ao serviço. Os dados focados na população infantil impressionam; a probabilidade de uma criança nascida hoje receber todas as vacinas recomendadas até os 5 anos é inferior a 20%. Esse cenário pode colocar em risco cerca de 80 milhões de bebês com menos de 1 ano de idade.
                O Brasil não foge à regra. Pior; há evidências de que a queda na vacinação infantil vem ocorrendo antes mesmo de a Covid19 chegar. De acordo com um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que analisou a cobertura vacinal brasileira de 1994 a 2019, o índice de meninos e meninas menores de 10 anos vacinados caiu entre 10 e 20% no país desde 2016.  “É um fenômeno mundial, e o que estamos vendo agora por aqui é a piora de um quadro que já era preocupante” afirma o infectologista pediátrico Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Pediátrica de São Paulo (SPSP). Embora o levantamento da Fiocruz tenha englobado todas as faixas etárias, as maiores baixas ocorrem justamente com as vacinas indicadas às crianças. A tríplice bacteriana, que previne tétano, difteria e coqueluche, sofreu uma redução de 34% - de 4,5 milhões de doses aplicadas em 2017 para 2,9 milhões em 2019.
                Preocupado com a situação, o médico Marcelo Ostsuka, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia, analisou os números do Sistema de Informações e descobriu que, em 2019, a cobertura de dez imunizantes aplicados em bebês de até 1 ano ficou abaixo do recomendado para manter as doenças sob controle. Estamos falando de vacinas que protegem contra tuberculose, hepatites, rotavírus, poliomielite, febre amarela, e enfermidades provocadas por bactérias pneumocócicas e meningocócicas.
                Mas como é que o Brasil, que um dia foi exemplo de vacinação infantil, caiu nesse estado? Os especialistas batem na tecla de que as gerações atuais desconhecem a gravidade das infecções combatidas pelas picadas e gotinhas e desvalorizam a importância. Ora, é bem provável que você nunca tenha visto uma criança sofrendo as consequências da paralisia infantil, já que o ultimo caso registrado de pólio no país é de 1989. Mas pergunte a seus pais ou avós. Talvez eles se lembrem das sequelas terríveis da doença. “Além disso, hoje temos o problema das fake News”, aponta Sáfadi. A suposta invisibilidade se soma a teorias e posts sem pé nem cabeça... E quem paga o preço são os pequenos.

Texto de Maria Tereza Santos - publicado na revista Super Interessante
Por Odila Flach 
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