Em julho deste ano, o Sentinela fez uma reportagem intitulada “Capiaçu: uma alternativa para os pequenos produtores”. Na reportagem, o agricultor palmassolense, Vanderlei Pies, relata como conseguiu diminuir seus custos de produção e aumentar a rentabilidade através do capiaçu.
Agora, o Sentinela entrevistou o responsável pela Epagri na região norte do Extremo Oeste de Santa Catarina, Jonas Marcelo Ramon. Jonas tem 43 anos é Técnico Agrícola, Engenheiro Agrônomo especialista em bovinos, Mestre em Zootecnia e trabalha principalmente com pecuária de leite e corte.
Ele fala sobre as vantagens do capiaçu, e outras alternativas para tornar a atividade leiteira mais lucrativa e atrativa para os produtores.
O capiaçu, de fato, é uma alternativa para os pequenos produtores? Sim, uma excelente alternativa, visto que chega a produzir duas ou três vezes mais volume do que o milho. Porém o capiaçu tem baixa qualidade, então ele tem pouca energia e pouca proteína. Por isso, na hora de fazer a dieta animal é preciso corrigir esta deficiência de baixa energia com mais milho e da baixa energia com farelo de soja.
A alternativa mais viável acaba sendo a mistura com o milho, fazendo a implantação correta consigo correr junto o capiaçu para dar volume e o milho para dar qualidade, com isso temos, inclusive, uma fermentação melhor.
O capiaçu tem potencial para substituir a silagem de milho? Afinal o milho é um cereal, enquanto o capiaçu é um capim. Com certeza tem potencial, em propriedades onde o problema é volumoso. Ele entra muito bem para animais confinados, que precisam de muito volumoso para manter a atividade natural e adequada de rúmen, com pH de rúmen bom.
Então o capiaçu é uma excelente alternativa, por ser uma cultura perene evita o custo de todo o ano comprar um saco de sementes, como acontece com o milho. Hoje o custo da saca do milho está por volta dos R$ 1000, então essa é a primeira economia que você tem, mas tem que ter o cuidado pois é uma planta extremamente produtiva e por consequência extremamente exigente em fertilidade de solo, principalmente em nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K).
É cada vez mais comum encontrarmos pequenos produtores que estão deixando a atividade da leiteira. Por que? O que percebemos é o seguinte, a baixa remuneração por atividade. Nessa época do ano já temos produtores recebendo próximo a R$ 2 e esse é praticamente o custo de produção.
É uma atividade que exige muita mão de obra e conhecimento. Então todos os dias, sábado, domingo, de manhã e de tarde para extração do leite.
Essas intempéries climáticas têm tornado cada vez mais difícil produzir leite o ano todo. É estiagem, chuva de pedras ou uma chuva de mais, e isso tem aborrecido os produtores.
O que também percebemos é que, para quem trabalha de forma profissional, com produção intensiva de leite à base de pastagens, com baixo custo, a atividade continua sendo viável. Para quem tem a propriedade organizada em relação a criação de bezerras, terneiras, novilhas, vacas secas e das vacas, essa atividade não dá tanto trabalho, quanto nos locais onde você tem que ficar puxando corda pra lá e pra cá, levando a vaca pra sombra, depois pro sol e depois pra água e assim por diante. Muitas vezes você fica “passeando” muito tempo com o animal e isso é perda de tempo.
Quem tem a propriedade organizada, bem planejada, com sistema um de produção baseada em pastagem e água nos piquetes, sombreamento, produção racional de bezerras, terneiras e novilhas, está muito bem.
Que alternativas temos para tornar as pequenas propriedades mais rentáveis, aumentar a qualidade de vida dos agricultores e mantê-los no campo? Hoje tem surgido inúmeras alternativas, uma delas é o capiaçu, não serve para todas as propriedades, mas serve para algumas.
Uma importante alternativa é a produção de silagens de grão úmido, ao invés de ensilar a planta inteira, ensilar apenas o grão de milho, para que o agricultor não dependa mais de comprar ração de fora da propriedade. Isso baixa bastante o custo e você consegue ainda preservar o solo, já que, ao colher o grão úmido fica no campo toda parte de folhas, haste e sabugo na lavoura, isso recupera o solo.
Outra alternativa que a Epagri trabalha bastante são os silos ventiladores de ventilação forçada, que fazem com que a gente armazene o grão seco na propriedade. Assim há a possibilidade de comprar o grão em épocas que estiver mais barato, armazenar e fazer a ração em casa.
Mas posso destacar aqui o sistema silvipastoril. Onde temos pastagens integradas com eucalipto e um sistema de piquetes, para que você forneça aos animais pasto de qualidade, sombra para promover o bem estar animal e água à vontade durante todo o dia. Propriedades que a gente acompanha, as Unidades de Referência Técnica, que conseguem deixar os animais no piquete com pastagens 22 horas por dia. As vacas só saem do piquete duas horas por dia para tirar o leite de manhã e de tarde.
Então se eu tenho isso organizado, pelo menos 50/60 piquetes dessa forma, com pato sombra e água a atividade da manos trabalho e mais qualidade de vida para quem trabalha com ela.
Na nossa região, o que você tem visto que serve como exemplo para outros produtores? O que temos visto como referência para outros produtores é tratar essa atividade como um negócio para dar dinheiro e assim deve ser administrada. Então o primeiro ponto é esse, fazer a boa gestão da propriedade, independente do sistema de produção, se é confinado ou a pasto.
Tem que anotar os custos de produção, tem que acompanhar a produção de cada vaca pra saber quem é quem e focar em melhoramento genético.
Trabalhar essa atividade como um negócio, essa é a dica. A partir daí o produtor irá tomar as decisões corretas, baseada em dados, não em achismos e muito menos baseado no que o vizinho está fazendo. O produtor precisa fazer o que é correto para que sobre mais, para saber se é mais viável criar novilhas ou criar novilhas de fora, se deve confinar as vacas ou é melhor criar a pasto e qual dos sistemas traz custo mais baixo. Esse é o ponto, pois a produção sempre vai ter, mas algumas propriedades vão ter resultados positivos e outras têm resultados negativos.
É preciso aproveitar as experiências dentro da propriedade, o que está dando certo e o que não está. Aí entra novamente o sistema silvipastoril, com piquetes e produção intensiva. Não é só um pastinho, mas sim um sistema de produção a base de pasto perene, para que não tenha erosão de solo, e principalmente com bem estar animal para que as vacas produzam mais.
Trabalhando isso junto da boa gestão o resultado vem. Ai as variações de mercado, como o leite chegar a R$ 4 no inverno e R$ 2 no verão, acabam prejudicando menos o produtor, porque no preço do leite ele não pode mexer, mas dentro da porteira ele pode produzir mais com menos recursos e dependendo menos de insumos externos.
Receba as notícias do Portal Sentinela do Oeste no seu telefone celular! Faça parte do nosso grupo de WhatsApp através do link: https://chat.whatsapp.com/Bzw88xzR5FYAnE8QTacBc0 Siga nosso Instagram: https://www.instagram.com/jornalsentinela/