16/06/2023 às 10h57min - Atualizada em 16/06/2023 às 10h57min

A colheitadeira do seu Werne

Depois de construir plantadeiras manuais e movidas a tração animal, seu Prademir Werne está concluindo, após 15 anos, seu projeto mais ambicioso, uma colheitadeira

Campo Erê
Da redação
ASO/Sofia Bertolin
 
Prademir Antonio Werne tem 60 anos, ele mora no município de Campo Erê e há 15 anos trabalha no desenvolvimento de uma colheitadeira. Agora a colheitadeira está pronta. Seu Werne, como é mais conhecido, nasceu em Aratiba-RS e se mudou para Campo Erê-SC em 1990, com 28 anos. Foi nessa época que ele vendeu sua primeira invenção, a Saraquá. Uma ferramenta de plantio manual. A ferramenta começou a ser desenvolvida por Prademir aos 14 anos.
“Dentro da família nunca fui compreendido, como eu não desenvolvia bem o trabalho na agricultura, minha família e vizinhos me viam como um vadio. Gostava muito de mexer com ferramentas, essa parte mecânica. Hoje nós observamos os nossos filhos e procuramos incentivar e desenvolver as habilidades deles. Na época isso não acontecia. Se eu desafiasse alguma ferramenta do meu pai eu apanhava. Mas sempre soube o que queria fazer, senti que precisava ir nessa direção do inventivo”, relata Werne, que estudou somente até a 5ª série.
Mesmo com alguns percalços, aos 14 anos ele começou a desenvolver o Saraquá. Foram 14 anos de desenvolvimento. A primeira ferramenta foi vendida quando nasceu Ane, filha de Prademir. “Lembro que fui vender a máquina para uma agropecuária em Erechim, eles compraram 30. Quando voltei para casa sabia que estava no caminho certo. Era a plantadeira manual Saraquá, eu tinha conseguido patente, então sobrou um dinheirinho, então comprei uma secadora para secar as roupinhas da Ane”, relembra.
Além de comprar a secadora, com o dinheiro das vendas, Werne começou a investir na sua nova invenção: uma plantadeira movida a tração animal. A grande diferença da ferramenta de Werne para as demais é que ela passava onde outras plantadeiras não passavam, como nas ladeiras. As vendas da plantadeira começaram em 1997, após sete anos de desenvolvimento.
Em seguida, fiz uma máquina de tração animal, que passava onde outras plantadeiras não passavam. Em 97 produzi 17, no segundo ano fiz 500, a demanda era muito grande. No terceiro ano fiz 1.500. Nesse ponto outras empresas começaram a fabricar. Entre 2000 e 2001 fiz 6500 máquinas, mas meus concorrentes produziam bem mais.
“Os modelos anteriores a minha tinham correntes para engatar na traseira do animal, então na ladeira a corrente deslizava. A minha era como um arado, tinha uma junta de bois que segurava a plantadeira. Então onde o boi passava dava de plantar. Ela era bem leve para se trabalhar, e havia uma parte articulada entre os braços do arado, fiquei 7 anos trabalhando. Acredito que vendi umas 35 mil dessas”, conta. Foi nessa época que a família de seu Werne reconheceu todo seu trabalho duro e esforço.
Durante a produção das plantadeiras, Werne enfrentou dois grandes desafios: a falta de insumos para produzir as máquinas e o plágio. De acordo com Werne, antes mesmo de começar a pensar em produzir as plantadeiras, era necessária muita organização para conseguir as peças.
Em relação ao plágio, Werne correu atrás do prejuízo através de advogados, mas ele explica que saiu insatisfeito com a justiça brasileira. “Eu tinha a patente da primeira e da segunda. Tive 20 processos de patentes, ganhei 13 causas, duas eu perdi e em cinco reconheceram que copiaram. Mesmo com as causas ganhas não recebi nada, além disso tirei dinheiro do bolso para pagar advogados e viagens”. 
 
A colheitadeira
Depois das plantadeiras, seu Werne começou a desenvolver uma colheitadeira. São 15 anos de desenvolvimento e agora, neste ano, faltando apenas alguns ajustes, pode-se dizer que ela está pronta. Ela é pequena, 4x4, é leve, muito simples, com peças de mercado, nada de exclusivo. Sua simplicidade a torna mais fácil de produzir, com menos mão de obra e de fácil manutenção.
“Um dos problemas era a falta de palha, que fazia com que a colheitadeira jogasse o milho fora, mas andando em uma velocidade maior o problema foi resolvido. Agora eu tenho uma máquina que serve para até 800 sacas de milho e outra para 2 mil sacos de milho por dia. Posso dizer que o custo das duas é praticamente o mesmo. Com a máquina maior não se pode andar em uma velocidade maior por conta da segurança, então montamos um sistema que estrangula a palhada, então agora as colheitadeiras contam com um sistema de regulagem. Mais pra frente, a ideia é que esse sistema seja automático, ou por velocidade ou por sensor de perda de grãos”, explica seu Werne.
Segundo ele, os componentes que formam a colhedora não foram criados do zero. São peças e mecanismos já existentes, que foram reorganizados. “No ano passado éramos o quarto fabricante de máquinas que poderiam atingir porte no mundo, mesmo não tendo uma máquina pronta. Tenho ciência de quem eu sou e do quão rara é a minha situação. Para minha colheitadeira hoje, a imaginação é o limite, podemos fazer uma máquina ainda maior, é uma questão de medidas e potência de motor”, enfatiza.
Na colheitadeira foram investidos mais de R$ 12 milhões, conforme explica Werne, o valor de investimento acima do orçamento, fez com que ele se desfizesse de alguns bens e mantivesse dívidas ativas. Ele afirma que não se orgulha de suas criações, segundo ele, fazer essas máquinas é sua função. Werne se vê como um espírito inventivo, que vê além do que os olhos podem ver. “Tenho três bandeiras na minha vida: viva do seu suor, respeite o suor do outro e não atrapalhe ninguém. Sei que estou atrapalhando algumas pessoas, por não conseguir completar a colheitadeira no tempo que eu preciso”, esclarece seu Werne, lembrando de negócios que fez com um pessoal do Acre, que esteve em Campo Erê.
“Não sei se fico contente por começar a ter algum ganho ou por terem se interessado pelo que fiz, por terem dado valor à colheitadeira. Esse é um resumo da minha história”, brinca Werne. “Tive um grande aprendizado construindo a colheitadeira e o melhor, que é ver as pessoas usufruindo da minha criação, ainda está por vir”, finaliza

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