Interpretação, uma dificuldade geral da nação

Uma das coisas mais encantadoras e assustadoras de lidar com seres humanos é se deparar, na prática, com a pluralidade de perspectivas na hora de analisar um fato. Enquanto psicóloga estou muito acostumada a lidar com um ângulo das coisas (a visão do paciente), e que na conversa já se transformam em dois ângulos diferentes (o angulo do paciente e a interpretação que fazemos em cima disso). Mas quando vamos para o mundo fora do ambiente terapêutico, as coisas tomam uma dimensão ainda maior, pois todos têm a própria interpretação dos fatos: quem estava diretamente envolvido (pelo menos duas pessoas), quem ouviu falar sobre a situação, quem estava por perto e viu parte do que acontecido, e até pessoas que não sabem de 1/10 da história, mas que decidem que podem ter uma opinião e que devem falar ela para todos ao seu redor.
Nesse mundo de interpretações, visões, e opiniões, ser racional e prático parece cada vez mais difícil. É como se estivéssemos vendo ao vivo a capacidade de pensar racionalmente fugir das nossas mãos. As coisas são analisadas de forma superficial, sem embasamento, tomando como verdade os achismos da vida cotidiana, sem qualquer aprofundamento no assunto sobre o qual se quer emitir opiniões.
Bom, se considerarmos que qualquer mensagem mais longa já é chamada de “textão”, já podemos ter uma noção do quão longe isso já foi. Acho que precisamos reaprender a interpretar. Precisamos exercitar nossas capacidades de esmiuçar uma frase, para de fato entender o que está sendo perguntado, e só então nos propormos a responder.
Enfim, espero que a paciência e a boa vontade na hora de gastar alguns minutos pensando em algo ao invés de apenas cuspir ideias possa voltar a reinar em algum momento.
 
Por: Fran Perondi

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